Um novo estudo publicado na revista "Science Advances" revelou indícios de que Marte pode ter tido água quente em sua superfície há 4,45 bilhões de anos, apontando para a possibilidade de ambientes habitáveis no passado do planeta vermelho. A descoberta foi feita por meio da análise de cristais encontrados no meteorito marciano NWA7034, conhecido como "Beleza Negra", coletado no Marrocos em 2011.
Os cientistas identificaram “impressões digitais” geoquímicas de fluidos ricos em água no meteorito, que foram preservadas em minúsculos grãos de zircão. A pesquisa foi liderada por Aaron Cavosie, da Universidade de Curtin, na Austrália. Ele destacou que a presença de água durante a formação inicial da crosta marciana é um marco importante na busca por sinais de habitabilidade fora da Terra.
"Os sistemas hidrotermais foram essenciais para o desenvolvimento da vida na Terra. Nossas descobertas sugerem que Marte também tinha água, um ingrediente essencial para ambientes habitáveis, durante sua história inicial", explicou Cavosie em comunicado.
Utilizando imagens em nanoescala e espectroscopia, os pesquisadores detectaram elementos como ferro, alumínio, ítrio e sódio, incorporados no zircão durante a atividade magmática marciana. A análise indica que a água já existia no início do período Pré-Noéquio, cerca de 4,1 bilhões de anos atrás, apontando para a possível presença de sistemas hidrotermais semelhantes aos da Terra primitiva.
O enigma da vida marciana
A descoberta reabre o debate sobre a possibilidade de vida em Marte. Desde a missão Viking, da NASA, na década de 1970, cientistas tentam desvendar esse mistério. Apesar de as primeiras análises feitas pelos aterrisadores da missão não encontrarem organismos vivos, novas hipóteses surgiram ao longo das décadas.
Dirk Schulze-Makuch, astrobiólogo da Universidade Técnica de Berlim, levantou uma teoria instigante: os experimentos da missão Viking podem ter inadvertidamente eliminado microrganismos marcianos ao adicionar água às amostras de solo. Segundo ele, a vida em Marte, caso exista, poderia ser adaptada ao ambiente extremamente seco e obter água diretamente de sais, em vez de depender de água líquida.
"A água, ao invés de ajudar, poderia ter afogado microrganismos adaptados às condições áridas de Marte", argumentou o cientista em um artigo publicado na revista "Nature Astronomy".
Schulze-Makuch sugere que as futuras missões à Marte devem focar na análise de sais e em locais onde o ambiente seco permitiria a sobrevivência de formas de vida adaptadas.
Marte: uma nova perspectiva
Com descobertas como as do meteorito NWA7034 e hipóteses inovadoras sobre formas de vida adaptadas à aridez, Marte se torna cada vez mais um foco central da astrobiologia. As pesquisas recentes não só ampliam nossa compreensão sobre o passado do planeta, mas também orientam as estratégias futuras para desvendar um dos maiores mistérios da ciência: a existência de vida além da Terra.