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OPINIÃO

Escola dualista, o retrocesso continua

O fim da idade média e o início da idade moderna são marcados, dentre muitos fatores, pela diminuição da intervenção das forças religiosas e da igreja como órgãos determinantes na sociedade, seja na política ou economia. Estas mudanças se dão por meio de um processo de laicização das instituições e dos indivíduos. Tal ruptura repercutiu em todos os setores sociais, surgindo novas exigências, como por exemplo: a formação de um novo modelo de individuo, acarretando assim uma nova perspectiva de “sistema educacional”, mais complexo, elaborado e com currículos mais especializados. Pretendendo “desta forma, inserir um novo indivíduo na sociedade, mais ativo e autônomo”, onde o papel das instituições seria de educá-lo para vida cotidiana. Ocorre de certa forma um resgate da Paidéia clássica, abandonada no período medieval. Este modelo se tenciona no sentido de educação integral como primordial na construção destes novos indivíduos. Entretanto, o que vemos hoje na contemporaneidade são indivíduos que são forjados “integralmente” a partir das pretensões do Estado, onde a tendência é moldá-lo de acordo com os padrões pré-estabelecidos socialmente. Em nossa sociedade, está bem presente a necessidade de um individuo lucrativo que contribua e não atrase o desenvolvimento da sociedade e das novas instituições sociais. Entretanto, já há algum tempo percebemos que a educação em nosso Estado é tratada, mediada, calculada e repassada para a sociedade a partir de quantidade e um falseamento da qualidade. Muitos indivíduos que compõe de forma direta e indireta o sistema educacional brasileiro, muitas das vezes mencionam que este sistema é analfabeto, defasado ou que não condiz com a real utilidade da educação para a formação dos indivíduos, seja em qualquer esfera da vida. Entretanto, acredito que este sistema contempla os anseios da logica do sistema capitalista amparado por suas novas configurações, onde se embasa em discursos hegemônicos, meritocraticos e mercadológicos, sendo assim, a educação que é oferecida por este Estado contribui para a manutenção do sistema e de sua logica nefasta. Em nossa realidade, a educação no Estado de Goiás, podemos observar esta manutenção nas ações tomadas pelos nossos gestores, ações como, excessiva preocupação com as notas atingidas no IDBE, desvalorização da classe, militarização de instituições e agora as tentativas de terceirização da educação. Todos estes fatores contemplam e colaboram para o atraso no desenvolvimento social, pois a dualidade educacional ainda perdurará, sendo que a existência de escolas para filhos de burgueses e filhos de trabalhadores ainda é um fato dado em nossa sociedade. A escola fundamentada a partir destes princípios neoliberais é sem duvida alguma a segregação personificada entre os indivíduos, pois esta forma de tratamento educacional é a peça motriz da engrenagem que mantém as estruturas do sistema. Este retrocesso educacional que vivenciamos é encoberto por falseamentos qualitativos que são repassados pelo Estado, através de discursos fundamentados a partir do individualismo. Estes pressupostos educacionais além de trazer um retrocesso educacional, contribuem para a alienação social. As perspectivas educacionais que estão sendo trilhadas pelo governo do Estado de Goiás, em nosso julgamento, é um retrocesso desmedido e imensurável para a sociedade goiana. Pois transformar a educação goiana em celeiro de mão de obra para empresas e empresários é dar continuidade aos processos de desigualdades sociais, pois a nossa “escola” ainda tem um caráter dualista “escola para burguesia” e escola para o “proletariado”, colaborando assim para a continuidade da exploração dos futuros trabalhadores.

(Flávio Henrique da Silva, historiador pelo IF, pós-graduando em Políticas e Gestão da Educação profissional, mestrando em Sociologia pela UFG, membro do Núcleo de Estudos sobre o Trabalho, Tecnologia e Formação Humana NETFH ( IFG))

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