Alfredo Assumpção,Especial para Opinião Pública
Comparando cada empresa contra cada país, as 50 maiores empresas multinacionais têm uma receita anual maior do que o PIB de 70% dos países. A receita das multinacionais fora do seu país de origem ronda US$ 40 trilhões, ou mais da metade do PIB mundial, com seus US$ 73,5 trilhões em 2013. O total de exportações dos países está próximo de US$ 20 trilhões, a metade do que fazem as multinacionais fora do seu país de origem. O total de exportações do Brasil, sétima maior economia do globo, nos seus quase US$ 230 bilhões, é menor do que a receita anual de cada uma das 10 maiores transacionais.
Se entrarmos em qualquer farmácia ou supermercado, vamos encontrar mais de 100 marcas globais. Ao pegarmos a receita das 10 maiores transnacionais, somente três países (EUA, China e Japão) têm PIB maior do que as vendas conjuntas anuais dessas empresas. O PIB da Grécia, epicentro da crise da Zona do Euro, nos seus US$ 308 bilhões, é inferior à receita de cada uma das 10 maiores empresas: Shell, Wal-Mart, Exxon, Sinopec, China National Petroleum, BP, State Grid, Toyota Motor, Volkswagen e Total Fina, cuja receita anual totaliza US$ 3,7 trilhões.
Em 2010, o PIB conjunto de EUA e União Europeia atingia 49,5% do PIB global. Em 2013, esta participação cai para 46% com perda de riqueza nessas regiões desenvolvidas de US$ 2,6 trilhões, que são transferidos para mercados emergentes. Em 1980, os países emergentes representavam apenas 24,2% do PIB mundial. Em 2013, esta representação sobe para 38,5% com US$ 10,5 trilhões de transferência de riqueza dos países desenvolvidos para os emergentes. Para complementar esta base econométrica, de acordo com o Credit Suisse, tínhamos um total de poupança (haveres menos deveres) global em 2010 de US$ 195 trilhões. Em 2011, atingia US$ 231 trilhões e a projeção para 2016 era termos uma poupança no planeta de US$ 345 trilhões.
O que podemos tirar de conclusão com tudo isso? Essas empresas transnacionais são apátridas. Cuidam melhor dos seus recursos humanos (suas pessoas), com boa remuneração, benefícios diferenciados, tratamento democrático, oportunidades iguais, independentemente de credo, cor, sexo, idade, nacionalidade, etc., do que qualquer país conseguiria. Essas empresas (na totalidade das transnacionais) são a locomotiva motriz de qualquer economia de qualquer país no globo. Quer crescer e/ou desenvolver sua economia, use o setor privado. Elas estão presentes em mais de 100 países, dando tratamento uniforme a todos. Querem é dar respostas aos seus acionistas privilegiando meritocracia acima de tudo. O eixo do poder migra de governos para mercado privado.
Essas transnacionais sabem que para competir no globo e para conquistar territórios econômicos através da colocação dos seus produtos e serviços, em padrão de qualidade superior e a preços competitivos, precisam contar em seus quadros com o melhor talento, não importa sexo, cor, credo, etc. Fabricam seu produto onde conseguem custos de produção mais barato. Com toda a economia global interconectada, conseguem atender seus clientes (a sociedade) de qualquer lugar no mundo. As nações que tiverem melhores padrões legais, estabilidade política, estabilidade econômica e talentos disponíveis recebem seus investimentos. A massa de dinheiro que gira pelo planeta é absurdamente grande como já vimos. Se o Brasil fizer seu dever de casa, consegue receber muitos desses investimentos. Qual o dever de casa? Não sejamos repetitivos. Basta usar o setor privado para tocar sua economia.
E para terminar com chave de ouro, essas transnacionais, em âmbito global, investem anualmente a bagatela de US$ 2 trilhões de dólares para recrutamento de seus talentos. Esta cifra equivale ao total de receita da indústria bélica no mundo. A guerra atual é pela conquista de talento. Então, Brasil, consiga desenvolver seus talentos, reduza seu custo de produção, privatize suas estatais e vire uma Alemanha rapidamente. E tudo, absolutamente tudo, aproveitando seu capital humano, desde aquele instalado no Executivo, no Legislativo e no Judiciário, até os trainees de gerência sendo desenvolvidos pelas empresas mais bem preparadas, com cultura de desenvolvimento de seus gladiadores econômicos. Eu acredito no Brasil. É esperar pra ver. Chegaremos lá. Caminhamos para uma cultura de honestidade, profissionalismo e meritocracia, integrando-nos gradativamente, mais e mais, na economia global.
(Alfredo Assumpção, chairman e partner do Grupo Fesap, holding das empresas Fesa, Asap Recruiters e Fesa Advisory)