Saiu uma pesquisa de intenção de votos, realizada pelo Instituto Paraná e divulgada, inicialmente, pela TV Record, e rebatida pelos demais periódicos da capital goiana e, também, do interior. Nenhuma surpresa. Ronaldo Caiado aparece em primeiro lugar. Disso já sabiam todos os que observam com certa atenção a política da província. Ronaldo Caiado é candidato a governador desde os anos 90. Aliás, até já disputou uma eleição para governador, em l994, tendo sido derrotado por Maguito Villela. Naquele época, Caiado começara na frente.
Quem na verdade se saiu bem nesta pesquisa foi José Eliton. O vice-governador aparece em segundo lugar, à frente de Daniel Vilella, a esperança juvenil do velho PMDB senil. Em conversas com vários políticos, José Eliton se mostrou alegre com o resultado, muito embora, de público, prefere não comentar a pesquisa. Nem deveria. Para tudo tem sua hora. O vice-governador anda cada vez mais concentrado nos seus afazeres administrativos, sendo ele o principal coordenador do programa “Goiás na frente”, ima ousada ação governamental de investimentos em prol do interior, com forte viés desenvolvimentista.
A candidatura de Daniel Villela é um equívoco do começo ao fim. Ele é apresentado como “renovação”, encarna o mito supersticioso do “novo na política”. Tirando o fato de ser relativamente jovem (tem pouco mais de 30 anos), e de ter estampa de galã da Globo, Daniel representa o que há de mais velho e carcomido na política nacional. É o herdeiro de um politico sério e honrado, com perfil moderado de centro-esquerda, o ex-governador Maguito Villela. Mas vocação política não se transmite por herança. Liderança não é fenômeno cromossomial.
Daniel aceitou ser autor de um projeto de lei nocivo aos interesses nacionais, o controvertido novo marco legal das telecomunicações. Foi relator de uma comissão especial que aprovou a tal reforma trabalhista, um retrocesso institucional e social, tendo defendido com entusiasmo a proposta, no que vai na contramão de classe trabalhadora em peso. Daniel está anos-luz à direita de seu pai, Maguito Villela. Tão jovem e já tão reacionário!
Sem carisma e sem discurso que atraísse para sua pessoa a atenção do eleitorado, Daniel foi perdendo substância dentro do próprio PMDB. Hoje, no partido, que anda sob tutela de Iris Rezende Machado, crescem as fileiras do caiadismo. Prefeitos e deputados peemedebistas já não têm o menor puder de, publicamente, manifestar apoio à pretensão de Caiado. Exigem dele apenas que se filie à sigla. Na medida em Daniel ficar ainda mais volátil, podem apostar cem contra um que esta exigência será afastada.
Pesquisas de opinião refletem momentos. Não significa que o que lidera, agora, já ganhou. Nos últimos anos, os favoritos das pesquisas perderam sistematicamente as eleições. Os vencedores de véspera são sempre os perdedores da hora. Uma série de eventos comprovando esta assertiva quase nos dá, por indução, a certeza probabilística, bayeseneana ( referência ao estatístico Thomas Bayes) de que Caiado também vai perder mais esta.
A série Bayesiana começa em l984. 1982 é um caso particular. Comecemos, então, por ele. Quando as eleições diretas para governador foram restabelecidas em 1980, para se realizarem em l982, Íris Rezende liderou as pesquisas do começo ao fim e venceu folgadamente seu competidor, o saudoso Otávio Lage. Eram tempos diferentes. Havia restrições à propaganda eleitoral na televisão, pelo que marqueteiros não davam palpites em assuntos políticos. Em compensação, não existia esta proibição burra de proibir campanha antecipada.
Íris inaugurou sua campanha em julho de l980 com um grandioso comício em Morrinhos, onde se anaçou candidato e apresentou as principais propostas. A partir daí, começou a percorrer o Estado. Toda semana tinha comício de Íris em algum lugar. Demais disso, o clima geral era de revanche política; Era preciso liquidar a ditadura, derrotando nas urnas seus representantes em Goiás. O candidato do governismo, Otávio Lage, só entrou na liça há cinco meses do pleito, quando Íris já estava há mais de um ano em ativa e festiva caça aos votos.
