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Mercado mundial alerta sobre carne brasileira

O ministro da agricultura, Blairo Maggi, comentou ontem os efeitos da operação desencadeada pela Polícia Federal intitulada “Carne Fraca”, que na sexta-feira desmantelou um complexo esquema que flexibilizava a fiscalização e qualidade na produção de carne bovina e suína, além de frangos. Para ele, o País recuou “umas 10 casinhas” no tabuleiro do mercado mundial da carne.

Ele próprio ligado à produção rural teve trabalho redobrado para conseguir minimizar os efeitos do vendaval causado pela maior operação da Polícia Federal, que mobilizou 1.100 agentes. Cerca de 20 funcionários de empresas como BRF e JBS, além de servidores do Ministério da Agricultura que se corrompiam para permitir o comércio de carne estragada. Essas duas gigantes controlam marcas como Friboi, Sadia, Perdigão, Seara, Swift, Rezende, Maturatta e são responsáveis por cerca de 80% das exportações de proteína animal que o Brasil tem no mercado internacional.

Blairo Maggi admitiu que não será uma tarefa fácil recuperar a imagem do Brasil junto aos mercados consumidores, apesar de tentar dizer que se tratou de “pequena porcentagem a produção”. Em entrevista à Rádio Jovem Pan, ele buscou um ar de tranquilidade para especialistas em mercado externo e ressaltou que o Brasil tem condições de superar esse trauma. “Nós temos um sistema importante, robusto, porém comandado por pessoas. E quando uma pessoa se corrompe numa linha dessa, infelizmente o Brasil inteiro paga uma conta, não são só os produtores, tem a imagem do País, a desconfiança inclusive dos consumidores internos”, frisou.

O Brasil reponde por 7% do mercado mundial de carnes e o risco para as vendas é alto após o escândalo, admitiu o ministro. “Não será uma tarefa fácil o que vem pela frente. Há muito tempo o setor de carne no Brasil vem trabalhando e tinha um verdadeiro esforço de governo e de sociedade para conquistar esse espaço no mercado”, relembra. Maggi reconhece que pode acontecer agora algo semelhante às consequências do surto da febre aftosa em 2005, que atingiu as exportações à época (47 países deixaram de comprar carne brasileira temporariamente): “é possível, infelizmente é possível”.

Mesmo com essa cautela Maggi pregou transparência diálogo para tentar convencer os mercados internacionais de que a carne brasileira pode ser consumida sem receio, até porque poucas plantas de frigoríficos tiveram comprovadamente adulteração dos produtos. Uma delas em Goiás: a Perdigão, de Mineiros. “Vamos ter que conversar com os mercados, com as agências reguladoras de fora e mostrar mais uma vez que eles são firmes. Temos que nos disponibilizar para que eles venham para o Brasil novamente checar aquilo que nós temos”, aguarda Maggi. As reuniões tentarão “mostrar que o nosso sistema é um sistema forte”.

PMDB

No cenário mundial as notícias foram altamente negativas para o Brasil. O diário argentino El Clarín bateu duro lembrando que o “partido do presidente Michel Temer” recebia propina para liberar carne estragada.“Trata-se de uma máfia que subornava fiscais para facilitar a venda de carne vencida e adulterada e que também pagava propinas ao PMDB, do presidente Michel Temer, segundo afirmou a Polícia Federal”, pontuou o jornal portenho. Até hoje os argentinos se ressentem da perda da participação no mercado de carnes para o Brasil. Outrora esse foi o principal pilar da riqueza dos hermanos, que foram à bancarrota após não saberem se firmar no mercado.

O prestigiado jornal londrino Financial Times também repercutiu a propina que servidores públicos recebiam para permitir o comércio de carne estragada e que o caso pode comprometer a credibilidade das empresas envolvidas e até a carne brasileira. “A investigação (...) levantará preocupações sobre a indústria de carne do Brasil, que cresceu na última década e se tornou uma das mais importantes do mundo”, ressaltou o jornal britânico.

O americano Wall Street Journal também noticiou as prisões e a ação policial nas empresas envolvidas para sentenciar que as ações da BRF e JBS caíram na bolsa de valores de São Paulo e que poderá haver um comprometimento no mercado mundial de ações.

