Amo viver, embora muito tenha apanhado na vida. Reclamo das coisas ruins da vida, mas amo viver. A vida em algumas oportunidades me foi madastra. Na maioria das vezes, mãe. Analisando os prós e os contras da minha vida o saldo me é positivo.
Deixei de ver as coisas pelos seus lados negativos e passei a admirar mais as coisas boas, porque elas me brilham aos olhos, alegram o meu coração e trazem o sabor da felicidade.
Demorei a aprender a viver, e nem sei se aprendi tudo. Agora, que estou me sentido bem melhor, estou. Não me maltrato mais pensando no pior e nem me preocupo de como será o amanhã, o que antes era o meu sofrer por antecipação.
Entendi que planejar na vida não é já viver a boa vida, mas evitar que o ruim e as dificuldades da vida deem oportunidade para que as maldades alcancem a vida.
Antecipar o bom é programar para espantar o mal que sempre ronda a vida. E tudo começa por um pensar positivo sobre a vida.
Da vida eu só quero a vida. Quando eu for embora nada vou levar desta vida. E na vida o melhor da vida é o amigo que se tem na vida, pela compreensão e aceitação que ele me tem simplesmente pelo que eu sou em vida.
Construir faz parte da vida, enquanto o destruir é não saber como viver a vida. Dispor da vida não é desperdiçá-la no arbítrio que a destrua e a torne sem vida.
Ao descobrir que nada é absoluto na vida passei a usar a temperança como método de não me magoar. Procuro fazer com que o meu amargo seja doce. E foi nesse exercício interior que notei que ao terminar o amargo vem a doçura.
A pressa que eu tinha na vida acabou. Agora me conduzo na sentença do Eclesiastes quando ensina que “há tempo para todo o propósito debaixo do céu”. Assim, não me canso mais e vejo tudo acontecer. Deixei de ser cego.
Amar a vida é ser grato a Deus pela vida que Ele me deu. Eu sou aquela folha que caiu da árvore e Ele sabe como e por que caiu. Hoje tenho olhos para ver.
Minha visão de mundo mudou. Não quero mais abarcá-lo com as pernas. Estou quase entendendo completamente para que serve o perdão.
Amo a vida, amo viver e quero ainda aprender a amar tudo que tem vida -eu sei que consigo, falta pouco.
Iram Saraiva, ministro emérito do Tribunal de Contas da União.