Restabelecida a normalidade democrática no Estado, tivemos início à série de disputas que começam com o líder das pesquisas perdendo a eleição. Em l984, Mauro Borges, rompido com o PMDB, se lança candidato a governador a um ano da eleição. As primeiras pesquisas o dão bem à frente de Henrique Santillo. Pois deu Santillo em primeiro lugar.
Em l990 Íris sai candidato a governador liderando as pesquisas. Venceu as eleições. Então, neste caso, não houve virada? Houve, sim. Virada e revirada. Vai ouvindo: Começou com Iram Saraiva liderando. Depois Íris passou Iram. Na sequência, já próximo ao dia da eleição, Paulo Roberto Cunha ultrapassou Íris Rezende. Mas aí aconteceu o imponderável, aquele fator que João Goulart dizia ser a úncia coisa em política que lhe metia medo.
O imponderável veio na forma de um acidente automobilístico. A camioneta em que Íris viajava capotou e ele ficou seriamente ferido. Perdeu o baço. Passou o resto da campanha baixado à enfermaria. A campanha prosseguiu sem ele. O acidente, em que íris correu risco de vida – ou de morte, como queira -, causou comoção pública. Milhares de aflitos cidadãos ficavam o dia todo em frente ao hospital rezando terços pela total recuperação do candidato. Acendiam-se velas e depositavam-se flores na caçada do nosocômio. Íris ainda convalescia quando a justiça eleitoral, depois de vários dias de apuração, prolatou o resultado das urnas.
O acidente que quase tirou a vida de Íris Rezende foi um desses imponderáveis que mudam drasticamente o rumo ordinário das coisas. Mal comparando, foi como se um grande meteoro, daqueles baitelos, colidissem com a Terra, modificando sua órbita, ou deslocando seu eixo rotacional.
Em 94 Caiado lidera as pesquisas iniciais contra o deputado federal Maguito Vilella. O resultado foi a vitória do candidato do PMDB. Em l998, Íris Rezende aparece na primeira pesquisa com mais de 70% de votos, contra irrisórios 2% do desconhecido Marconi Perillo. Desta vez, Íris perdeu, no primeiro e no segundo turno. Em 2002, Maguito saiu na frente. Perdeu para Marconi. Em 2006, novamente Maguito saiu na dianteira. Perdeu para Alcides Rodrigues, apoiado por Marconi. Em 2010, Íris sai na frente. Marconi ganha. Em 2014, Íris ai de novo na frente. E de novo perde para Marconi.
Existem miríades de explicações. Cada eleição é uma história. De comum a todas essas disputas temos o fator Anápolis. A partir de de 1998, todo candidato a governador que vence em Anápolis, vence as eleições. Isto se deve ao fato de o PMDN ter entrado em colapso naquela cidade. A falência do PMDB anapolino tem tudo a ver com a luta feroz entre Iris e Santillo pelo controle do PMDB goiano, que terminou com Íris impondo a Santillo e ao PMDB anapolino uma humilhação pública que jamais será perdoada naquela cidade.
A primeira pesquisa publicada mostra que o nome de José Eliton está em crescimento. Apareceu com mais de 10%, ou seja, na casa dos dois dígitos, o que demonstra robustez e competitividade. Para quem aparecia, nas avaliações subjetivas da classe política, atrás de Daniel, este segundo lugar tem cara de vitalidade política. E serve, de resto, para sepultar, dentro da base marconista, especulações de postulações improvisadas, sem nenhuma base de sustentação. Falando claro, fica sepultada, definitivamente, todas as especulações em torno do nome do deputado José Vitti como alternativa tucana ao nome de José Eliton.
Aparecer em segundo lugar, à frente de Daniel, dá ao vice-governador José Eliton plenas condições de competitividade e aponta para virada lá na frente