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OPINIÃO

Desenvolvendo as potencialidades da alma

Emílio Vieira Especial para  Opiniãopública

Enfatiza-se aqui a importância do crescimento como necessidade do espírito, lembrando o que, por outras palavras está escrito n’O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec: “As qualidades superiores da alma se desenvolvem gradativamente, rumo à perfeição. Como a sementinha que já possui em si mesma as qualidades da árvore adulta, o Espírito possui em si mesmo as qualidades da perfeição”.

O homem é um ser perfectível e carrega em si o gérmen de seu aperfeiçoamento. No entanto, esse crescimento há de ser para dentro de si, já que o reino de Deus está dentro de nós e alcançá-lo depende do esforço de cada espírito e ‘segundo as suas obras’.

Amor e sabedoria

Inteligência e bondade, amor e sabedoria, devem marchar juntas para garantirem o crescimento intelectual e moral, de que dependerá, afinal, a redenção da humanidade.

Segundo Henri Wallon, no ser humano primeiro manifesta-se a afetividade, seguida da racionalidade, mas que desde o início estão sincreticamente misturadas. Piaget já ensinava que a vida afetiva e a vida cognitiva são inseparáveis, eis que qualquer interação com o meio pressupõe estruturação e valorização.

Desenvolvimento da mente

Nosso cérebro é um computador que arquiva informações do presente, do passado e do futuro, já virtualizado. Do presente consciente – as conquistas atuais. Do passado subconsciente – os impulsos automáticos. Do futuro superconsciente – a meta a ser alcançada.

Figurativamente, nosso cérebro é como um edifício de três andares: no primeiro andar guardamos nossas experiências vividas, no segundo, trabalhamos executando nossos projetos atuais e no terceiro andar, hospedamos nossos sonhos e ideais sempre acalentados.

Construção de si mesmo

Recortemos do texto sob leitura: “As necessidades da vida presente levam o Espírito a agir, desenvolvendo gradativamente sua potencialidade futura, valendo-se das aquisições do passado”. Mas adverte Walter de Oliveira: “Não podemos estacionar no passado, correndo o risco de mergulharmos nos impulsos e tendências anteriores. Também não podemos viver o presente de forma mecânica, sem consultar nosso passado e sem traçar metas para o futuro, pois viveríamos mecanicamente sem evoluir. É indispensável valermo-nos das conquistas passadas para, através do esforço e do trabalho no presente, amparados no ideal superior elevado e nobre, construirmos gradativamente nosso futuro”.

De concluir-se que a importância do processo educativo consiste em investir no gradual desenvolvimento das potencialidades da alma, oferecendo à criança, no caso, os estímulos necessários para direcionar sua vida na construção de si mesma.

Desenvolvimento moral

Considerando que o homem é um ser moral, pelo discernimento do certo e do errado, do bem e do mal, e dotado da consciência do seu eu interior, tem necessidade de estímulos positivos para rebater os impulsos negativos, e nisso consiste o princípio da boa formação do caráter. As crianças são seres em evolução, precisam de orientação segura para que saibam fazer suas escolhas, assimilando a escala de valores que levam a alcançar a finalidade do espírito educado para o bem.

Autonomia moral

As leis internas estão insculpidas na consciência e indicam a escala de valores que levam os indivíduos à realização do bem. A autonomia moral e intelectual leva o ser humano a desenvolver o sentimento e a razão como formas de desenvolvimento do amor e da sabedoria.

No evangelho de Cristo e na doutrina espírita, que o atualizou, têm-se as bases da educação do espírito, que se desenvolve pela capacidade de pensar, agir e sentir, em sintonia com as leis divinas. Educar o espírito é educar o sentimento, não somente como energia que mobiliza e mantém nossas ações – pondera o autor – mas como campo vibratório, eis que a educação leva a compreender que “o homem evolui do instinto às sensações e das sensações para os sentimentos, sendo que o ponto delicado do sentimento é o amor”.

Evangelho e

educação

Jesus nos mostrou que o desenvolvimento das qualidades do espírito – assim enfatiza Walter de Oliveira – nos propicia a oportunidade de ingresso em esferas superiores, em mundos mais avançados e que, como herdeiros de Deus, somos herdeiros do infinito, do universo. E assevera que “os seus ensinamentos levam ao exercício e ao desenvolvimento das virtudes da alma, sintetizadas no amor ao próximo, ao mesmo tempo em que conduz o indivíduo ao desapego, ao desprendimento do egoísmo e do orgulho”.

