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Como Débora Falabella se preparou para viver duas vidas em uma só

Em cartaz no Cine Cultura com “Bem Vinda, Violeta”, atriz fala - em entrevista ao Diário da Manhã - sobre nova personagem que interpreta

Atriz se consagra como uma das estrelas das artes cênicas brasileiras - Foto: Divulgação Atriz se consagra como uma das estrelas das artes cênicas brasileiras - Foto: Divulgação

Débora Falabella abandona sua vida para viver outras histórias. Já lutou contra a exploração da Amazônia pelo garimpo na série “Aruanas”, sofreu com crises de ansiedade em “Depois a Louca Sou Eu” e viveu uma baby-boomer que questionava os valores dos pais no espetáculo “Love, Love, Love”, com o qual passara pelo Teatro Goiânia, no ano passado. E o que Natalie, Dani e Sandra têm em comum? Bem, elas todas são Débora!

Aos 44 anos, 1,59 metro de altura e currículo com bons serviços prestados à cultura brasileira, Débora sabe que é uma das melhores atrizes do País. Seja na telinha, na telona ou nos palcos, é um vulcão cênico. Está prestes a entrar em erupção. O palco é dela, brilha nele. E, como se fosse pouco, suas chamas artísticas se acenderam também quando a barra estava pesada, no auge da pandemia, com o Cara Palavra - um canal de poesia e dramaturgia criado por ela e pelas amigas Andréia Horta, Bianca Comparato e Mariana Ximenes.

A atriz se relaciona com a literatura de uma maneira que, a princípio, lhe faz ser mais sensível: entende o mundo pela palavra e a força dela, compreende a realidade pelo viés estético e humano. Talvez tenha sido por isso que Débora aceitou o convite do cineasta Fernando Fraiha para atuar em “Bem-Vinda, Violeta”, que está em cartaz no Cine Cultura, na sessão das 20h45. O filme se baseia no romance “Cordilheira”, escrito por Daniel Galera.

Das páginas à tela grande

Um dos autores mais interessantes da literatura brasileira contemporânea, Galera escreve romance que caminha em direção oposta à autoajuda. “Tive vontade de desenvolver uma protagonista mulher. Eu pretendia usar a terceira pessoa, para me permitir certo distanciamento, mas o romance parece pedir o ponto de vista da narradora, e só consegui levar o texto adiante quando fiz essa opção”, disse o escritor, quando a obra saiu, em 2008.

Se “Cordilheira” gira em torno do recomeço - Anita se envolve com misterioso fã argentino e passa a conviver com seus amigos de hábitos esquisitos -, “Bem-Vinda, Violeta” mostra a que veio num dos primeiros diálogos. Viggo (papel do ator argentino Germán da Silva) olha para Ana e, sem delongas, diz à jovem: “Bem-vinda ao fim do mundo, querida! Tem que olhar por onde anda aqui. Um passo em falso e você cai em um abismo terraplanista”.

No longa, Anita não é Anita, e sim Ana, aspirante a escritora que consegue ir a um programa de residência literária comandado pelo badalado escritor argentino Holden (Darío Grandinetti). Nada convencional e um tanto exótico, o sujeito escolhe cinco alunos de diferentes países para ficarem um tempo com ele na Patagônia, região localizada no sul da Argentina. Todos focam em suas criações e, ao final, cada um deve entregar uma história.

Faiha conta que a ideia de “Bem-Vinda, Violeta” nasceu após convite do produtor Rodrigo Teixeira. Ele tinha os direitos da obra de Daniel Galera antes mesmo do livro ter sido escrito. “Eu fiquei honrado porque já era muito fã do Galera. Na adaptação para o cinema, nós criamos a oficina de escrita onde toda a história se passa. No livro, é bem diferente. Segundo o próprio Daniel Galera, é uma ideia que se ele tivesse tido antes, o livro seria assim”, relata ao DM o cineasta, que é casado com Débora Falabella, a Ana - ou, melhor, a Viola.

Duas ou três cenas deixaram o repórter impressionado, às raias da insônia. Ana conversa com Holden, num bate-papo despretensioso. Ela é elogiada pelo autor famoso. Gostou da caracterização que fez do amante - “aquele acúmulo de carne”. Mas a jovem trabalha numa história de difícil digestão sobre Violeta, instável em termos emocionais que seduz e, tragicamente, mata seu professor de biologia. Quase uma Lolita, ou será que não é de fato?

