É muito comum ouvir que o Brasil enfrenta, atualmente, um período de grande apatia política por parte da população. Isto promove, dentre outros, a corrupção e a falta de representatividade do povo. Isto é, a partir do momento que os cidadãos não se interessam – e isto devido a vários motivos que serão tratados posteriormente – pela ciência política, não elegem candidatos que, de fato, correspondem às crenças particulares do eleitor de quais medidas poderiam melhorar o País, além disso, vendem seu voto com facilidade ou, apenas, votam no parente de um amigo, com o único objetivo de ‘fazer um favor’ e ‘votar porque é obrigado’.
A obrigatoriedade do voto não pode ser considerada um promotor do desinteresse em questão, isso não segue um padrão lógico de raciocínio. Defender que o indivíduo não se interessa por algo unicamente porque é obrigado a fazê-lo talvez seja um argumento que deva ser revisto. Todo cidadão brasileiro é obrigado a respeitar a legislação e seguir uma série de deveres, nem por isso há uma desmotivação para cumprir as exigências, isso se deve à crença de que determinados atos são um dever moral. Não se deve esquecer, porém, que a ‘imposição’ de algo, mesmo que racional, deve respeitar determinados fatores, como, por exemplo, uma pré-conscientização da população sobre a necessidade de algo. Exemplo de fracasso quanto à obrigatoriedade de algo é a Revolta da Vacina, mesmo que esta fosse algo positivo para os brasileiros, alguns tabus e crenças e a não conscientização da população promoveram a revolta.
Há professores que defendem que a Revolução Francesa é a culpada pelo desinteresse político. Afirmam que a conquista de direitos dos cidadãos promoveu certo ‘relaxamento’: a partir do momento que todos eram iguais não haveria a necessidade de mais luta, ou, ao menos, cada um participaria da democracia em seu país se lhe fosse conveniente ou agradável. Há dois erros principais nesse argumento. O primeiro é que a igualdade não era econômica e nem social. Ela era, e isso em tese, jurídica. O segundo aspecto problemático é que se a Revolução fosse a culpada, seria de se esperar que a tendência de desânimo seria universal e mais intenso próximo à origem. E não é isso que é observado em indicadores como o Democracy Index, países europeus têm participação maior que países na América Latina e África, por exemplo. Assim, isso serve para levantar uma hipótese interessante: quais as principais diferenças entre países europeus e países da América Latina e África? Certamente esses aspectos podem ser responsabilizados.
O que pode ser debatido é que esses países não só foram colonizados como enfrentaram regimes autoritários que rapidamente reprimiam as revoltas. No Brasil, mesmo após a elevação à categoria de Reino Unido (com Portugal e Algarves) as revoltas eram, se possível, reprimidas de modo rápido e violento com o intuito de desestimular novos levantes. Exemplo da selvageria permanente dos Governantes, que se estendeu da descoberta do Brasil até os dias de hoje é a Revolta de Canudos: “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Vencido palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.” (Excerto de Os Sertões, Euclides da Cunha), outro exemplo excelente é o genocídio promovido pelo Brasil na Guerra do Paraguai. Isso mostra que mesmo revoltas já contidas eram, estúpida e covardemente, massacradas.
Nota-se, então, que desde a formação do que se entende por nação brasileira, os pobres são afastados da política. Os impedimentos de acesso a uma educação e a ação cruel e repressiva dos policiais impedem o exercício da democracia há séculos. Este por conter as revoltas, aquele por evitar que os indivíduos assumam uma consciência social indispensável. O problema é agravado na Ditadura Militar. Estes fatores são maximizados, a tortura se faz presente no cotidiano do país e as escolas passam a exercer um papel de adestramento do aluno por impedir que este questione e argumente, além, é claro, do incentivo constante ao ‘decoreba’ que, infelizmente, ainda está presente.
A estrutura repressiva que grande parte dos brasileiros vive (não tiveram uma educação de qualidade, não têm acesso a eventos e lazer, são obrigadas a trabalhar exaustivamente e em algo que não lhes é agradável e ainda devem enfrentar os ônibus diariamente) dificulta o início de uma revolução e de maior participação efetiva na política. Todavia, não as impedem. Prova disso são as recentes movimentações no Brasil: Diretas Já, Impeachment do Collor, as Revoltas de 2013 e as recentes manifestações dos estudantes por uma educação melhor. O sistema pode tentar aprisionar e fazer com que o senso comum acredite que o brasileiro não é um ser político e ativista, mas a realidade talvez seja diferente do que tentam nos ensinar nas escolas e os brasileiros estejam, aos poucos, conquistando uma democracia plena.
(Arthur Santana Silva, graduando de Letras Português-Inglês)