Cultura

S de saudade

Diário da Manhã

Publicado em 30 de dezembro de 2021 às 13:48 | Atualizado há 4 meses


Compositora da sofrência, das dores de cotovelo e do empoderamento às mulheres que sofriam em relacionamentos tóxicos com seus homens toscos, a goiana de Cristianópolis começou a carreira como compositora escrevendo hits para duplas como Henrique e Juliano, João Neto e Federico, Matheus e Kauan e Jorge e Matheus. Suas palavras também foram cantadas por Wesley Safadão e Cristiano Araújo, morto prematuramente num acidente de carro, em 2015. O estouro veio com o single “Infiel”, música que figura no topo das preferidas do público nas plataformas de streaming.



Marília e Maurílio eram representantes de uma nova geração da música sertaneja. A rainha da sofrência mais preocupada em quebrar tabus, fundir ritmos, estilos e cantar as agruras dos relacionamentos. Já o parceiro de Luíza, cujo estouro nacional foi com “Sextou com S de Saudade”, uma parceria com Zé Neto e Cristiano, abraçava a sofrência símbolo desses artistas. Como se fosse um bate-papo entre as duplas, a letra versa sobre sextar com saudade, em baladas cheias espalhadas pela cidade. “Nenhum DJ toca sua voz falando que me amava”, diz o eu-lírico, num dos versos da canção.

O estouro foi em plena pandemia, em 2020, quando todos estavam em casa, trancados, sem poder reunir os amigos ou sair para curtir com o crush. A música tocou ainda no reality Big Brother Brasil (BBB), também campeão de audiência na Globo durante a quarentena, com os versos na boca dos participantes da casa. “Eu falei pro Maurílio: ‘meu irmão, pode comprar sua fazenda com 500 milhões de cabeça de gado’. Alegria de pobre dura pouco”, disse Luiza, ao jornalista Pedro Bial, no programa “Conversa com Bial. “Tanto tempo que a gente está aí junto lutando, gravando música.”

E “quando consegue”, continuou a cantora, “acontece o mais difícil”. Pois é, após batalhar, numa vida sofrida e difícil, com pouca grana, eis que os dias de perrengue pareciam ter ficado para trás. Neste ano, a dupla lançou os hits “Para em Mim e Novo”, com Jerry Smith, “Modo Avião”, que teve dueto com Dennis DJ, e “Só uma Moralzinha”, também com Smith. Antes disso, houve dois projetos, um deles com participação de artistas como Alcione, Marília Mendonça, Jorge e Gabriel Diniz.

Solidariedade
Em nota, o governador Ronaldo Caiado lamentou a morte do cantor Maurílio Ribeiro. Para Caiado, a música sertaneja perdeu um dos seus mais promissores talentos, um jovem que encantou a todos com suas belas canções e que atraiu parcerias com os mais consagrados artistas brasileiros.

“Eu e Gracinha Caiado deixamos nossa solidariedade e nossos profundos sentimentos à esposa Luana Ramos, aos demais familiares, amigos e fãs do cantor Maurílio Ribeiro”, afirmou o chefe do executivo goiano.

Morador de Goiânia, Maurílio deixa a esposa. E um sentimento de que amanhã vai sextar com um s gigante de saudade, uma saudade que não estava combinada sentirmos agora, mas que a vida, fugindo do combinado, tratou de nos legar.



Por que partiste tão cedo, Maurílio?
Nem aprendemos a dizer adeus, mas já temos que aceitar: amores vem e vão. Em menos de dois meses, duas mortes entristeceram o universo da música sertaneja. Primeiro, numa ironia sem graça do destino, ficamos órfãos da sofrência empoderada da cantora Marília Mendonça, aos 26 anos, num desastre aéreo em Piedade de Caratinga, a 306 quilômetros de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Ela se juntou a Stevie Ray Vaughan, Buddy Holly, Ottis Reading, Carlos Gardel, Mamonas Assassinas e Gabriel Diniz, nomes que partiram na tentativa de ir ao encontro dos fãs.

Ainda neste ano, de covid-19, morreu o trompetista Manassés Aragão no dia em que completaria 40 anos. Professor de música, maior jazzista goiano e mestre pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Manassés chegou a tocar com nomes como Milton Nascimento, Toquinho e João Bosco. Na cena goiana, onde era tido como mestre, fez parte dos grupos Charanga Jazz, Chocolate Groove e Banda Pequi. Foi homenageado por amigos no início do mês no festival Mana Jazz, no Teatro Goiânia.

Agora, como se fosse um remake de um filme trágico, sai de cena, com 28, o cantor Maurílio Ribeiro, segunda voz da dupla com Luiza, após 14 dias internado. Maurílio vinha apresentando piora no quadro clínico deste a noite de terça-feira, 28. Segundo o último boletim divulgado pela assessoria de imprensa do artista, na amanhã de quarta, 29, ele seguia internado em estado grave. A morte, em comunicado assinado pelo médico Wandervan Antônio Azevedo, foi confirmada pela assessoria do cantor à tarde.

