Cada vez mais escutamos casos de infarto em pessoas do nosso convívio. As doenças cardiovasculares são as que mais matam em todo o mundo. No Brasil cerca de 70 mil brasileiros morrem anualmente de infartos. De acordo com especialistas, esse número reflete ao estilo de vida das pessoas: sedentarismo, má alimentação, sobrepeso, obesidade e estresse. Por outro lado, houve aumento em pesquisas na tentativa de aprimorar técnicas, procedimentos e tecnologias para reverter o quadro. Goiânia recebeu ontem (19) a mais recente inovação da área, considerada evolução de tratamento de doenças coronarianas, o stent absorvível.
Com sintomas de infarto e fortes dores, Francelino Alves de Jesus, 66, realizou procedimento há oito anos para a implantação de uma ponte de safena e duas mamárias. Ele também é portador de diabetes. “Na época meu pai fez aquela cirurgia invasiva que fez um corte no tórax”, afirma Leandro Alves, filho de Francelino.
Já nesse ano, Francelino de Jesus não conseguia fazer a tradicional caminhada diariamente, com sintomas de infarto, ele procurou o médico que passou exames para verificar a real situação das veias coronárias. Com isso, foi detectado que havia algumas veias obstruídas. Sendo assim, Leandro explica que o médico recomendou a realização da cirurgia, com a introdução de stent absorvível. “Meu pai ficou cerca de cinco meses aguardando na lista de espera para a realização desse procedimento”, explica Leandro. Francelino e mais duas pacientes foram os primeiros a receber esse novo stent, em Goiás.
Os três primeiros pacientes são do Sistema Único de Saúde (SUS) e as cirurgias feitas gratuitamente, através de material doado pelo laboratório Abbot. Ainda não está disponibilizado pela rede pública, a recomendação é para casos de complexidades distintas. Porém dependendo da gravidade do caso, outros procedimentos mais emergenciais, são mais indicados.
Stent absorvível
O dispositivo já foi realizado em cerca de 100 mil pacientes em todo mundo, mas só foi liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil, no início do ano. Por ser feito de ácido polilático é considerado uma evolução do seu antecessor de metal e tem a vantagem de que entre dois e quatro anos após a implantação, é totalmente absorvido ou “digerido” pelo organismo.
O procedimento foi realizado no hospital Encore pelo cardiologista Maurício Prudente, juntamente com o cardiologista Fábio Sandoli de Brito Jr, do Hospital Albert Einstein de São Paulo. É feito através de punção no punho, ou seja, sem cortes ou abertura do tórax, com anestesia local e apenas sedação, com a duração de 30 a 60 minutos.
Após o implante o stent tem o papel de comprimir a gordura (placa aterosclerótico) presente na parede dos vasos, sustentar esse vaso aberto e liberar simultaneamente o medicamento que regula cicatrização da lesão tratada, de forma a sanar o problema naquele local.
Doença silenciosa
O infarto acontece em razão do acúmulo de gordura, cálcio e células sanguíneas nas paredes das artérias coronarianas, a placa aterosclerótica, as quais são responsáveis por levar o sangue e oxigênio para o músculo cardíaco. Para o médico Maurício Prudente, com as artérias obstruídas, aquela parte do coração para de funcionar e levando ao infarto.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 17 milhões de pessoas morrem todos os anos em decorrência de Infarto do Miocárdio (IM) e Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs), conhecidos como derrames cerebrais, no planeta. Embora a doença pode vim com alerta de alguns sinais, como dores no peito (podendo ser no estômago, queixo, garganta, ombro e até nas costas), falta de ar, palpitações, suor frio e profuso, seus sintomas podem passar despercebidos pelos pacientes. O que pode acabar colaborando aos números de óbitos relacionados à doença.
A doença considerada também silenciosa pode vim de uma tendência familiar genética e também por anos de má alimentação, sedentarismo, sobrepeso, obesidade, estresse e vícios, como o tabagismo.
De acordo com o cardiologista intervencionista Maurício Prudente, o número de ocorrências de infarto vem crescendo especialmente pelo estilo de vida atual, falta de prevenção, aumento da obesidade e do diabetes. Mesmo assim, o médico afirma que em relação a década de 80, a mortalidade vem caindo em razão da evolução dos tratamentos e conscientização do paciente. “Isso tem evitado os casos de re-infarto, que são muito prováveis de acontecer se o paciente não aderir ao tratamento e mudar o estilo de vida”, conclui.
Cuidado
O médico Maurício explica que a partir de 40 anos, é necessário fazer avaliação com cardiologista para checar os níveis de colesterol e outros marcadores bioquímicos, além de eletrocardiograma e teste de esteira. Através desses exames, é possível detectar uma possível obstrução na artéria.
Maurício ainda alerta que o stress é o fator que trouxe as mulheres para as estatísticas do infarto. “Depois de sua entrada para o mercado de trabalho e acúmulo de funções juntamente com o cigarro”, afirma. De acordo com o cardiologista, o stress pode ser o gatilho para desencadear a formação de coágulos no sangue, a gota d’água que faltava para entupir a artéria, seja no coração, cérebro ou qualquer outro órgão do corpo.
Para quem já possui histórico familiar ou diabetes deve começar o acompanhamento mais cedo. Além de ter cuidados básicos preventivos, como: evitar o cigarro, sedentarismo, sobrepeso, obesidade e stress.
Stent Bioabsorvível Absord
É um pequeno dispositivo de 2,5 a 3,5 milímetros de diâmetro e 12 a 28 milímetros de comprimento, o tamanho aproximado de uma mola de caneta. O Stent Bioabsorvível Absorb também tem o papel de manter a artéria, que é elástica, aberta. Na medida em que ela permanece desobstruída ao longo do tempo, o dispositivo é gradualmente absorvido. “A função da parede vascular é restaurada e o fluxo coronário melhorado. Tudo isso propicia regressão da placa, recuperação da função vasomotora e reduz a chance de reincidências”, afirma Maurício Prudente.
Ele também explica em relação ao stent metálico que apesar de ser um tratamento consolidado, eficiente e com segurança já comprovada, o dispositivo de metal tem caráter definitivo, o que pode ser um obstáculo a eventuais necessidades diagnósticas ou terapêuticas futuras. “É como se o local ficasse engessado, comprometendo a maleabilidade característica das artérias”, afirma o cardiologista Maurício Prudente.