Pela primeira vez, ao que eu saiba, um dono de "Casa de Recuperação" (nome dos milhares de "hospitais psiquiátricos clandestinos" que funcionam hoje no Brasil) é preso em Goiás, alegação de cárcere privado, alegação de tortura psicológica, maus-tratos, alegação de que estava mantendo presos alguns pacientes que não queriam ficar internados (reportagem pode ser vista em : http://g1.globo.com/goias/noticia/2016/11/dono-de-clinica-e-preso-suspeito-de-tortura-e-carcere-privado-em-goias.html). Tal fato reflete a total desorganização do governo: perseguição e fim dos hospitais psiquiátricos por motivos políticos (esquerdistas, "antiempresários-da-saúde", pró-Estado), corporativistas (profissionais da saúde não-médicos que precisam de empregos nos centros ambulatoriais que o governo montou para "concorrer e acabar" com hospitais psiquiátricos ), ideológicos ("luta contra o falo do médico", "luta contra a autoridade", "luta contra a opressão, o moralismo, o controle", "luta contra a truculência dos machos", "luta contra o orgulho e a onipotência da ciência").
Pois é, o problema é que ideologia, decretos, Estado, não cura doenças. Com a destruição da psiquiatria, o governo produziu dezenas de milhares de pacientes clandestinos, em locais sem nenhuma estrutura de saúde, quanto mais hospitalar. Enquanto isso, os "hospitais de verdade", como o filantrópico que eu dirijo, estão afogados em dívidas, asfixiados por imposição governamental de contratar centenas de empregados desnecessários, tendo de pagar impostos e mais impostos, tendo de seguir caminhões de leis e normas asfixiantes.
Para cada dez leitos que o governo acabou em psiquiatria surgiram 100 leitos destas "casas de recuperação". O problema não acabou, mudou de lugar e de ideologia. O que a ideologia esquerdista-feminista-antimédica queria, de fato, não era acabar com a “prisão psiquiátrica”, pois esta, como se vê, não só continua, mas aumentou em dez vezes. Se o objetivo desta ideologia era “acabar com a opressão da prisão psiquiátrica”, por que a mesma ideologia tem tolerado, no Brasil, a existência de milhares destas “instituições totalitárias”? É por um motivo específico: não queriam acabar com a “prisão psiquiátrica”, e sim com o psiquiatra. Ou seja, acabar com o médico, com o “homem” (o portador do falo), com o “empresário” (o ignóbil “homem que só quer lucro em cima da desgraça dos outros”).
O objetivo era acabar com uma atividade, o hospital, para colocar outra no lugar, centros de saúde mental do governo, com muito mais custos que os antigos hospitais, com centenas de milhares de novos funcionários públicos, com milhares de novos cabides de emprego (e cabos eleitorais). Este objetivo governamental foi sobejamente alcançado, o pessoal da “esquerda corporativista aboletado no trenzinho-da-alegria” foi, sempre, um poderosíssimo cabo-eleitoral para as eleições petistas.... Sempre fieis defensores da Dilma. Isso não quer dizer que a internação é a melhor conduta para o doente psiquiátrico, pelo contrário. A melhor conduta é o tratamento ambulatorial, em casa, mas o bom hospital tem também um bom ambulatório. tem um bom esquema de hospital-dia. Uma vez me disseram no governo: não queremos melhorar o hospital psiquiátrico, queremos acabar com ele... Esta é a política...
Para terem uma ideia do problema, de cada 10 pacientes que recebemos em nosso hospital, com uso de drogas, 9 e meio têm problemas psiquiátricos associados. A droga não é uma doença é um sintoma de uma doença, até as crianças de pré-primário sabem disso. E , sem resolutividade no governo, só lhes resta mesmo irem para o que "sobrou".... E o que sobrou são essas entidades médicas sem médico, essas entidades que se propõem a prestar uma assistência à saúde sem terem condições físicas e pessoais para isso. Resultado: criação de milhares de vagas de “cárcere privado” pelo Brasil afora. São a mesma população que se encontra nas cadeias, só que com dinheiro para retirar os filhos desta.
Filhos drogados, ou envolvidos com tráfico-disfarçado-de-consumo, são levados para estas instituições. Uma estatística mostra que, em muitas delas, os pacientes “involuntários” chegam até a 80%!! Algumas têm verdadeiras estruturas penitenciárias, com guardas, guaritas, salas de isolamento, instrumentos de agentes penitenciários. São uma mistura de cadeia com manicômio judiciário - inclusive num momento em que os “esquerdistas/feministas/libertários”, esses aí acima, apregoam aos quatro ventos que “nós , da luta antimanicomial, também acabamos com os “manicômios judiciários” do Brasil ).
Sim, no papel, acabaram com os hospitais psiquiátricos, acabaram com os manicômios judiciários. O “resultado deste fim” está aí pra todo mundo ver...
(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra)