A cada momento de nossa existência temos um objetivo que procuramos alcançar. Se o alcançarmos, visamos imediatamente a outros objetivos. Se falharmos, desistimos dele com pesar, ou procuramos alcançá-lo por outro caminho. E esses objetivos, pequenos ou grandes, mesquinhos ou sublimes, constituem os elos dos quais se forma a corrente de nossa vida. A diferença entre os objetivos atingidos e nos não atingidos está nas emoções que procuram em nós: bem-estar, exaltação e felicidade, no primeiro caso; retraimento, amargura e surgimento das doenças psicossomáticas, no segundo.
E, por vivermos num mundo dualista e classificarmos todas as coisas como boas ou más, começamos por chamar todo sucesso, um bem e toda derrota, um mal, até descobrirmos que, muitas vezes, o sucesso se transforma em derrota e vice-versa. Sentimo-nos, então, perplexos e confusos ante a vida, pois vemos a linha que traçamos para demarcar o bem e mal ser deslocada de um lugar para outro por uma força superior a nós. Força esta, que parece brincar com nossos valores e desorganizar nossas classificações. Assim, como tem os nossos próprios objetivos, cada um dos seres existentes, visíveis ou invisíveis, animados ou inanimados, racionais ou irracionais, têm também seu próprio objetivo. E a soma desses objetivos todos é o objetivo global da vida. Sonhar e realizar esses sonhos é estar vivendo e atingindo metas. Assim, a vida visa objetivos em nós como visamos objetivos nela. E os objetivos da vida sempre triunfam. Como nos escreve Paulo Coelho em seu livro - O Alquimista: “quando conspiramos a favor do universo, o universo conspira a nosso favor”. Quando nossos objetivos se harmonizam com a vida triunfamos também; e quando divergimos dela, somos derrotados. E um dos principais objetivos a que a vida visa em nós é levar-nos a nos harmonizar com ela, para sermos felizes, em vez de nos rebelar contra ela e sermos infelizes. E para nos permitir descobrir o caminho dessa harmonia, a vida nos dotou com as faculdades do raciocínio, da vontade, do livre arbítrio e da consciência. Mas estamos ainda pouco familiar, armados com essas armas tremendas, muitas vezes as manipulamos mal e com elas nós ferimos o coração e os olhos.
Se fôssemos mais hábeis em usar nossa mente, compreenderíamos que a burrice pôs o mundo regido pelas noções de bem e do mal só porque o caminho do bem e do mal é o único caminho do conhecimento e, portanto, da liberdade de erradas realizações... E, então, a morte não nos atemorizaria, e não a consideraríamos o maior dos males. Pois, se o mal, pode transformar-se em bem; e o bem, em mal, porque a morte, que se nos afigura um mal, não seria antes a porta para uma vida e talvez para uma sucessão de vidas novas? Se não fosse assim, que significariam esses anseios que estão em nós, por um saber ilimitado e um poder invencível e uma vida eterna; anseios que nos acompanham do berço ao túmulo?
E seria lógico que a vida, que não tem nem começo nem fim, nos encerre, a nós que fazemos parte dela, entre um começo e um fim? Ou que ela – que dispõe do infinito e do eterno – nos tenha dado esse simples espaço de tempo a que chamamos de existência humana, impondo-nos descobrir, em período tão curto, o senso da vida e o que ela espera de nós? E que diríamos daqueles que só receberam uma hora de vida, ou um dia, ou um mês, ou poucos anos de vida? E que diríamos daqueles que nascem marcados pelas enfermidades físicas ou mentais? Minha razão e minha “intuição” consciente impedem-me de ver o nascimento como um começo e na morte o fim. Cada vida humana estende-se ao tempo todo, e não somente a um período medido em horas, dias, meses ou anos. E o que encontro de sofrimento, reveses a morte na minha jornada ruma à liberdade, a plenitude do saber, não é senão o preço que devo pagar pelo saber e pela liberdade: preço ínfimo, apesar das aparências, quando comparado à magnitude do alvo: a luz.
Muitos são os motivos que nos levam ao sofrimento e a dor, porém, a compreensão desses sentimentos e o uso que fazemos deles faz toda a diferença; pois quando buscamos a compreensão dos sofrimentos que é regido por nossas escolhas, tudo que, a priori, chamamos de mal ou de dor; pode e deve se apresentar sobre outro prisma: uma compreensão mais abrangente que nos leva ao crescimento espiritual e/ou a maturidade psicológica, portanto, ao despertamento de nós mesmos.
