Conheça a Poesia de Ibu Junior Martins Piradju, ilustrada pelo quadrinista Robert Yo
Eu me defendo na trincheira
eu tô na guerra!
Ainda piso em chão de terra
ainda respiro favela.
Desde criança percebendo tudo errado a minha volta
vendo tudo acontecendo aumentando minha revolta
que aos poucos foi mudando foi virando resistência
nós temos sabedoria, eles só têm inteligência,
Aqui não chega investimento, isso não acerta favelado,
só vêm mesmo ódio e rancor, policial despreparado,
prefeito ou deputado pedindo seu voto novo,
não rola mais, o que queremos é todo poder ao povo!
seu emprego miserável, meu cargo subordinado
não diz sobre quem sou, o que espero pro futuro
aonde piso, com quem ando, como luto o que construo
em que acredito, como vivo, como resisto a isso tudo.
Eu transcendi a linha invisível, eu fui pro centro,
contrariei quem esperava que eu fosse virar detento,
Desconstruí que me ensinaram sobre que é certo e errado,
conhecimento tradicional, me deixou mais empoderado.
Tô me sentindo cada dia, um pouco mais colonizado
Fui pro centro da cidade, virei universitário
só por curiosidade, faculdade li seus clássicos
mas não pertenço a vocês, sei de onde vim, eu tô ligado
dentre as classificações de quem invade outro espaço
me sinto mais confortável, como sendo infiltrado.
Aprendi sua linguagem, debati no teu espaço,
Minha teoria, minha visão, sobre tudo o que eu faço
pra lembra que a revolução não tá lá na academia,
Liga só, ela lá fora acontecendo todo dia,
e por falar em revolução, ontem comecei a minha,
organizando uma horta nova, lá na favela vizinha,
e quando em cada esquina brota uma semente nova,
chama o povo para a rua, pois vai ter chegado a hora,
Sua resenha, sua falácia, tá cansada, tá sozinha,
desespero, despreparo de quem vive uma mentira,
eu prefiro o primitivo, o mal é a civilização,
que tem tecnologia, mas não respeita irmã e irmão.
Não me impressiono com a Europa, teu exemplo não me engana,
só está lá em abundância, porque a mãe África sangra,
Começou um dia com a extração de recurso natural
Tudo que toco e observo no estado material.
E enquanto se tem fome não dá pra se organizar
prioridade é buscar algo pra se alimentar
Sem defesa, nem ataque já não rola resistir
Caminho aberto, vulnerável pro inimigo oprimir.
Encontrei meu ego, parado olhando para mim,
perguntando o que eu queria que ele iria conseguir
calma, não me esqueci, que ele é só uma ferramenta,
que eles usam pra vender, o que não me complementa.
Eu tô focado na trincheira eu não tô pra brincadeira,
mapeei os seus defeitos durante minha vida inteira,
e depois da madrugada descobri seu ponto fraco,
não existe movimento se estamos todos parados.
E tem quem pense que é viagem, que é utopia minha,
lugar lindo assim não existe, ser humano é egoísta
Pra esses caras eu sempre falo, olha se tu desacredita
vai no google, joga assim: Movimento Zapatista!
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