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Prost sobre Senna: 'manipulador' e 'possuído'

Alain Prost relembra Ayrton Senna em documentário

Prost sobre Senna: 'manipulador' e 'possuído'

Três décadas após a morte de Ayrton Senna, Alain Prost segue tentando compreender o brasileiro que foi seu maior rival. No documentário francês Prost, lançado pelo Canal Plus, os três episódios finais são quase inteiramente dedicados à intensa rivalidade entre os dois. Pela primeira vez, o tetracampeão mundial se aprofunda tanto no relacionamento com Senna, destacando os altos e baixos dessa convivência marcante.

Apesar das disputas acirradas, Prost recorda o rival com admiração, especialmente pela reconciliação ocorrida nos últimos meses de vida de Senna. Na sala de estar do francês, há uma foto dos dois juntos e uma estatueta que os retrata no pódio, simbolizando a ligação entre eles.

O documentário, uma biografia autorizada, apresenta uma visão mais íntima de Prost, em contraste com a série Senna, da Netflix, que o retrata como antagonista. Entre revelações e confissões, Prost menciona momentos emblemáticos, como o acidente em Suzuka, em 1990, que quase culminou em um confronto físico. "Só não dei um soco porque percebi que um telão estava nos filmando", relembra.

Prost descreve Senna como um “segundo irmão”, um vínculo emocional comparável ao que tinha com seu irmão de sangue, Daniel, que faleceu precocemente aos 33 anos. O documentário também explora a origem humilde de Prost, mostrando como ele ascendeu no mundo do automobilismo graças ao talento excepcional e à habilidade política.

Apesar de todo o sucesso, Prost se apresenta como um homem ressentido, revisitando episódios de sua carreira que o deixaram magoado. Entre as queixas, destaca o apelido "Anão Amarelo", dado pelos franceses em 1982, e acusações de que Nelson Piquet teria conquistado o título de 1983 com combustível adulterado. "A Renault não quis protestar e vencer no tapetão", lamenta.

Senna, por sua vez, é lembrado como alguém que desafiava Prost em níveis profundos. Desde o início da parceria na McLaren, em 1988, a relação foi marcada por episódios de tensão. Prost recorda o almoço em sua casa, quando Senna o tratou com frieza. Mais tarde, soube que o brasileiro temia que uma amizade pudesse enfraquecê-lo.


Outro aspecto que fascina e inquieta Prost é o misticismo de Senna. "Ele acreditava que Deus o protegia. Como competir de igual para igual com alguém que pensa assim?", questiona. Além disso, Prost afirma que a Honda favorecia o brasileiro com motores superiores, algo que ele diz ter comprovado em várias ocasiões.

Um dos momentos mais emocionantes do documentário é a transformação na relação entre os dois no final de suas carreiras. No pódio do GP da Austrália de 1993, última corrida de Prost e última vitória de Senna, o brasileiro o puxou para o degrau mais alto, um gesto que marcou o início de uma amizade inesperada. Nos meses seguintes, os dois passaram a conversar frequentemente, compartilhando confidências sobre suas experiências na Fórmula 1.

No fatídico fim de semana de Ímola, em 1994, Prost percebeu um Ayrton diferente, mais vulnerável e introspectivo. Dias após o acidente que tirou a vida de Senna, Prost foi chamado pela família do brasileiro para visitar seu quarto em São Paulo. Lá, encontrou fotos suas guardadas por Senna desde a época em que corria de kart. “Disseram-me que Ayrton tinha um profundo respeito por mim e que nunca parava de pensar em mim.”

Ainda hoje, Prost recebe mensagens diárias sobre Senna. "Se eu apagar Ayrton da minha história, apago parte da minha vida", conclui. É essa conexão profunda e ambígua que Prost explora, revelando como a rivalidade entre dois gigantes do automobilismo transcendeu as pistas e se transformou em uma das narrativas mais humanas do esporte.

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