O evangelho de Jesus é a maior fonte de educação, renovação e regeneração da humanidade. Mais do que normas de conduta, é o estímulo ao desenvolvimento do espírito. Estão implícitos no evangelho os princípios do aprimoramento moral, que levam o homem a Deus. E o homem está vinculado a Cristo como mestre e coordenador da evolução global. Educar o homem é educar o espírito. A criança é um ser em construção, que precisa ser iluminada pela centelha divina. O evangelho de Jesus é a fonte.

Capacidade

vibratória

A capacidade cognitiva do homem aumenta com a capacidade vibratória do espírito. A capacidade vibratória do espírito aumenta com a ação constante do bem, rumo à perfectibilidade humana.

Cada indivíduo entra em sintonia com vibrações superiores quando aumenta sua capacidade perceptiva. A mente elevada a Deus é como o espelho de luz que refrata a irradiação espiritual.

O poder do amor

Citando a revelação de um espírito, Walter de Oliveira destaca que, quando o sentimento de amor é profundo, a energia superior exerce poderosa atração, acordando sentimentos nobres que já conquistamos no passado e estimulando nosso futuro brilhante onde se localiza a herança divina. Enfatiza o autor, que “a educação baseada no despertar dos poderes latentes do espírito é a única que realmente conduz o espírito à autonomia integral, capaz de utilizar a própria vontade para seguir nos caminhos do bem, do belo, do melhor, enfim, no caminho da perfeição”.

A educação, vale frisar, não vem de cima para baixo, mas vem de dentro para fora, despertando no indivíduo a vontade construtiva que o leva a agir, pensar e sentir no bem. Então cada indivíduo se autoeduca ao tomar consciência da própria necessidade evolutiva.

O poder da vontade

Apoiado no pensamento de Calderaro, frisa o autor que “o momento presente é ação. Em toda ação estão presentes o sentimento e a inteligência interagindo com o meio”. Mas o que move o sentimento e a inteligência? – A vontade. O processo educativo deve consistir no estímulo da vontade, para impulsionar a ação do educando no sentido construtivo. E a vontade, que nasce da necessidade, deve ser movida pela energia do amor, que alimenta o espírito.

Segundo Emmanuel, em Pensamento e vida, também citado no texto em referência, temos que a mente humana é como um escritório dividido em departamentos diversos: do desejo, da Inteligência, da imaginação, da memória, da vontade, que governa os demais setores da ação mental.

O livre-arbítrio

Acompanhemos Walter de Oliveira: “O estímulo à vontade não violenta o livre arbítrio do indivíduo, muito pelo contrário, o respeita”. Partindo dessa premissa, o autor propõe a educação da vontade, que leva o indivíduo a querer avançar, intelectual e afetivamente (leia-se também moralmente).

Assim deduz que “a ação pedagógica deve, pois, estar centrada na vontade, estimulando o querer, para que o indivíduo possa agir no presente, com base nas conquistas passadas, construindo o próprio futuro”. Suas escolhas dependem do livre arbítrio.

Maturidade e

interesse

Adverte Walter de Oliveira: “O modo de estimular a vontade varia em função tanto da maturidade quanto dos interesses imediatos do espírito, conforme a bagagem que ele traz e suas possibilidades de manifestação”. O educador deve então utilizar as tendências e aptidões do educando, motivando seu interesse de agir em rumos elevados.

O autor esclarece: “Não é possível estimular uma ação que a criança não tenha condições de realizar. Por exemplo, uma criança de sete ou oito anos não conseguirá realizar operações abstratas”. Ao pretender alimentar o interesse da criança, o educador deve partir da realidade concreta para conduzi-la ao campo da abstração, até que possa desenvolver o pensamento lógico. As necessidades e os interesses da criança se manifestam de forma gradual, daí a importância de se conhecerem as etapas do seu desenvolvimento físico e mental. O amadurecimento cresce junto com o interesse. A alma da criança educada multiplica suas potencialidades.

(Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa)

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