Da Redação – Agência Globo
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, recusou ontem “os ultimatos e a chantagem” a que considera estar sujeito pelos seus parceiros europeus, denunciando a pressão a que se sente submetido para aceitar um acordo. A Europa, salientou, “não foi fundada sob chantagem e ultimatos. Especialmente nestas horas cruciais, ninguém tem o direito de colocar em perigo estes princípios”.
Tsipras falava em conferência de imprensa no final do Conselho Europeu, dominado pelo problema financeiro da Grécia, apesar de este não estar na agenda oficial. A última proposta apresentada à Grécia pelos credores, em troca de reformas e esforços orçamentais, ou “ajustes fiscais”, não pode ser aceita, segundo o premier grego, por conter medidas recessivas e um programa de financiamento de cinco meses considerado insuficiente”.
Proposta dos credores
“A proposta das instituições (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) ao governo grego era para legislar imediatamente sobre medidas profundamente recessivas, como condição para um financiamento de cinco meses, o que é de todo insuficiente”, afirmou o governo grego numa nota.
De acordo com o que foi divulgado, a proposta das instituições previa um prolongamento por cinco meses do programa de assistência financeira à Grécia e um pacote de pelo menos 12 bilhões de euros, a serem pagos em quatro prestações até novembro deste ano por europeus e FMI.
Os credores contam que a pressão sobre o governo Grego acabará funcionando. Se este não ceder até o dia 30 deste mês, a Grécia entra em defaut, ou moratória unilateral, e poderá, no limite, ser expulsa da União Europeia, o que não desagada os radicais do partido socialista, atualmente no governo.
Mas a exclusão da Grécia também não é bom para a própria União Europeia, que já vem enfrentando outras dificuldades e lidando com outras tentativas de fugas. Os ingleses não se sentem confortáveis na UE e a França, caso Mariane Le Pen chegue ao poder, deverá se retirar do bloco.
Diante destas perspectivas sombrias, o secretário do Tesouro norte-americano, Jacob Lew, fez um apelo ao bom senso. Ele acha que os credores têm razão, mas deveriam ser mais transigentes. Ele defendeu, ontem, que deve ser considerada “uma forma de reestruturação” da dívida grega e disse temer “um acidente” devido à demora nas negociações entre Atenas e os credores.
“A Grécia deve fazer ajustamentos dolorosos, mas e as instituições credoras da Grécia devem mostrar flexibilidade quanto aos objetivos e ao modo de os alcançar. É preciso uma discussão sobre uma forma de reestruturação de uma parte da dívida grega”, declarou Lew ao Yahoo News, na véspera de uma reunião crucial do Eurogrupo.
Queda de braço
A Grécia e os credores internacionais – Fundo Monetário Internacional (FMI), Comissão Europeia e Banco Central Europeu – estão há meses em negociações para chegar a acordo quanto à continuação da assistência financeira ao país antes do dia 30 deste mês, para evitar um possível descumprimento.
O FMI exige reformas a Atenas, mas admite uma reestruturação da dívida, alargando a o prezo de prorrogação das obrigações ou reduzindo as taxas de juro, enquanto os credores europeus têm recusado até agora assumir compromissos sobre esta matéria.
A dívida grega ronda, atualmente 180% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
O secretário do Tesouro norte-americano mostrou-se também preocupado com a sucessão de rondas negociais em Bruxelas com ultimatos. “Os riscos de um acidente aumentam quando há este tipo de situação e todos se pressionam antes de um prazo”, afirmou, acrescentando que a economia mundial não precisa de um novo “choque”.