A Doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanosoma Cruzi e transmitida por insetos conhecidos como “barbeiros”. Conforme dados do II Conselho Brasileiro em Doença de Chagas, em 2015, a estimativa variava entre 1,9 e 4,6 milhões de pessoas infectadas. A situação, atualmente, não parece ter mudado muito e a doença continua sendo considerada “silenciosa e silenciada”, já que, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, 70% das pessoas desconhecem que estão contaminadas.
O Conselho também analisou que cerca de 30% das pessoas infectadas, na fase crônica, podem desenvolver danos cardíacos. “Toda insuficiência cardíaca, seja ela causada por impacto, por inflamações, pela Doença de Chagas, tem a mesma característica fisiopatológica, porque se trata de um ataque dessas doenças ao músculo cardíaco.
Mas ele fica enfraquecido e isso impacta em vários órgãos por meio de modificações hormonais, de modificações de fluxo de sangue que, ao longo do tempo, podem causar a dilatação do coração, já que ele não consegue dar conta do sangue que tem que bombear.
Além desse comprometimento, existem alguns no sistema elétrico do coração e outras alterações que não ocorrem na insuficiência cardíaca, causada, por exemplo, pelo infarto”, explica Martino Martinelli, diretor da Unidade Clínica de Estimulação Cardíaca do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
“Uma pesquisa clínica nada mais é do que um estudo bem projetado para investigar uma hipótese”, comenta Martinelli. O modulador da contratilidade cardíaca é um dispositivo que já foi testado para outras doenças que afetam o coração, como doenças coronárias e as que causam infarto, porém, não foi testado para as consequências cardíacas da Doença de Chagas.
Objetivos
Esse estudo desenvolvido pelo InCor tem o objetivo de identificar se esse novo aparelho é melhor no tratamento dessa doença que, embora seja caracteristicamente do território brasileiro, afeta milhões de pessoas ao redor do mundo: “Esse estudo trará informações não só para o território brasileiro, a América do Sul e a América Latina, mas, sim, para o mundo todo”, ressalta o especialista.
Apesar da grande semelhança tecnológica com o marca-passo comum, as funções do modulador são diferentes: “O marcapasso é utilizado para regular os batimentos cardíacos quando estão lentos, ele corrige isso. No caso dessa ferramenta, ao estimular o coração de uma maneira específica com alta energia, ela consegue introduzir um estímulo no momento em que o coração está bombeando. Ele vai se contrair para mandar sangue para o corpo inteiro e, com essa rajada de impulso elétrico, consegue melhorar essa contração ou tentar até normalizar as condições basais. A cada batimento, um pulso elétrico consegue modificar as características das células do coração, ao corrigir o metabolismo interno das células”, comenta Martinelli.