Médico goiano que operou famosos com método alternativo é inocentado
Redação
Publicado em 11 de abril de 2018 às 01:05 | Atualizado há 7 anos
O Tribunal Regional Federal da 1ª região (TRF-1) considerou inocente o médico cirurgião Áureo Ludovico de Paula, que utiliza uma técnica alternativa no tratamento da diabetes tipo 2. O procedimento, que também é utilizado para redução de peso, agora é considerado oficialmente legal e deverá ser regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina. A decisão já havia sido tomada em primeira instância.
A polêmica teve início há 8 anos, quando o Ministério Público Federal de Goiás (MPF-GO) e o CFM protocolaram uma ação civil pública contra o médico, sob alegação de que o procedimento era “experimental”, carecendo de reconhecimento científico e, por isso, não teria permissão para ser executado. A ação propunha que Áureo pagasse multa de R$ 1 milhão para cada cirurgia realizada.
O procedimento é denominado “interposição de íleo associada à gastrectomia vertical ou à bipartição intestinal”. Esse método é uma variante de outra técnica chamada de ‘duodenal switch’, que é regulamentada no Brasil pelo CFM, mesmo que tentou impedir o uso da técnica. Além da redução de estômago, o procedimento cirúrgico desloca o íleo, que é responsável pelo estímulo à produção de insulina no pâncreas.
Na decisão em primeira instância, à época assinada pelo juiz Felipe Andra, o magistrado explica que a determinação ocorreu com base no parecer emitido pelo corpo técnico de vistores fiscais da Câmara Técnica sobre Cirurgia Bariátrica e Síndrome Metabólica do CFM. O documento diz ainda que os profissionais são “altamente especializados e reconhecidos no País pelo próprio Conselho Federal de Medicina” e considera, portanto, “legítima a opinião sobre o tema em análise”. A vistoria em questão desconsiderou o possível caráter experimental da técnica, justificativa pela qual foi movida a Ação. O advogado do cirurgião, Marcelo Turbay, considerou a decisão “um marco importante na luta contra o diabetes tipo II”.
Mais de 400 pessoas já foram submetidas a este processo, de acordo com o próprio Áureo. Entre os contemplados estão o apresentador Faustão, o pré-candidato ao Senado Demóstenes Torres, o senador e ex-jogador de futebol Romário e o vereador de Goiânia e pré-candidato ao Senado Jorge Kajuru. A eficácia, que acontece quando o paciente não apresenta necessidade de tomar medicação para diabetes após o procedimento cirúrgico, ocorre entre 86% e 96% dos casos. Os riscos de complicação, uma das principais críticas ao método, é de 6%. Na maior parte destas complicações, segundo o médico, são de origem clínica, ou seja, quando a própria condição de diabético origina agravamentos.
Em entrevista ao Diário da Manhã, na época da polêmica, o médico argumentou com números as acusações. “Ficou comprovado que a cirurgia resolve o problema de colesterol, hipertensão e triglicérides”, afirmou. Seriam 98% os casos de sucesso no tratamento de colesterol, 91% as ocasiões em que a medicação é suspensa no tratamento de hipertensão e outros 90% de casos de sucesso no controle de triglicérides. “Da mesma forma ocorre com os problemas de rins, numa taxa de 88%”, afirmou o médico. Esses resultados, de acordo com Ludovico, foram retirados de cinco trabalhos científicos publicados em revistas internacionais.
Ele também explicou os processos de catalogação e reconhecimento internacional do procedimento. Segundo ele, os dados foram auditados por uma empresa americana vinculada ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos. O procedimento também foi registrado nos Clinical Trials dos EUA e o material foi enviado para a Sociedade Americana de Cirurgia Metabólica, que, após análise por um grupo de médicos, autorizou a divulgação em congresso americano.
Aproximadamente 14 milhões de pessoas possuem Diabetes tipo 2 no Brasil, número que representa 9% da população. De acordo com a Federação Internacional do Diabetes, metade delas não sabe que tem a doença e, dessa forma, não tomam os cuidados necessários para tratá-la.