Musical homenageia obra do Queen no Teatro Rio Vermelho
Marcus Vinícius Beck
Publicado em 29 de julho de 2022 às 19:36 | Atualizado há 3 anos
Freddie Mercury mexia com o sentimento do público, fustigava sensações e emocionava ao tocar suas músicas para fãs ensandecidos. A cada vez que subia ao palco, era como se estivesse à frente de uma orquestra regida por músicos capazes de fazer a pele arrepiar, numa simbiose perfeita entre piano, baixo, guitarra, voz. Suas canções, perfeitas como o beijo de um casal apaixonado, se tornaram trilha sonora de porres, embalaram início de relacionamento e, no auge da fossa, ajudaram a segurar a barra.
Aos 45 anos, já reconhecido como um grande letrista, notório pianista e vocalista de notas agudas que lembravam uma ópera, Mercury morreu em decorrência de complicações provocadas pelo vírus HIV. Eram tempos de tratamento primitivo, os médicos receitavam AZT e os coquetéis antirretrovirais ainda não tinham sido descobertos. O canto de Mercury calou-se, para viver. E em mim, em você que me lê, nos discos na estante que repousam sob as faixas, nos CDs empilhados, no filme “Bohemian Rhapsody” e na atuação de Rami Malek… Freddie Mercury está aí.
O Queen também. E estará no Teatro Rio Vermelho, nesta sexta, 29, às 21h. Aclamado pelo público em Belo Horizonte, Curitiba e Brasília, o musical “Queen Celebration In Concert” traz o cantor André Abreu na pele do lendário vocalista, numa apresentação que promete fazer o público se perder nas curvas da memória. O espetáculo contará com uma orquestra formada por 12 músicos, sob a regência do maestro Rodrigo de Almeida Miguel Scarpa. Segundo a Boom Produções Artísticas, os ingressos estão à venda no site shoppiningressos.com.br e vão de R$ 80 e R$ 220.
Para André, o Queen é uma “banda f…” porque era composta por quatro músicos talentosos. “Tinham um talento absurdo. Quatro compositores de muita qualidade. Fizeram grandes sucessos. E, reduzindo os quatro para três, eram três que cantavam muito bem”, afirma o artista, ao DM, destacando que Mercury tinha, ninguém duvida, uma voz fora do comum, mas o guitarrista Brian May e o baterista Roger Meddows também cantavam muito bem. “Eram quatro pessoas fora do comum, quatro virtuosos naquilo que faziam.”
Com a benção de Hendrix
O Queen, em seu início, foi abençoado pelas experimentações sonoras realizadas por Jimi Hendrix no elepê “Eletric Ladyland”, disco lançado em 1968. Nos solos criados por Hendrix, expressava-se o horror da Guerra do Vietnã. Mercury e May, como acontecia com qualquer garoto fã de rock, piraram com o jeito hendrixniano e resolveram formar uma banda. A eles, juntaram-se, não muito tempo depois, os músicos Roger Taylor, nas baquetas, e John Deacon, nas quatro cordas. Essa coisinha louca chamada amor logo estaria nos holofotes.
Em 1973, com “Queen”, a expectativa era que Mercury, May, Taylor e Deacon acabassem se tornando um novo Led Zeppelin. Pelo menos era essa a tese defendida pelo crítico Gordon Fletcher, da revista Rolling Stone, numa resenha sobre a estreia do quarteto: “Não há dúvida de que esta banda inglesa, descolada e energética, tem as ferramentas necessárias para reivindicar o trono de heavy metal do Zeppelin e, além disso, para se tornar uma força verdadeiramente influente no mundo do rock. O primeiro álbum é excelente.”
Sim, embora seja engraçado ver o que a imprensa publicava à época, o som do Queen era original, gostoso e, sem dúvida, muito prazeroso. Mas diferente de tudo o que era feito. A banda mostrou, na verdade, que queria o novo, utilizando uma harpa na gravação de estúdio da faixa “Love My Life”, apresentando vocais sobrepostos “Somebody To Love” ou colocando um trecho de ópera em “Bohemian Rhapsody”. Foi nessa época que os hits foram explodindo até virarem um estouro global, o que ocorreu com “We Are The Champions” e “We Will Rock You”, ambos lançados em 1977, no em que a banda estava no auge.
Nos anos 1980, o grupo percebeu que o rock ´n´ roll não estava mais com nada e resolveu se aventurar pela disco music – o que os Rolling Stones, anos antes, em 78, com “Some Girls”, tinham feito na faixa que abre o disco, o hit “Miss You” – e, especialmente, no lucrativo universo do pop, com sucessos como “I Want To Break Free” e A Kind Of Magic”. Versátil e com gosto para o sucesso, revelando uma faceta pop, o Queen fez ainda trilhas sonoras para filmes, como “Flash Gordon”, de 1980, e “Highlander”, lançado seis anos depois.
Versatilidade e ousadia
De acordo com André Abreu, o artista que promete fazer Freddie Mercury ressurgir no Teatro Rio Vermelho nesta sexta com musical, o legado deixado pelo vocalista do Queen é sua obra. “Ela é muito impressionante, porque geralmente a gente tem cantores ou bandas que se prendem aos seus estilos de origem. É aquela característica estilística que conduz a carreira de um artista. E o Freddie, ao longo das duas décadas em que ele fez sucesso e foi conhecido, criou coisas completamente diferentes”, pontua André, afirmando que a versatilidade, junto da ousadia, são os maiores legados de Mercury.
Em “Queen Celebration In Concert”, serão reproduzidas músicas como “Love of my Life”, “We Are The Champions”, “We Will Rock You”, “Radio Gaga”, “Crazy Little Thing Called Love”, “Don’t Stop Me Now”, “Somebody to Love” e “Another One Bites the Dust”. Além disso, o destaque da apresentação vai para o guitarrista Danilo Toledo, que consegue ser fiel aos solos de Brian May. Fecham o time de instrumentistas o baixista PH Mazzilli e o baterista Guib Silva. “É um trabalho que exige energia e entrega. Mais que um tributo, é uma homenagem de um fã para o ídolo, e de fã para fãs”, diz André. O Queen, para nossa sorte, está vivo.