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Adriana Calcanhotto leva brasilidade ao Rio Vermelho

Artista se apresenta na capital goiana durante projeto Aldeia Sesc das Artes, nesta sexta-feira, 12, a partir das 21h

Adriana Calcanhotto apresenta aos fãs goianos turnê do disco “Errante”, de 2023 – Foto: Leo Aversa/ Divulgação Adriana Calcanhotto apresenta aos fãs goianos turnê do disco “Errante”, de 2023 – Foto: Leo Aversa/ Divulgação

Não consigo me curar de Adriana Calcanhotto. Fui sugado pela seção de metais que abre “Enguiço”, lançado em 1990. “Eu hoje ando atrás de algo impressionante/ que me mate de susto/ um impulso, um rompante/ que é pra me desviar desse mar de calmante”, vocaliza a artista gaúcha, que se apresenta nesta sexta-feira, 12, no Rio Vermelho, a partir das 21h.

Carlos Calcanhotto, o pai, lhe injetou nas veias jazz revolucionário de Miles Davis. Era, afinal, baterista da banda Doctor Jazz Band. Morgada Assumpção Cunha, a mãe, era bailarina e graduada em educação física. Forjou gosto musical da família gaúcha. Aos seis anos, começou a ter aulas de violão. Sentiu-se, então, pronta para criar suas primeiras canções.

Calcanhotto misturou esses ingredientes numa sopa tropicalista, em que saboreamos notas modernistas e degustamos a textura dos sons brasileiros — com privilégio de sermos apresentados a uma das mais fascinantes estilistas de nossa música popular. Identificamos tal aspecto, inclusive, logo em sua estreia fonográfica, na música “Enguiço”, publicada em 1990.

Então, você se pergunta, um disco como esse — com todas as referências musicais — deve ter sido sucesso à época, não? Isso mesmo, não fez. É obra situada na volumosa discografia de Calcanhotto na condição de mera debutante, um cartão de visitas, embora seja interessante.

Das dez faixas, apenas duas — “Mortaes” e “Enguiço”, esta com brilho jazzístico conferido pelos metais — têm assinatura da compositora. Produzido sob comando do experiente Marco Mazzola, nota-se uma Adriana Calcanhotto limitada. Ainda que nessas circunstâncias, recriou “Caminhoneiro”, de Roberto Carlos, e “Sonífera Ilha”, dos Titãs.

Calcanhotto perseguia sonoridade autoral. “Água Perrier”, gravada em “Senhas”, segundo título de sua discografia, publicado em 1992, borbulha poesia. Abre parceria da artista com o poeta Antonio Cícero. Essa obra serviu para conectá-la — ainda mais — à tropicália, ao regravar “O Nome da Cidade”, da lavra do ídolo Caetano, desfecho do disco.

Cada vez mais dona de si, Calcanhotto ousaria no próximo disco, “A Fábrica de Poema”, de 1994. Foi editado com concepção da própria cantora e produção idealizada por Mayrton Bahia a partir da direção musical feita por Ricardo Rente. Poeta do desbunde, Waly Salomão assina a faixa-título, enquanto Antonio Cícero escreve os versos cantados em “Inverno”.

Pelo caráter experimental da obra, vocaliza-se ainda texto extraído do catálogo cinematográfico de Joaquim Pedro de Andrade, nomeado como “Por que Você Faz Cinema”. Há que se falar da releitura de “O Verme e a Estrela”, canção escrita por Cid Campos e Arnaldo Antunes, em que participa o poeta concretista Augusto de Campos.

Em seguida, com “Marítimo”, de 1998, ligaria-se ao mar, cujo tema apareceria na obra da artista dez anos depois, quando lançaria “Maré”. Ambos bebem na tradição: Jards Macalé e Dorival Caymmi, Caetano Veloso e Cazuza e Péricles Cavalcanti. Uma tradição que se junta a músicos como Rodrigo Amarante, Moreno Veloso e Kassin. Arte, afinal de contas, é isso.


		Adriana Calcanhotto leva brasilidade ao Rio Vermelho
Adriana Calcanhotto. Foto: Leo Aversa/ Divulgação


Calcanhotto entraria nos anos 2000, conforme o crítico Tárik de Sousa, com um original disco ao vivo dentre os outros da mesma natureza — em abundância à época. Demonstra uma mão excelente para o violão. “Ainda tem o seu perfume pela casa/ ainda tem você na sala/ porque meu coração dispara/ quando tem o seu cheiro/ dentro de um livro/ dentro da noite veloz”, declara, na simplicidade elegante de um violão-canto, em “Vambora”.

Falando que queria comer Caetano e dizendo que cariocas são sexys, “Público” antecede “Cantada”, de 2002. Privilegia a voz, o violão e a habilidade dos instrumentistas que lhe acompanham no projeto, caso do violonista Moreno Veloso e do pianista Daniel Jovem. Com “Adriana Partimpim”, próximo álbum, dirige-se ao público infantil, trazendo composições como “Saiba”, de Arnaldo Antúrio, e “Ciranda Bailarina”, de Chico Buarque e Edu Lobo.

Empunhou a lira ainda em “Errante”, de 2023. Será esse show que veremos em Goiânia. Ansioso? Pode ficar. Adriana Calcanhotto, a intérprete colossal, a compositora sutil mas inteligente, estará imperdível na capital. Tão imperdível que os ingressos já acabaram.

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