Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil
Um selo com até cinco estrelas estampadas em embalagens de alimentos industrializados tornou-se um aliado do consumidor. Na Austrália, um dos países com mais obesos no mundo, a iniciativa ajuda famílias a escolher melhor o que comer, entre os alimentos ultraprocessados – aqueles prontos ou quase prontos, como pizzas, lasanhas, biscoitos recheados e refrigerantes.
Para que não estraguem e tenham boa aparência, esses produtos passam por procedimentos que retiram nutrientes naturais e alteram sua composição. Por causa da adição extra de sal/sódio, açúcar ou gorduras, os alimentos ultraprocessados são prejudiciais à saúde e estão relacionados a doenças como obesidade e hipertensão. Na Austrália, (63% dos adultos estão acima do peso ou é obesa. No Brasil, o índice da população com sobrepeso atinge 52%.
Em Curitiba para a 22º Conferência de Promoção da Saúde, uma das idealizadoras da iniciativa na Austrália, a professora da Universidade de Wollongong, Heather Yeatman, explica que a ideia foi demanda do governo daquele país, pressionado pela sociedade civil. Traduzindo um modelo estatístico que avalia os ingredientes da cada produto, o sistema classifica os alimentos com uma escala que vai de meia a cinco estrelas, colocadas na frente do produto.
Segundo a especialista, as informações nutricionais no verso dos produtos – já previstas naquela país, assim como no Brasil – não são compreensíveis para o consumidor escolher o que comer ou deixar na prateleira do supermercado. “Essas informações vêm em letras pequenas, difíceis de ler, no verso, e são difíceis de interpretar [por quem não é especialista]”. Já as estrelas da classificação traduzem essas informações nutricionais de forma clara, por assimilação, acrescentou.
Com adesão voluntária da indústria de produtos ultraprocessados – os cereais matinais foram os primeiros –, as estrelas acabaram provocando concorrência no setor, conta a australiana. “As empresas começaram a alterar a composição de seus produtos para torná-los melhores”, disse ela.
Aliada à promoção da alimentação saudável e da regulação da publicidade desse tipo de produto, é uma importante estratégia para ajudar a enfrentar problemas de saúde como obesidade, destaca a professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Inês Rugani. Ela defende mudança na nossa legislação para que informações do tipo constem nos rótulos brasileiros.
“Eles chegaram a um ponto em que conseguiram identificar que produtos abaixo de 2,5 estrelas não eram recomendados para a saúde, e orientaram as campanhas para que as pessoas só consumissem aqueles acima de três estrelas no mínimo”, disse Inês. Ela também acredita que a publicidade influencia o consumo de ultraprocessados e deve ser restingida.
No Brasil, pesquisa recente mostra que mais de dois em cada grupo de dez adolescentes estão acima do peso. O Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica), financiado pelo Ministério da Saúde, divulgado recentemente, diz também que 20% dos adolescentes hipertensos, entre 12 e 17 anos – estimados em 200 mil – poderiam não ter a doença, se não fossem obesos.