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O processo civilizador que popularizou a cultura em Goiás deve em grande parte seu sucesso ao trabalho árduo desenvolvido pela pianista Belkiss Carneiro Mendonça ( 1928-2005), que foi celebrada na manhã deste sábado, 15, no auditório do Lilian Centro de Música, em Goiânia (GO).
Durante a manhã, crianças e adultos interptetaram cânones da cultura ocidental de J.S Bach, Brahms, Villa-Lobos, dentre outros.
O aniversário da pianista é sempre um momento para festejar a carreira da artista, professora e pioneira, que projetou Goiás como estado também produtor de cultura para o país e mundo.
Belkiss é considerada uma das principais intérpretes da música pianística brasileira, aquela composta por Heitor Villa-Lobos, Camargo Guarnieri, Francisco Mignone, dentre tantos.
Foi também pioneira na institucionalização do ensino de música no Centro-Oeste brasileiro e introdutora do modernismo em Goiás, ao lado de Bernardo Élis e Frei Confaloni.
Organizado pela nora Lílian Carneiro Mendonça, professora de piano e formadora de inúmeros pianistas de renome internacional, o evento deste sábado teve depoimentos e recitais, além de apresentações multimídias, como registros gravados por alunos que aprendem piano pela internet.
Uma das amigas de Belkiss, Maria Lucy Veiga Teixeira, dona Fifia, pioneira como ela na divulgação da música em Goiás, relatou sua admiração e amizade com a amiga e interpretou uma peça com perfeição aos 98 anos. Sua leitura de "Brejeiro", de Ernesto Nazareth, foi irretocável.
Após a interpretação de dona Fifia, Lilian desafiou o público: quem, afinal, chegaria aos 98 anos com tamanha proficiência e capacidade?
De estilo desafiador e motivador, Lílian sempre questionou seus alunos, sugerindo que seguissem uma prática virtuosa, tendo nos caminhos abertos por Belkiss um roteiro a ser almejado. No recital não faltaram convites a que todos façam do piano um projeto de vida.
A neta da pianista, Simone Mendonça, chamada ao palco para falar das memórias e exemplos que teve, fez um depoimento emocionante.
Ela disse que a avó ensinava todos a terem "objetivos de vida". E, emocionada, recordou da busca constante dela por perfeição.
"Vou recordar um momento. Lembro que ela tinha gravado um CD em São Paulo. E chegou a prova do CD. Ela escutava de olhos fechados... E depois falava: "Eu errei aqui, posso fazer melhor...". Então foi lá e gravou o CD de novo. Chegou nova prova e eu disse "Vó não escuta!". Ela sempre buscava a perfeição. Ela sempre queria e podia fazer melhor", recordou.
"Ela foi mulher para além do tempo. Levou a música brasileira para o mundo. E como vó, o português é pequeno para descrevê-la. Tentamos seguir seu passos", completou Simone.
Nhanha do Couto
Belkiss foi fundamental na evolução da segunda fase do piano em Goiás.
Na década de 1940, mudou-se para o Rio de Janeiro em busca de conhecimento e formação superior.
Depois de formada, precisou tomar uma grande decisão: seguir uma carreira internacional, com recitais programados nas principais salas de concerto do mundo, ou dedicar-se à transformação cultural de Goiás.
Optou por permanecer em seu estado e fundar escolas de música.
Também consolidou-se como uma das maiores intérpretes do piano moderno brasileiro.
Neta de Nhanha do Couto, referência no ensino de piano no Estado, Belkiss liderou o movimento pela criação do Conservatório de Música, que mais tarde se incorporou à Universidade Federal de Goiás (UFG) como unidade de ensino de referência.