Por causa de Holden, Ana escreve com violência e as lembranças correm da cabeça à ponta do lápis. A vida começa a ser vivida e as palavras a descrevem em sua plenitude. O que quer Violeta? O que quer Ana? É preciso conhecer bem o pensamento e, ao conhecê-lo, sentir sua força até que se chegue à verdade. “99% sofrimento. 1% você senta e escreve”, teoria o escritor bonachão. Ah, e tem um importante detalhe: Holden tira da jovem sua bombinha de asma, manipulando-a e despertando-a para o lado obscuro da natureza humana.

Experiência maravilhosa

Para Débora Falabella, a experiência em filmar com Darío Grandinetti foi maravilhosa, pois o considera um grande ator, que faz trabalho “espetacular” em “Bem-Vinda, Violeta” e foi “excelente” companheiro de cena - já chegou a ser dirigido pelo espanhol Pedro Almodóvar, em “Hable con Ella”, de 2002. “ Outra experiência totalmente nova foi fazer um filme inteiro em outra língua. Já tinha contato com a língua, pois morei um ano na Argentina”, afirma.

O tempo, contudo, não lhe foi generoso. Seu espanhol, pouco praticado desde que morou em Buenos Aires, ficou enferrujado. Débora precisou estudar para ter o roteiro na ponta da língua, o que diz tê-la tirado da zona de conforto. “Me fez muito bem”, diz a mineira de BH, que acredita encontrar em Ana - personagem que interpreta na película - certa semelhante com a carreira de atriz, onde vive um período de sua vida por conta dos papéis que faz.

“Em um primeiro momento, o desafio foi a língua. Interpretar em outro idioma foi bem difícil, mas com o tempo fui me acostumando. O maior desafio era me aprofundar na complexidade dessa personagem que, na verdade, são duas em uma só”, revela Débora Falabella, chamada pelo jornal argentino “La Nacíon”, o mais importante do país portenho, de estrela. Essa estrela, é bom dizer, se prepara para atuar em superprodução da TV Globo e, quem sabe, dirigir seu primeiro longa-metragem. Vem coisa boa por aí.

Bem-Vinda, Violeta

Diretor: Fernando Fraiha

Gênero: drama

Duração: 107 minutos

Onde e quando: Sessão no Cine Cultura, às 20h45

Classificação: 14 anos

Entrevista com cineasta Fernando Fraiha, diretor de 'Bem-Vinda, Violeta'

Diário da Manhã - Como surgiu a ideia de adaptar o livro “Cordilheira”, de Daniel Galera, para “Bem-Vinda, Violeta”? Quais são as principais diferenças entre os dois?

Fernando Fraiha - O convite veio do Rodrigo Teixeira. Ele tinha os direitos do livro desde antes do livro ter sido escrito. Eu fiquei honrado porque já era muito fã do Galera. Na adaptação para o cinema, nós criamos a oficina de escrita onde toda a história se passa. No livro, é bem diferente. Segundo o próprio Daniel Galera, é uma ideia que se ele tivesse tido antes, o livro seria assim. Esse foi o maior elogio que o filme já recebeu!

DM - Quais foram os maiores desafios de gravar na Patagônia Argentina? Você tem alguma curiosidade sobre o período de gravações?

Faiha - Filmar no meio da pandemia, antes das vacinas e da Argentina ter aberto o espaço aéreo e as fronteiras, foi o maior desafio do filme. Mas deu muito certo! A equipe ficou muito unida e foi muito responsável com os protocolos.

DM - Todo processo criativo tende a ser árduo. Dessa forma, em que sentido você se identifica com a personagem Violeta e os métodos pouco convencionais para estimular o desenvolvimento da escrita? Afinal, até que ponto devemos nos pressionar em prol de uma boa história?

Faiha - A ideia de que temos que ter propriedade sobre o que criamos é muito cara para mim. Claro que o filme leva isso para um extremo quase absurdo. Acho um tanto ultrapassado esse estigma que temos que sofrer para criar. Mas, claro, precisamos nos revirar, entender o que queremos dizer, refazer mil vezes até ficar perfeito e tudo isso dói. Cabe a cada um dar seu limite pra essa dor.

DM - Débora Falabella e Darío Grandinetti são nomes fortes no Brasil e na Argentina, respectivamente. Como foi trabalhar com a dupla e o processo de escolha desses atores, que vivem personagens tão complexos e que buscam esbravejar seus sentimentos por meio da escrita?

Faiha - Eu vi o Darío em uma entrevista e achei ele perfeito. Ele era um inconformado com o mundo e tinha a sensação de que havia algo errado em como as coisas são. Isso aproxima muito os dois personagens e foi por onde o processo de preparação começou. Da Débora, eu sou fã desde sempre! Ela é uma das artistas mais brilhantes e disponíveis com que eu já trabalhei. Eles se deram super bem e no set isso imprimiu

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