Três anúncios para um crime
Diário da Manhã
Publicado em 19 de fevereiro de 2018 às 21:31 | Atualizado há 4 meses
Três Anúncios Para Um Crime tem sido um dos grandes nomes das premiações deste começo de 2018, ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme Drama e alguns outros prêmios, e chega com força total para o Oscar como um dos principais favoritos ao maior prêmio da noite. Toda esta comoção e alarde com o novo projeto do diretor Martin McDonagh deriva-se de uma temática pessoal que quebra expectativas, e torna-se muito mais interessante quando analisada sob um aspecto íntimo e contemplativo de cada personagem.
Isto porque Três Anúncios Para Um Crime é muito mais um projeto sobre a vida quebradiça de cada personagem, e suas situações mal resolvidas ao longo dos anos, do que, necessariamente, um filme sobre a resolução de um assassinato. A protagonista é Mildred Hayes (Frances McDormand), uma senhora que aluga três outdoors em uma estrada raramente usada, e os usa para atacar a polícia da cidade local e chamar a atenção para o assassinato de sua filha que ainda não foi solucionado. A situação cria grande alvoroço na cidade de Ebbing, em Missouri, causando conseqüências drásticas tanto para Mildred quanto para outros habitantes.
Impetuosa, Mildred é uma mulher cansada. Cansada do comodismo. Cansada do conformismo. E cansada de ver o tempo passar e nada ser feito para encontrar o assassino de sua filha, que antes de matá-la, também havia estuprado a garota. Mas isso é o reflexo de dramas acumulados ao longo dos anos, de uma vida que requereu de sua pessoa força, e imponência, para não se fazer de vítima e ser soterrada pelos problemas. Frances McDormand é uma atriz que transmite esta mesma força. Possui presença notável, e exala com fervor, e ardor, o caráter inabalável de Mildred. McDormand brilha ao transmitir esta personalidade imponente sem deixar de mesclar a sensibilidade, e as dores e angústias da personagem. Favorita ao Oscar de Melhor Atriz este ano, será mais do que merecido assistir McDormand receber a segunda estatueta dourada de sua carreira no palco do Dolby Theatre no próximo dia 4 de março – a primeira foi em 1996 quando ganhou como Melhor Atriz por Fargo.
Mas Três Anúncios Para Um Crime não é composto apenas de Mildred. Cada personagem compartilha fraquezas, e busca em algo maneiras de sobreviver dia após dia. O chefe de polícia vivido soberbamente por Woody Harrelson é um desses exemplos. Bill Willoughby é atacado por Mildred como responsável pela falta de resultados no caso de sua filha. É um homem dedicado que busca o melhor para a cidade, mas a falta de evidências e provas torna a investigação complicada e fora de seu alcance. Mas a grande luta de Bill não é com o caso da garota morta, ou com os outdoors de Mildred, mas uma batalha pessoal por sua saúde. Da mesma maneira, o também policial Jason Dixon – encarnado de maneira excelente por Sam Rockwell – busca na bebida e austeridade a fuga por uma vida frustrada, e sem grandes realizações.
Portanto, Três Anúncios Para Um Crime é muito mais um filme sobre frustrações, e vidas estagnadas, do que sobre investigação ou assassinato. Ao explorar uma sociedade machucada por fatores tanto externos, quanto internos, o diretor Martin McDonagh – também roteirista – cria um filme sensível, sutilmente tocante e que ganha mais força com as maravilhosas atuações. Um drama que passa rápido tamanha a identificação, e interesse, que sentimos ao acompanhar a vida de cada um dos personagens apresentados em cena. Recomendado!
(Matthew Vilela, jornalista, crítico de cinema do DM e do blog “Blog do Matthew Vilela”)