A sorte dos executivos de ambas empresas é que no final de semana o assunto poderá esfriar, mas na segunda-feira terão muito trabalho para tentar convencer o mundo de que não vendeu carne estragada nem pagou propina para maquiar seus produtos.

Executivo da BRF é preso no Aeroporto Internacional de Guarulhos

O gerente de Relações Internacionais e Governamentais da Brasil Foods (BRF), Roney Nogueira dos Santos, foi preso pela Polícia Federal (PF) ontem no Aeroporto Internacional de Guarulhos após desembarcar vindo do exterior.

Segundo a assessoria da BRF, Santos se entregou às autoridades. O gerente teve a prisão preventiva decretada ontem pela operação Carne Fraca, da PF. Ele é acusado de influenciar fiscais do Ministério da Agricultura.

Login e senha

“[Roney Nogueira] remunera diretamente fiscais contratados, presenteia com produtos da empresa, se dispõe a auxiliar no financiamento de campanha política e até é chamado a intervir em seleção de atleta em escolinha de futebol. Com tantas benesses, há notícia de que ele possui login e senha para acessar diretamente o sistema de processos administrativos (SEI) do Mapa [Ministério da Agricultura], obviamente de uso restrito ao público interno”, disse o juiz federal Marcos Josegrei da Silva, que determinou a prisão do gerente.

Vigilância Sanitária do Rio recolhe amostras de carne em supermercados

Agência Brasil

Técnicos da Vigilância Sanitária municipal do Rio iniciaram ontem a coleta de amostras de carnes e derivados em grandes supermercados da cidade, com o objetivo de verificar as condições dos produtos comercializados. A ação é uma consequência direta da Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal para investigar adulteração e venda de carne estragada.

Ontem, uma equipe da Vigilância Sanitária recolheu amostras em dois supermercados da zona sul. Foram coletadas amostras de carne embalada a vácuo, resfriada e de carne moída, resfriada e embalada, ambas da empresa JBS, um dos alvos da operação da Polícia Federal.

No decorrer da próxima semana, a força-tarefa dos agentes da Vigilância Sanitária pretende recolher amostras de embutidos e empanados de frango (nuggets). Todos os produtos recolhidos serão encaminhados para análises do Laboratório de Controle de Produtos do órgão municipal.

“O nosso foco não são os estabelecimentos em si. Nós estamos coletando os produtos de carne industrializados, mas durante a operação também verificamos as condições de armazenamento, de exposição, temperatura, higiene e integridade da embalagem”, explicou a coordenadora técnica de alimentos da Vigilância Sanitária, Aline Borges, que esteve à frente da ação.

“A princípio estamos focando nos grandes supermercados porque neles encontramos esses produtos com maior facilidade”, acrescentou.

Serão feitas análises microbiológicas, para verificar a contaminação por micro-organismos, como a salmonela; de rotulagem, para verificar a composição do produto, e de microscopia, para detectar corpos estranhos no alimento. Também serão feitos exames sensorial, que verifica cor, textura e odor, e físico-químico, que aponta se há deterioração e alteração na cor.

“Eu acredito que em torno de sete a dez dias teremos uma prévia”, estimou Aline Borges.

Ela informou que se o resultado dos exames for insatisfatório, a Vigilância Sanitária partirá para o recolhimento de todo o lote do produto no município do Rio. “Nesse caso, outras vigilâncias municipais serão acionadas, e também vamos entrar em contato direto com a Superintendência Estadual de Vigilância Sanitária, que é responsável por fiscalizar as indústrias”, disse.

A técnica da Vigilância Sanitária municipal ressaltou a importância de o consumidor verificar sempre se o produto de origem animal tem registro junto a um órgão de agricultura – secretaria ou ministério, além de checar a rotulagem, o prazo de validade, a integridade da embalagem e a higiene do local onde o produto está exposto.

“Caso chegue em casa e constate, ao abrir a embalagem, alteração de odor ou coloração, deve entrar em contato com a Vigilância Sanitária, através do telefone 1746”, orientou.

Segundo a PF, os frigoríficos envolvidos na Operação Carne Fraca maquiavam carnes vencidas com ácido ascórbico e as reembalavam para vendê-las.

As empresas, de acordo com a polícia, subornavam fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para que autorizassem a comercialização do produto sem a devida fiscalização. A carne imprópria para consumo era destinada tanto ao mercado interno quanto à exportação.

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