Considerada uma das festas mais tradicionais realizadas em Goiás, as Cavalhadas passarão entre maio e outubro deste ano por 13 municípios do Estado. O calendário do evento foi divulgado ontem pelo governador Ronaldo Caiado, numa cerimônia que teve presença da primeira-dama, Gracinha Caiado, além de prefeitos, cavaleiros e organizadores.
O anúncio descentraliza a cultura, ideia endossada pela secretária Yara Nunes, em cuja posse - ocorrida em abril deste ano - destacou a debilitada saúde financeira da área. Só de dívida, por exemplo, eram R$ 64 milhões. Pouco a pouco, a Secult começou a sair do vermelho, até que investiu-se R$ 14,2 mi nos editais do Fundo de Arte e Cultura e dobraram-se os valores do crédito outorgado para o programa Goyazes - de R$ 10 mi para R$ 20 mi.
Às Cavalhadas, neste ano, foram direcionados R$ 3 mi. Caiado aproveitou, durante a divulgação do calendário, para dizer que um Estado precisa cultivar, se orgulhar e mostrar sua história para todas as gerações. Para ele, é imprescindível manter viva as tradições culturais - neste ano, vale ressaltar, o evento volta à cidade de Luiziânia, na qual há o registro mais antigo da representação medieval em Goiás, no ano de 1751.
Santa Cruz de Goiás, Posse, Jaraguá e Pirenópolis também recebem Cavalhadas neste mês de maio. Já em Palmeiras de Goiás, Hidrolina, São Francisco de Goiás e Crixás a festa ocorrerá no mês que vem. Em Santa Terezinha de Goiás, será em julho. Pilar de Goiás e Corumbá de Goiás se preparam para serem anfitriões em setembro. Primeira capital goiana e símbolo do ciclo do ouro, Cidade de Goiás fecha circuito no mês de outubro.
Cristãos e mouros
O evento simula batalhas travadas por cristãos e mouros na Península Ibérica, hoje território ocupado por Espanha e Portugal. Em Pirenópolis, município conhecido pela sua arquitetura colonial, cerca de 10 mil pessoas apreciam a festa popular no “cavalhódromo”. Um cortejo sai pelas ruas de Piri (como a cidade é carinhosamente chamada pelos turistas) e vai até a matriz, no Centro Histórico, repetindo a celebração que se realizava nas cortes ibéricas.
Para se ter uma ideia da relevância cultural-turístico, os elementos profanos e religiosos já se tornaram reconhecidos pelo Iphan como Patrimônio Imaterial do Brasil. As primeiras apresentações das Cavalhadas durante os festejos do Divino, em Piri, datam dos anos 60, mesma época em que se concretizou o processo de patrimonialização da festa, construindo-se a identidade cultural goiana pela intervenção de órgãos ligados ao turismo.
A esse fenômeno, deu-se o nome de “consciência da tradição”. O Iphan, responsável pelo patrimônio brasileiro, acredita que a população exerceu papel importante “no esforço do resgate de suas tradições”. Para muitos pirenopolinos, as Cavalhadas são o ponto alto da festa e, por isso, reúnem o maior público de todos os eventos que a compõem. Cavalheiros a veem como um ato de devoção em que, a partir daí, renova-se a fé no Divino Espírito Santo.
Tem até o Museu das Cavalhadas, próximo à ponte que cruza o Rio das Almas, no Centro Histórico. Lá, encontra-se acervo que reúne documentos, reportagens e objetos. Também há fotografias, com mais de 800 imagens, tendo como eixo as temáticas em que estão organizadas. Uma vez no lugar, o visitante é obrigado a assinar um livro: alunos, pesquisa acadêmica, histórica preservada e tradição viva na memória se faz a razão de ser do espaço.
No campo, durante a festa, os cavalheiros encenam lutas de Carlos Magno e dos Doze Pares de França. Eles queriam libertar a Península Ibérica do domínio sarraceno. Chama atenção do público o requinte com o qual se prepara as roupas usadas na festa: armeiros, costureiras, bordadeiras e floristas se mobilizam às Cavalhadas - sempre de olho no esmero. Nas calças e camisas, são colocados adereços, como cintos e objetos de armadura, além de murça.
Vale ressaltar ainda a capa bordada com símbolos ligados ao cristianismo. Dentre eles, são tem como esquecer de mencionar, por exemplo, cálices, ostensórios, cruzes, divinos e coroas. Já dos mouros, nome dado pelos cristãos europeus aos povos islâmicos originários do norte africano, sul espanhol, Sicília (hoje Itália) e Malta, há brasões, águias, cartas de baralho, lua e dragão. A depender da patente, o cavaleiro usa elmo - uma espécie de capacete - ou chapéu.
Cores
Como um todo, as cores que predominam são o vermelho e, junto a ele, o dourado para os mouros e o azul e prateado aos cristãos. Nos dias de encenação, as mulheres - mães, filhas e esposas - trabalham para “montar” seus cavaleiros, isto é, contribuem para vesti-lo. Os pequenos personagens da festa popular são apresentados na Vila Matutina e, à beira do Rio das Almas, em Pirenópolis, ocorre queima de fogos, num lugar conhecido como “Lages”.
“Embora a centralidade do território da festa seja urbana, pois a cidade é a sede do Império, seus domínios se estendem através de uma extensa rede de relações que unem o rural e o urbano, visível principalmente nas folias. Mais do que isso, a festa não só explica, ela faz a cidade. E, mais do que a cidade, a festa cria seus próprios domínios, um território sagrado”, documenta o Iphan, num trabalho importante de preservação das raízes culturais goianas.
A titular da Secult estadual, Yara Nunes, diz que uma Organização da Sociedade Civil (Osc) foi contratada para agilizar administração do dinheiro e atender demandas dos cavaleiros. “Neste final de semana, já tivemos algumas atividades e estamos providenciando reparos nas roupas”, afirma Yara, que é formada em Direito e mestranda em Sociologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), durante lançamento de calendário.
Veja o calendário completo
Santa Cruz - 27 a 28/05
Posse - 27 a 28/05
Jaraguá - 27 a 29/05
Pirenópolis - 28 a 30/05
Luziânia - 03/06
Palmeiras de Goiás - 09 a 11/06
Hidrolina - 09 a 11/06
São Francisco de Goiás - 17 e 18/06
Crixás - 24 e 25/06
Santa Terezinha de Goiás (Cedrolina) - 15 e 16/07
Pilar de Goiás - 09 e 10/09
Corumbá de Goiás - 08 a 10/09
Cidade de Goiás - 14 e 15/10