Nayara Reis
De acordo com o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE), o Brasil possui 21 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Desse número, 4,5 milhões ainda trabalham, quase 22% do valor total.
Para entender a relação entre envelhecimento e trabalho, Edgard Pitta, da consultoria em carreira Alfa Centauri), desenvolveu a pesquisa “Desafios e Oportunidades de Carreira na Maturidade”. Os dados foram obtidos em 2015 por meio de um questionário online envolvendo 261 profissionais com mais de 35 anos. Os números aferem que apenas 1 em cada 5 entrevistados com mais de 50 anos está empregado, frente a 1 em cada 2 no caso dos trabalhadores abaixo dos 49.
Já entre os que passaram dos 60, somente 1 em cada 20 tem um emprego. “Com a crise, estes números tendem a piorar. Olhando para outros países os trabalhadores mais jovens e os de idade avançada são os que mais sofrem quando aumenta o desemprego”, aponta Edgard Pitta. Segundo os entrevistados, entre os fatores que contribuem para esse cenário está o modo pelo qual o profissional mais velho é visto pelo mercado. “Embora eles sejam percebidos como mais experientes, comprometidos e sábios, por exemplo, também são considerados menos flexíveis, defasados em relação às novas tecnologias e fisicamente frágeis”, comenta o consultor.
Complemento
José da Conceição, hoje tem 65 anos e se aposentou em 2011, até então trabalhava com carga e descarga de caminhões. Ele explica que de um tempo pra cá se viu em uma situação financeira ruim, e precisou dar um jeito para complementar a renda doméstica. “Voltei a trabalhar pra ajudar um pouco mais com as despesas, o dinheiro da aposentadoria é bem pouco e não tem contribuído muito. Então há seis meses decidi vender água mineral nos semáforos da cidade, e tem dado certo, está ajudando bastante mais esse dinheiro no final do mês”, conta.
A pesquisa, proveniente da dissertação de mestrado de Edgard Pitta, também constatou que nenhum dos entrevistados quer deixar o trabalho. A aposentadoria aparece apenas como um mecanismo de complementação de renda ou segurança, caso não consigam manter-se economicamente ativos. “Uma das soluções encontradas é o trabalho autônomo. Além disso, foi possível verificar que a satisfação profissional dos que passam a trabalhar por conta própria é maior em relação aos atrelados a empregos formais”, revela o sócio-fundador da Alfa Centauri, que completa: “Embora os dados sejam resultado de uma amostragem por conveniência, eles representam um recorte verdadeiro da sociedade. É preciso que o governo desenvolva políticas públicas para a reincorporação e manutenção dessas pessoas no mercado de trabalho”.
Outra pesquisa, desta vez, do jornal inglês International Journal of Epidemiology, o envelhecimento populacional é um fenômeno mundial e a cada ano esse processo se torna maior, principalmente nos países em desenvolvimento, podendo ocorrer um aumento de até 300% no número de pessoas idosas, especialmente na América Latina. Para as empresas, surge com isso, um novo público e uma possibilidade de expandir os negócios. Além de formar hoje 14% da população brasileira, que deve chegar a 30 milhões até 2020, o poder de compra de pessoas com mais de 60 anos é promissora, e alcança R$ 2,4 bilhões ao ano, já que 70% do orçamento é gasto com saúde, conforto e alimentação.
Empregabilidade
Para a psicóloga organizacional e analista de Recursos Humanos(RH) Márcia Nascimento, o mercado em Goiás não muito receptivo para idosos! Em uma viagem recente que fez a Orlando nos EUA, por exemplo, ela conta que presenciou várias parques, fast foods e diversos estabelecimentos repletos dessa mão de obra. “Atualmente não possuo vagas para idosos. Já percebi inclusive casos de empresas que delimitam a idade, mesmo que não informem isso no chamado de vaga”, explica.
Ela lembra que os cargos que mais favorecem essas pessoas estão relacionados a consultoria e gerência, ou seja, exigem mais experiência do individuo. “Uma rede colchões no início do ano contratou um gestor, no qual tinha que ter mais de quarenta anos, além de cursos e histórico de liderança e empreendedorismo”, explica
Marcia cita algumas dicas para quem quer se manter no mercado de trabalho ou encontrar novas oportunidades. “Faça atualizações constantes, cursos, MBA, delimitar a área de atuação e ser bom no que faz. Recentemente uma empresa de Brasília deram várias oportunidades para pessoas acima de 50 anos, isso devido ao cuidado que os mesmos demonstram com o serviço”, avalia. Para ela ,em muitos dos casos, esses profissionais não demonstram muita rotatividade e gostam de rotinas.
A crise econômica tem afetado diretamente essas pessoas, nota-se isso quando observamos que a demanda de pessoas à cima dos 50 anos em busca de colocações no mercado de trabalho também tem crescido. A analista de RH ela conta que tem recebido muitos currículos. “Na grande maioria das vezes, essas pessoas dedicaram muito tempo a empresas e foram remanejados devido a salários mais altos e a dificuldade que algumas empresas estão enfrentando”, diz.
Trabalhando legalmente
A advogada que atua na área previdenciária, Elida de Araújo Correia, explica que há alguns casos em que o aposentado não pode trabalhar, isso deve depender da natureza dessa aposentadoria. “Se a aposentadoria for por idade ou por tempo de contribuição, está pessoa pode receber a aposentadoria e continuar no mercado de trabalho. Porém vai continuar recolhendo as contribuições ao INSS deste vínculo. Mas se esta pessoa receber, por exemplo, uma aposentadoria por invalidez, não pode continuar a trabalhar até porque é um benefício por incapacidade”, ressalta.
Elida faz outra ressalva quanto a aposentadoria especial, uu seja, aquela em que a pessoa se aposenta com menos tempo de contribuição em razão de ter trabalhado exposto a algum agente prejudicial a sua saúde ou integridade física. “Neste caso, o individuo pode continuar a trabalhar, mas não na mesma função exposto aos agentes prejudiciais”, esclarece.
Quanto a empresas que limitam idade como pré requisitos para vaga, a advogada lembra que é uma questão peculiar, e deve ser tratada caso a caso. “Se isso não significar alguma discriminação, e for em decorrência de condições físicas por exemplo, necessárias ao trabalho não há o que ser feito. Mas caso se prove que houve essa descriminação, a empresa ser processada.”, explica.
Elida ainda cita que, conforme o artigo 51 da lei 8.213/91, existe também a aposentaria compulsória que é aquela em que a empresa pode requerer a aposentadoria compulsória do empregado que tenha cumprido o período de carência (15 anos) e completado 70 anos homem e 65 mulher.