O modelo de polícia adotado no Brasil já se exauriu. Não acompanhou a evolução da tecnologia e nem o desenvolvimento da sociedade. Não há reciprocidade entre as pessoas e os policiais. Não se entendem, e estão sempre a reclamar uns dos outros. São os policiais fazendo das tripas o coração, para cumprirem a missão, mesmo sem efetivo, sem remuneração adequada, e com os meios insuficientes de um lado, e a população, insegura, assustada, clamando por segurança, e sem resposta plausível do outro. No meio dessa dessa situação, acomodados, assistindo tudo, quase que indiferentes, estão os governantes e dirigentes do País. Esses, pelo que se percebe, estão preocupadíssimos apenas com as próximas eleições, com a recuperação do que não ganharam e com o aperfeiçoamento de novas técnicas para enganarem os eleitores. No Brasil tem sido sempre assim, está registrado na história e na memória da população. Portanto, não falta ao eleitor o conhecimento necessário para reprovar essa gente nas próximas eleições. Pode até faltar atitude e compromisso com os interesses do País.
Pensando bem, no quesito segurança pública no Brasil, não se sabe o que é mais difícil, se é ser um policial, ou um beneficiário da ação desse policial. Basta lembrar que o Brasil é o país onde mais se mata policiais no mundo. É também onde são assassinadas 150 pessoas por dia. É uma verdadeira guerra silenciosa e tolerada. Não dá para se falar em combater o crime contra essa ou aquela classe ou segmento social. A violência é sistêmica, crônica e exige mudanças profundas de conceitos e de filosofia de trabalho das corporações que cuidam da segurança pública. Dizem que a polícia é o termômetro que mede o grau de civilização de um povo. Dizem também que cada povo têm a polícia que merece. Não são frases de minha autoria, portanto não discuto o mérito. Porém, vale a pena refletir sobre o seu conteúdo. Afinal, a sociedade é brasileira e que os policiais também o são. Com uma particularidade, esses são selecionados na sociedade, preparados, técnica e psicologicamente, para o cumprimento da missão de evitar o crime, combater o criminoso e manter a ordem pública. Com mais uma difícil tarefa, tratar todo mundo bem, independente do grau de instrução, da posição social, do seu estado de sobriedade, sem se queixar das dificuldades, da insegurança no trabalho e de trabalhar no estrito cumprimento da lei. É mole?
Por outro lado, não tão difícil quanto o relacionamento com as pessoas, está a tão falada integração profissional entre as polícias, civil e militar. Este, com certeza, não é um assunto muito fácil de ser tratado. Sempre que vem atona, encontra-se muita resistência por parte das corporações e dos governos estaduais. Em tese, todo mundo reconhece a necessidade de mudanças do modelo de segurança pública do Brasil. Muitos policiais até concordam, desde que não mexam na sua Polícia. A briga maior não é por eficiência na prestação de serviços, é pela conquista de mais poder e mais espaço, mesmo que não consigam atender bem a sociedade. Na busca do poder, cada corporação procura se fortalecer politicamente, elegendo parlamentares para defender os interesses da categoria, a exemplo de outras categorias de profissionais. Por estes e por outros argumentos, todo mundo fala da necessidade, urgente, da mudança do modelo de polícia, mas ninguém se atreve a tomar a iniciativa e mostrar à sociedade as verdadeiras razões das mudanças. A bem da verdade, esta é uma discussão que interessa muito pouco o cidadão. Para ele, o que realmente importa, é que haja segurança para todos, independente de saber se a polícia é civil ou militar. Se mal comparando, se os bandidos conseguem se unirem para combater os policiais, porque as corporações não se unem para combater os criminosos e restabelecer a ordem e a paz na sociedade? Creio que esta pode ser uma boa reflexão para os dirigentes de polícias do Brasil.
Voltando ao ponto central da segurança pública, percebe-se que as pessoas, com todo o direito, tem cobrado maior desempenho das polícias, as vezes até culpando-as pela situação de insegurança que vivemos. Acredita-se que a população está cobrando e criticando as pessoas erradas. Porque a questão não é a falta de dedicação e nem de compromisso dos policiais. Esses têm sido verdadeiros heróis, sacrificando a própria vida para defender a sociedade. A questão é que o problema não é falta de empenho das polícias, é falta dos meios humanos e materiais, os quais são supridos pelos governos municipais, estaduais e federal. Esses sim, devem ser os alvos das cobranças e das exigências da população brasileira. Espera-se que as autoridades, civis e militares, se aproveitem da crise política, administrativa e econômica do país, e inclua, também, para possíveis soluções, a revisão do modelo da polícia brasileira. Quem sabe se uma polícia única por estado, uma polícia federal e as guardas municipais, as coisas melhoram? Bem! Este é um assunto para o congresso nacional e para os dirigentes do País.
(Gercy Joaquim Camêlo, governador do Rotary International, Distrito 4530, Gestão 2012/2013)