BRASÍLIA - Pelo segundo ano consecutivo, o governo brasileiro vai aproveitar o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, para tentar reconquistar a confiança dos investidores internacionais. Em 2015, o recém-empossado ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi ao encontro, que reúne a elite global, buscar um voto de confiança e mostrar que o país estava empenhado em colocar as contas públicas em ordem, a inflação na meta e voltar a crescer.
De lá para cá, no entanto, os indicadores só pioraram, o Brasil perdeu o grau de investimento (selo de bom pagador), Levy deixou o governo e a crise política se agravou. Por isso, agora, é a vez de seu sucessor, Nelson Barbosa, ir aos Alpes pedir uma nova chance ao mercado.
Segundo interlocutores do governo, a missão do ministro é deixar claro que a troca no comando da Fazenda não representou um abandono do ajuste fiscal e que seu projeto é combinar o reequilíbrio das contas com estímulos responsáveis à economia. Barbosa também aproveitará para fazer reuniões com investidores e promover o programa de concessões, que ficou praticamente parado em 2015.
O próprio ministro já disse em entrevista ao GLOBO que vai aproveitar as reuniões para ressaltar que o maior desafio do Brasil hoje é fiscal e depende de reformas estruturais pelas quais o governo está se empenhando. Segundo ele, "é importante atuar na direção certa e é isso que está sendo feito".
Ao contrário de Levy, que no ano passado circulou pelos corredores do Centro de Convenções de Davos fazendo brincadeiras com a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, Barbosa ainda é pouco conhecido pela turma que frequenta o Fórum. Esse foi um dos motivos pelos quais o Palácio do Planalto achou que o novo ministro precisava ir ao evento, que acontece de 20 a 23 de janeiro.
DILMA SÓ FOI UMA VEZ
A presidente Dilma Rousseff chegou a iniciar os preparativos para ir à Suíça este ano, mas acabou desistindo da viagem para acompanhar de perto o quadro político e os desdobramentos da operação Lava-Jato. Em cinco anos de mandato, Dilma foi a Davos uma única vez, em 2014. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que costuma ao ir Fórum, também ficará de fora, porque o encontro ocorrerá exatamente na semana da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, que definirá a nova taxa de juros básica da economia.
A agenda de Barbosa será cheia. Sua assessoria já recebeu diversos pedidos para reuniões bilaterais e conversas com grupos de investidores. O ministro vai conversar com representantes de bancos, como o Lloyds e Citybank, e do setor produtivo, como o diretor financeiro da ArcelorMittal, Aditya Mittal. Participará ainda de uma reunião conhecida como BIG (Brazilian Interaction Group) que costuma colocar frente a frente autoridades e CEOs (diretores-executivos) de grandes empresas. A sala onde o encontro será realizado comporta 40 pessoas, e o número de pedidos para participar já passa de 90.