A filiação do presidente Jair Bolsonaro ao PL terá potencial de alavancar candidaturas majoritárias do partido em estados do Sul, mas deve gerar atritos em diretórios estaduais no Norte e Nordeste.
Bolsonaro disse, segunda-feira (8) à CNN Brasil que está "99% fechado" para se filiar ao PL. O partido é comandado por Valdemar Costa Neto, antigo aliado do PT, condenado e preso no esquema do mensalão.
O presidente ainda afirmou que nesta quarta-feira (10) terá reunião para tratar dos últimos detalhes com Valdemar e, em seguida, "marcar a data do casamento". A expectativa é que a filiação seja agendada para 22 de novembro, data que coincide com o número da sigla.
A chegada do presidente ao partido enfrenta resistência no Amazonas, no Piauí e em Alagoas. E tem potencial para gerar atritos em estados como São Paulo e Pará.
No Amazonas, a filiação do presidente deve isolar o deputado federal Marcelo Ramos (PL), que é vice-presidente da Câmara dos Deputados e tem atuado como opositor de Bolsonaro no Congresso. "Em respeito ao partido que sempre me tratou com respeito, não falarei sobre a filiação de Bolsonaro. Por enquanto… Todos sabem que não é uma situação cômoda para mim e, no momento oportuno, irei me pronunciar", afirmou Ramos nesta segunda em uma rede social.
A expectativa é que a legenda ganhe o reforço do Coronel Alfredo Menezes, amigo de Bolsonaro e pré-candidato ao Senado no Amazonas.
No Piauí, o deputado federal Fábio Abreu (PL) é aliado do governador Wellington Dias (PT) e deve manter a parceira com o petista em 2022. Ele afirma que não irá conviver com aliados de Bolsonaro no mesmo partido e, caso haja imposição de novos filiados, irá deixar a legenda.
Em Alagoas, a legenda é comandada pelo ex-deputado Maurício Quintela Lessa, que foi ministro dos Transportes da gestão Michel Temer (MDB). Desde 2019, ele é secretário na gestão Renan Filho (MDB), que deve apoiar o ex-presidente Lula (PT) ao Planalto em 2022.
A situação é semelhante no Pará, onde o partido é fiel aliado do governador Helder Barbalho (MDB), que concorre à reeleição em 2022. Barbalho tenta montar um palanque amplo que deve incluir petistas e bolsonaristas, mas costuma ser alvo de petardos de aliados do presidente.
São Paulo também é um entrave, já que o partido faz parte da base do governador João Doria e havia assegurado apoio ao vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB), na sucessão ao governo paulista. O estado é considerado chave para os bolsonaristas por ser base eleitoral do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do presidente.
Na Bahia, a legenda deixou a base do governador Rui Costa (PT) e aproximou-se de ACM Neto (DEM), que tem adotado uma postura crítica ao presidente.
Líderes do partido, contudo, avaliam que a chegada de Bolsonaro terá potencial para dobrar a bancada do partido na Câmara, incluindo bolsonaristas, aliados de ACM Neto e até apoiadores de Rui Costa.
Se há incêndios para serem debelados em estados do Norte e Nordeste, a chegada do presidente tende a fortalecer pré-candidaturas a governos estaduais do partido, especialmente em estados do Sul.