“A fama dos grandes homens devia ser sempre julgada pelos meios que usaram para obtê-la.”
François La Rochefoucauld
Será que não posso ser verdadeiro? Por toda a minha vida de professor, já vi o suficiente para entender que a falta de autenticidade diminui as demonstrações de reconhecimento. Por vezes, esses problemas corriqueiros obrigam-me a agradecer a Deus pelo final de cada dia de trabalho penoso e traumatizante. Ao invés de lamentar por está ficando cada vez mais velho, próximo da morte, agradeço! Também, por está ainda, onde as ilusões se encontram com a realidade, por que é o “fim da picada”.
Que “purgatório” é esse que me faz desejar a morte e não a vida suavemente flagelada? Logo eu que tinha sonhos e virtudes pela vida à fora! Agora só me resta esperar que a morte me traga reconhecimento e a fama póstuma que não é comum aos vivos. Os vivos se negam aos vivos, então faço greve e bato panelas nas ruas, perturbando os vivos e homenageando os mortos.
Se a morte é inimiga da vida, por que ela enaltece o que a vida produziu? Como pode um escritor ser valorizado só quando morre! Parece-me que as pessoa têm vergonha de aprender com os vivos! Assim nossos amigos desejam nossa morte para se gabar de íntimos do artista que os deixa com muita saudade. O desejar profundo dos que vivem da fama dos outros vai até a sepultura e matam novamente os quem poderia produzir mais se estimulados enquanto podiam se mover.
Por que tenho que fingir de morto para conquistar a admiração dos que me cercam? E ainda me consolam hipocritamente, dizendo que um tolo calado se passa por sábio! Às vezes, tenho de fingir que estou ainda trabalhando quando, na verdade, estou apenas cumprindo horário no local de serviço! E meus coordenadores fingem que me inspecionam quando também fingem para seus superiores que estão produzindo? A correria e o desespero é grande quando se recebe a ameça da Secretaria com os critérios para legitimar o dia letivo. Um bom exemplo disso, é essa reposição de aulas no sábado, não ministradas, por motivo da greve. Aí dois mandamentos foram quebrados: o descanso sabático e o não levantar falso testemunho! Como posso ir para o céu morar com você que só me força fingir para parecer bem na “fita”. Concluí que só há uma forma de ser verdadeiro, se vocês me verem morto, ainda que eu não queira ir por agora, mas, por enquanto, estou só “fingindo de morto para pegar o coveiro”.
(Claudeci Ferreira de Andrade, pós-graduado em Língua Portuguesa, licenciado em Letras, bacharel em Teologia, professor de filosofia, gramática e redação em Senador Canedo, funcionário público)