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Lilia Azevedo, Especial para Diário da Manhã
“Se tudo o mais perecesse e ele permanecesse , eu continuaria a existir; E se tudo o mais permanecesse e ele fosse aniquilado, o universo se tornaria estranho e eu não poderia fazer parte dele.” –– Catherine Earnshaw “Esteja comigo sempre – sob qualquer forma – enlouqueça-me! Apenas não me deixe neste abismo, onde não posso te encontrar! Oh, Deus! É intolerável! Eu não posso viver sem a minha vida! Eu não posso viver sem a minha alma!” ––– Heathcliff Emily BrontË , uma garota criada pelo pai, vigário do isolado vilarejo de Howarth em Yorkshire. Um ambiente religioso e austero, porém regado a muita literatura. Seu pai, Patrick BrontË, tinha uma vasta biblioteca e incentivava a leitura e criação nas cinco filhas e único filho. Da Bíblia a Homero, Virgílio, Shakespeare, Byron. Reza a lenda que o pai de Emily trouxe de uma viagem diversos soldadinhos de chumbo, dando um a cada filha e os demais para o filho, a forma que as garotas encontraram de brincar com eles foi criando histórias para seus respectivos bonequinhos. Uma amostra da criatividade que era incentivada na casa de Emily.
Seu irmão se tornou pintor, são dele os retratos que temos de Emily e suas irmãs, as duas que também se se dedicaram a literatua, Charlotte e Anne, que respectivamente publicaram Jane Eyre e Agnes Grey. Das três, apenas Charlotte seguiu na carreira literária.
Wuthering Heights, ou O Morro dos Ventos Uivantes é considerada uma das maiores obras do romantismo inglês, e uma inovação em termos de dramaticidade, profundidade e complexidade de personagens. Emily morreu em dezembro de 1848, aos trinta anos, de uma tuberculose supostamente agravada de um resfriado pego durante o funeral do irmão, três meses antes. O morro é sua única obra, publicado sob o pseudônimo de Ellis Bell, apenas um ano antes.
Ela nos conta a conturbada e dolorosa relação entre Heathcliff e Catherine, Cathy para os íntimos. Heathcliff chega a casa da família Earnshaw, proprietária do Morro sob a forma de uma criança morena e magricela, suja e esfarrapada, trazida pelo senhor da casa de uma viagem a Londres, que o encontrou na rua. Imediatamente desperta a antipatia dos filhos do mesmo e de todos que ali residem, não acostumados com a aparência selvagem e os modos insolentes do garoto.
Heathcliff vive então como o protegido do senhor e aos poucos conquista a amizade e o carinho da senhorita da casa, Catherine, e se tornam inseparáveis, principalmente no que se refere a rebeldias e tramas infantis.
A vida no Morro muda rapidamente após a morte do senhor, quando quem assume o comando da propriedade é seu filho primogênito, Hindley Earnshaw, inimigo e rival de Heathcliff desde a sua chegada. Aos poucos o descaso e o despreso vão transformando Heathcliff novamente em um selvagem, com o rancor alimentando sua alma e criando uma carapaça sobre seus sentimentos, como forma de defesa ele se isola e se torna mais irascível e amargo, até mesmo com sua querida Cathy.
Emily nos faz sentir com seus personagens como as circunstâncias nos transformar ou fazem aflorar o que temos de melhor ou pior, Catherine fará escolhas egoístas mediante esta situação, a mágoa recíproca entre eles só é superada pelo amor desesperado que sentem um pelo outro e pela compreensão de como se pertencem, para o bem ou para o mal.
Nào estamos falando de uma história melosa (com o perdão do termo), em que os personagens fazem tudo para ficarem juntos e as circunstâncias e os outros só atrapalham. Ao longo da trama outras figuram que compartilham desta história, são arrastadas no turbilhão de sentimentos de Heathcliff e Catherine, da tenacidade egoísta dela, da obstinação dele. Há vingança, ódio, sofrimento em uma história crua e ao mesmo tempo poética. É impossível ler este livro sem parar para pensar na verdadeira natureza dos sentimentos humanos.
(Lília Azevedo, aspirante a Diretora de Arte e acha livros melhor companhia que pessoas. E prefere a companhia de livros a de pessoas.)