Meu verdadeiro bem resulta, portanto, da minha habilidade em empregar acertadamente as forças com que a vida me armou para permitir-me descobrir seu alvo e o meu, e como esses alvos se harmonizam. E o meu mal resulta do mau emprego dessas armas. Armas que só podem ser bem usados a partir do conhecimento real e verdadeiro que temos de nós mesmos. Como nos ensina a pergunta 919 do Livro dos Espíritos: “O que devemos fazer para evitar o arrastamento ao mal e melhorarmos nessa vida”, de forma bastante iluminada nos responde nossos irmãos espirituais: “Um sábio da antiguidade vos disse: ‘Conheça-te a ti mesmo”. E, enquanto eu permanecer na minha habilidade em compreender o ensino da vida e, portanto, pelas consequências que resultam para mim, da minha compreensão correta ou errônea. E devo fazer do bem e do mal, degrau que me elevem pouco a pouco até onde a vida não é mais bem e mal; mas plenitude de existência e permanência, e sublime união entre o bem e o mal.
Parece-me, portanto, que o dilema existencial não está em saber a resposta da dicotomia entre o bem e o mal; mas, principalmente, em saber compreender através do bom senso e da intuição, a necessidade de fazer do bem e do mal a ponte verdadeira que me liga a DEUS.
Em virtude, talvez, desse dilema que nos aflige na mente e quando não compreendido desenvolvemos as doenças físicas denominadas de “doença psicossomática” que é uma doença física ou não, que tem seu princípio na mente. O que leva os pacientes de vários hospitais a uma consulta em conjunto com um psicólogo, psicoterapeuta ou psicanalista.
Essa conduta, que pode partir dos médicos que acompanham o caso, gera muitas dúvidas ao paciente. “Como algo é psicológico se dói no corpo?” O fato de que uma pessoa tenha uma doença psicossomática não significa que a dor e a enfermidade não existem. Pelo contrário, o corpo realmente está em sofrimento, com dores, feridas, descontroles e descompensações orgânicas, que inclusive são até dificilmente controladas com medicamentos e os recursos da medicina tradicional.
As doenças psicossomáticas podem se manifestar em diversos sistemas que constituem nosso corpo, como por exemplo: gastrointestinal (úlcera, gastrite, retocolite); respiratório (asma, bronquite); cardiovascular (hipertensão, taquicardia, angina); dermatológico (vitiligo, psoríase, dermatite, herpes, urticária, eczema); endócrino e metabólico (diabetes); nervoso (enxaqueca, vertigens); das articulações (artrite, artrose, tendinite, reumatismos). Assim como também a depressão e o alcoolismo podem estarem associadas a somatização de transtornos psicoemocionais não devidamente tratado por aquele que sofre.
É comum, nos casos de doenças psicossomáticas, que o paciente enfrente dificuldades no diagnóstico e até insucesso dos tratamentos propostos, gerando uma passagem por vários médicos especialistas em busca da cura ou alívio.
O diferencial mais importante para se considerar uma doença como psicossomática é entender que a causa principal desta descompensação física que aparece no corpo, está dentro do emocional da pessoa, ligada, portanto à sua mente, aos seus sentimentos, à sua afetividade. E esta variável emocional se torna importante tanto no desencadeamento de um episódio, de uma crise, quanto no aumento e/ou manutenção do sintoma, conforme cada pessoa.
A mente e o corpo formam um sistema único e os mecanismos inconscientes são muito presentes nesta ligação. Por isso é comum a sensação inicial de que os sintomas “vieram de repente”, “ou não existir nenhum motivo para que os sintomas aparecessem”. É difícil para um paciente com gastrite identificar quais podem ter sido as causas emocionais de desencadeamento de uma nova crise. A ansiedade e a irritabilidade são sentimentos comuns nos quadros psicossomáticos, e há uma tendência a identificar e culpabilizar eventos externos pelo problema, aumentando a sensação de impotência diante das dificuldades.
É importante deixar claro que o corpo também deve ser cuidado com os tratamentos adequados (A pessoa com gastrite deve procurar o médico e realizar exames solicitados, tomar os remédios prescritos, fazer uma dieta alimentar caso seja indicada). O aconselhável é um atendimento psicológico associado, que possibilite auxiliar o sujeito a nomear os sofrimentos que vivencia, para além do real do seu corpo. A importância deste tipo de abordagem nos transtornos psicossomáticos também se deve ao fato romper uma possível evolução crônica do problema, que limite progressivamente à vida social e emocional da pessoa.
(José Geraldo Rabelo, psicólogo holístico, psicoterapeuta espiritualista, parapsicólogo, filósofo clínico, artista plástico, prof. Educação Física, especialista em família, depressão, dependência química e alcoolismo, escritor e palestrante)