Em sua quarta edição, o concurso Fairy Tale (Conto de Fadas, em português), realizado anualmente nos Estados Unidos, reúne literatura e arquitetura no intuito de eleger o melhor projeto imaginário do mundo. Em 2017, participantes de mais de 60 países enviaram suas obras para a competição que já se tornou a maior do mundo da arquitetura. Os inscritos devem associar seus projetos a uma narrativa que revele o contexto que permitiu a existência dos mundos que criaram. O resultado foi divulgado no início de fevereiro, no National Building Museum, localizado em Washington, capital dos EUA. O vencedor de 2017, o ucraniano Mykhailo Ponomarenko, conta a história de plataformas chamadas Saturno, que funcionam através de anomalias gravitacionais.
O Fairy Tales é aberto à toda a comunidade, e convida arquitetos, designers, escritores, artistas, engenheiros, ilustradores, estudantes e criativos anônimos a apresentar suas peculiares criações uma vez por ano. A edição de 2016 bateu recorde de inscritos: mais de 1.500, distribuídos em 67 nacionalidades. Os projetos selecionados unem uma narrativa textual a cinco imagens, criadas da maneira mais espetacular o possível. Um dos organizadores do evento, Matthew Hoffman, conta que o objetivo do concurso é provar que a arquitetura pode ir além do que as pessoas imaginam, e ressalta que o concurso já vem colhendo seus frutos, como a influência das narrativas apresentadas em vários campos da ficção, por exemplo.
“Praticamente toda semana somos procurados por algum participante que utilizou a competição como um salto para algo maior”, conta Matthew. “Alguns passaram a criar novas exposições ou iniciaram campanhas virtuais de financiamento coletivo obtendo sucesso. Muitos publicaram suas obras internacionalmente, e outros foram expandidos, dando origem a filmes, livros, teses, pesquisas e histórias em quadrinhos”, conclui. Alan Maskin, um dos vencedores da edição de 2016 do Fairy Tales, fala sobre a experiência de participar da competição. “A verdade é que o concurso introduziu uma conexão entre narrativas visuais e arquitetura, que agora está se transformando em outras ideias e projetos. Inscrever-se na competição foi a melhor provocação para nós”.
Vencedores
A cerimônia realizada para anunciar os vencedores no dia 6 de fevereiro no National Building Museum, premiou os criadores com as melhores imaginações arquitetônicas do ano. Foram quatro vencedores e dez menções honrosas selecionadas por um júri de nomes de peso como Dan Wood, Michel Rojkind, Marion Weiss e Stefano Boeri, dentre vários outros. “Os vencedores deste ano incluem referências oblíquas a eventos atuais, atividades cotidianas e emoções humanas que todos nós vivenciamos. Elas nos mostram como os humanos modelam o espaço, e em contrapartida, como o espaço nos modela”, pontuou o Diretor do museu sede do evento e membro do júri Chase W. Rynd. Ele também ressaltou o alto nível dos competidores que dificultou a escolha de um vencedor.
Mykjailo Ponomarenko, atual campeão do Fairy Tales, trouxe ao evento a história das plataformas Saturno, artificialmente criadas para servir como uma extensão da Terra. As Saturno utilizam o que ele chama de “anomalia da grande gravidade” para consumar a criação de um espaço otimista, onde todos os humanos do planeta teriam os recursos naturais igualmente divididos, graças à tecnologia que permite a criação de edifícios que se sustentam de cabeça para baixo. O projeto se chama Las Day (último dia). “Saturno A6 foi uma enorme plataforma digital, que utilizava motores antigravidade para enganar as leis da natureza e provar ao criador do universo que podemos controlar o jogo”, conta a história premiada, que se passa no passado do futuro.
Trata-se de um mundo de oportunidades, onde nem mesmo as pessoas financeiramente desfavorecidas passariam necessidades. “Em locais onde era difícil estabelecer cidades devido à falta de superfícies planas e às paisagens pitorescas, a tecnologia Saturn trouxe uma nova gama de emoções e experiências para os cidadãos. Saturn A6 era uma plataforma agrícola. As pessoas viviam extremamente felizes por trabalhar em ‘campos de oportunidades’, e, ao mesmo tempo, contemplar as vistas deslumbrantes que as circundavam”, descreve Ponomarenko. “A vida era boa na fazenda, mas em certas ocasiões, as pessoas poderiam ter acesso aos sinais de satélite, interrompendo a internet e outras conexões por algumas semanas”.
Completam o pódio os projetos City Walkers (Cidade Caminhante) e Up above (Acima). O segundo lugar conta uma história mais pessimista sobre a relação entre os humanos e a natureza. Realizado por Terrence Hector, a Cidade Caminhante é um organismo vivo de 60 metros de altura que se alimenta da decomposição de microrganismo que funcionam como edifícios de ar puro, o que permite a vida humana. Up Above, o terceiro lugar, tem autoria da dupla francesa Ariane Merle D’aubigné e Jean Maleyrat, e é inspirado nos debates atuais sobre a disputa de territórios, desigualdade social e a fome. Eles criaram uma cidade colaborativa onde estruturas habitáveis se sustentariam a 100 metros de altura que teriam proteção contra tempestades e raios solares.