O artista sentiu um mal-estar durante a gravação de um DVD na capital, no dia 15 deste mês, e foi internado no Hospital Jardim América, na capital goiana, depois de sofrer três paradas cardíacas. Em seguida, Maurílio acabou transferido ao Instituto Ortopédico de Goiânia (IOG) ao apresentar estabilidade clínica depois de tromboembolismo pulmonar. “Saudades do seu sorrido e do seu abraço. Acorda, filho, estamos te esperando”, disse Odaisa Delmonte, foto em que aparece ao lado do filho.

Nascido em Imperatriz (MA), Maurílio cursou ciências contábeis antes de conhecer Luiza, que é nascida em Minas Gerais e estava passando férias no Maranhão, em 2016. Sem demorar, formaram uma dupla e, em janeiro do ano seguinte, lançaram o primeiro DVD da carreira, com o hit “Tô Bem”, uma música conduzida por batidas dançantes que marcam o tempo na bateria: essa era a característica do que ficou conhecido como sertanejo universitário, movimento que mudara a música de massa no Brasil.

Nova geração
Assim que infestou as rádios nos anos 2000, havia quem acreditasse que esse subgênero do sertanejo não duraria muito tempo no topo das paradas, mas desde o final dos anos 2000 as elites intelectuais do país foram obrigadas a torcer o cotovelo à música tocada por César Menotti e Fabiano, Victor e Léo e Michel Teló. Depois, já em meados dos anos 2010, vieram – como um meteoro – sucessos cantados por Gustavo Lima, Maiara e Maraísa e Simone e Simaria. Desses nomes, Marília era a melhor.



Compositora da sofrência, das dores de cotovelo e do empoderamento às mulheres que sofriam em relacionamentos tóxicos com seus homens toscos, a goiana de Cristianópolis começou a carreira como compositora escrevendo hits para duplas como Henrique e Juliano, João Neto e Federico, Matheus e Kauan e Jorge e Matheus. Suas palavras também foram cantadas por Wesley Safadão e Cristiano Araújo, morto prematuramente num acidente de carro, em 2015. O estouro veio com o single “Infiel”, música que figura no topo das preferidas do público nas plataformas de streaming.



Marília e Maurílio eram representantes de uma nova geração da música sertaneja. A rainha da sofrência mais preocupada em quebrar tabus, fundir ritmos, estilos e cantar as agruras dos relacionamentos. Já o parceiro de Luíza, cujo estouro nacional foi com “Sextou com S de Saudade”, uma parceria com Zé Neto e Cristiano, abraçava a sofrência símbolo desses artistas. Como se fosse um bate-papo entre as duplas, a letra versa sobre sextar com saudade, em baladas cheias espalhadas pela cidade. “Nenhum DJ toca sua voz falando que me amava”, diz o eu-lírico, num dos versos da canção.

O estouro foi em plena pandemia, em 2020, quando todos estavam em casa, trancados, sem poder reunir os amigos ou sair para curtir com o crush. A música tocou ainda no reality Big Brother Brasil (BBB), também campeão de audiência na Globo durante a quarentena, com os versos na boca dos participantes da casa. “Eu falei pro Maurílio: ‘meu irmão, pode comprar sua fazenda com 500 milhões de cabeça de gado’. Alegria de pobre dura pouco”, disse Luiza, ao jornalista Pedro Bial, no programa “Conversa com Bial. “Tanto tempo que a gente está aí junto lutando, gravando música.”

E “quando consegue”, continuou a cantora, “acontece o mais difícil”. Pois é, após batalhar, numa vida sofrida e difícil, com pouca grana, eis que os dias de perrengue pareciam ter ficado para trás. Neste ano, a dupla lançou os hits “Para em Mim e Novo”, com Jerry Smith, “Modo Avião”, que teve dueto com Dennis DJ, e “Só uma Moralzinha”, também com Smith. Antes disso, houve dois projetos, um deles com participação de artistas como Alcione, Marília Mendonça, Jorge e Gabriel Diniz.

Solidariedade
Em nota, o governador Ronaldo Caiado lamentou a morte do cantor Maurílio Ribeiro. Para Caiado, a música sertaneja perdeu um dos seus mais promissores talentos, um jovem que encantou a todos com suas belas canções e que atraiu parcerias com os mais consagrados artistas brasileiros.

“Eu e Gracinha Caiado deixamos nossa solidariedade e nossos profundos sentimentos à esposa Luana Ramos, aos demais familiares, amigos e fãs do cantor Maurílio Ribeiro”, afirmou o chefe do executivo goiano.

Morador de Goiânia, Maurílio deixa a esposa. E um sentimento de que amanhã vai sextar com um s gigante de saudade, uma saudade que não estava combinada sentirmos agora, mas que a vida, fugindo do combinado, tratou de nos legar.


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