Ex-presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, ex-presidente do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), fundador e ex-presidente da Asmego (Associação dos Magistrados do Estado de Goiás), o desembargador aposentado Homero Sabino tomou posse na noite de ontem como primeiro vice-presidente na diretoria executiva da Asmego. A cerimônia, que empossou na presidência o juiz Wilton Muller Salomão, ocorreu no auditório da entidade.
Decano da magistratura, Homero Sabino continua aos 88 anos um homem de coragem. Em seu discurso, ele defendeu a retomada do garantismo como princípio maior dos operadores do Direito: “Juiz garantista que fui, vi do meu gabinete a perspectiva de fundar a Asmego. Não por coincidência, bem na época em que os direitos também de magistrados eram perseguidos pelos governos ditatoriais, que um dia mancharam a história de nossa Pátria, o Brasil. Como juiz da Quarta Vara Criminal de Goiânia, mandei arquivar nos anos 1960 Inquéritos Policiais Militares abertos que pediam sem fundamento a cassação de direitos políticos de 250 intelectuais, presidentes de associações de classe, professores, jornalistas, juízes, membros do Ministério Público, sindicalistas, estudantes e socialistas. Tive a convicção que era a hora certa de criar esta associação tão respeitada que colaborou recentemente, para eleição, muito importante, do nosso presidente da AMB (Associação dos Magistrados do Brasil), o dr. Jaime de Oliveira, aqui presente. Muito obrigado presidente Jaime, por confiar à Asmego cargos estratégicos na AMB, que hoje são ocupados por colegas nossos, associados a Asmego. Neste período não posso deixar de mencionar que o editorial de nosso jornal: Novos Tempos, Novos Rumos para a AMB”, reflete.
- Garantismo e a esperança do Brasil
Numa entrevista exclusiva ao Diário da Manhã, o ex-desembargador retomou temas que foram por ele abordados em entrevista histórica publicada neste mesmo DM no dia 31 de dezembro de 2016, onde alertava: “Lava Jato tem que chegar ao fim, senão vira ditadura do Judiciário”. Um ano e um mês depois ele reforça este mesmo entendimento. “A ditadura do Judiciário é pior que a ditadura militar. Está nas mãos do Judiciário a maior parte da responsabilidade para voltar o país a ter mais esperanças no fim desta crise terrível. Se o Judiciário errar, aí não sei o que será do futuro do país. Este é o meu pensamento”, assevera. Para ele, o direito no Brasil não se resume apenas as decisões tomadas por determinados juízes de Curitiba, Rio de Janeiro e Brasília.
Com a experiência de quem peitou a ditadura militar num de seus piores momentos, Homero Sabino enfatiza que é preciso que seja retomado o comedimento e a irrestrita observância à Constituição na aplicação do Direito. Em seu discurso, ele advertiu: “Não há que se discutir se a lei determina sanções para aqueles que transgridem, poderosos ou não, agentes políticos ou não, influentes ou não, opinião pública ou não. A lei é igual pra todos, e da nossa parte, senhores, o texto constitucional e tudo que dele deságua, será rigorosamente observado”.
- Redes sociais e ativismo de juízes
No entendimento de Homero Sabino, “os juízes não podem dar a sentença como se fosse vingança, mas sim uma decisão serena”. Ele se diz preocupado com o ativismo de alguns operadores do Direito, que a seu ver “parece que não estão condenando por causa das provas, e sim pela raiva destilada nas redes sociais que são perigosas. Você não pode pregar e aceitar tudo aquilo que está ali. Porque ali (nas redes) está misturado nazistas e muita gente que propõe volta da ditadura, tudo isto é muito perigoso”, reflete.
Questionado pelo repórter, porque aos 88 anos ele continua fiel aos princípios do início de sua carreira, o ex-desembargador disse: “Continuo na luta contra aqueles que pregam nova ditadura militar. Isto é um absurdo! A gente (e principalmente, vocês jornalistas) têm que ter cuidado. Uma coisa é condenar o Lula, mas eu, por exemplo, tiro do meu celular tudo aquilo que de certa forma degrada um homem que pode ter errado. Vamos condená-lo por isso, mas não vamos ser algozes. Juízes são julgadores e não algozes”, ensina.
- Lava Jato sem excessos
Crítico da operação Lava Jato, Homero Sabino acha que o combate a corrupção é importante, mas, assim como alertou na entrevista ao DM, um ano antes, volta a advertir para excessos que estão sendo cometidos. Ele discorda das condenações tendo por base as delações premiadas, alerta para ativismo de setores do Ministério Público, que a seu ver, acabaram com a persecução penal e com a prescrição.
“Eu continuo contra, como disse na minha entrevista (em 2016) os excessos da Lava Jato, contra a delação premiada. E sou contra. O Ministério Público hoje é o Quarto Poder. A ação penal hoje está com ele na delação premiada que o juiz não pode interferir. Isto é um absurdo! Como foi dito na matéria que este jornal fez em dezembro, a delação premiada existiu na revolução. Eles obrigavam (a delação) sob tortura. Eles prendiam já para buscar provas para processar aqueles que eram contra a revolução, como os jornalistas que não se rendiam e tudo mais. Em 1964, como você escreveu naquela matéria feita em dezembro, eu arquivei o processo contra 250 pessoas que foi feito apenas com base em delações”, ressalta.
O ex-presidente do TJ-GO salienta que nos termos das condenações feitas no âmbito da Lava Jato a persecução penal está acabada. “Estão aproveitando e encurtam ela, e vão direto aquele que foi condenado a 30 anos, e que vai fazer uma delação. Pode até ter um fundo de verdade e uma parte verdadeira, mas será que é desse jeito que uma Justiça funciona? Só com três juízes famosos no país. Será que só estes três resolvem o problema do Brasil?”, questiona. “A prescrição, no meu modo de entender, tem que ser respeitada”, arremata.
- Presunção de inocência
Para Homero Sabino, o juiz garantista, com todo cuidado e com toda seriedade, deve garantir os direitos do processado, dando-lhe amplo campo para a sua defesa. “O juiz é preparado para isto, para não haver excesso, para não haver prova falsa, para não desmoralizar a pessoa antes de ser julgada ou condenada”, ensina. Sabino diz que é à favor da responsabilização direta do promotor e até do juiz se ele não estuda o processo e conscientemente age dolosamente na sua sentença.
- Anistia deve ser repensada
Refletindo sobre a crise política e institucional que hoje assola o país, o ex-desembargador relembra os pactos sociais que levaram ao fim da ditadura militar. Ele salienta que os Três Poderes devem se mirar na Anistia, que foi aprovada em 1979, que incluiu perseguidos e perseguidores, pacificando o país e abrindo caminho para a volta da democracia e do Estado de Direito. Sua avaliação é que deve ser feita uma nova concertação nacional, para que as instituições possam retomar o equilíbrio e a independência entre os Três Poderes.
Do alto de sua vivência de mais de seis décadas como operador do Direito e como advogado, Homero Sabino se diz preocupado com a interferência de setores do MP e do judiciário ligados a Lava Jato na nomeação de ministros.”Eu acho que o presidente Temer tem o direito de errar, e o juiz não pode corrigir ele. Ele foi eleito para fazer estas nomeações. Agora, tomou posse, aí sim o Ministério Público, se necessário for, entra com ação para afastar este ministro”, conclui.