Opinião

Eliezer Penna

Diário da Manhã

Publicado em 8 de fevereiro de 2018 às 22:35 | Atualizado há 7 anos

No dia 7 do mês pas­sa­do com­ple­tou 65 anos a ami­za­de es­ta­be­le­ci­da en­tre mim e Eli­e­zer Pen­na. Na­que­le dia do ano de 1953 pro­cu­rei a re­da­ção de O Po­pu­lar com a fi­na­li­da­de de in­gres­sar no jor­na­lis­mo pro­fis­si­o­nal, vo­ca­ção que se me re­ve­lou já nos pri­mei­ros anos da ado­les­cên­cia. Eli­e­zer Pen­na era o se­cre­tá­rio do jor­nal. No fi­nal da dé­ca­da de 40 vi­e­ra de São Pau­lo, on­de tra­ba­lha­ra no jor­nal Ho­je, ór­gão de li­nha pres­tis­ta, is­to é, por­ta-voz em São Pau­lo do PCB, fe­cha­do pe­la re­pres­são do go­ver­no pre­si­di­do pe­lo ma­re­chal Eu­ri­co Gas­par Du­tra. Eli­e­zer, en­tão com ape­nas 27 anos de ida­de, pre­mi­do pe­las cir­cun­stân­cias veio ten­tar a sor­te em Go­i­ás. Aqui se tor­nou re­da­tor-che­fe da Fo­lha de Go­i­az. Seu tra­ba­lho era tão bri­lhan­te que os ir­mãos Jo­a­quim Câ­ma­ra Fi­lho e Jai­me Câ­ma­ra, do­nos de O Po­pu­lar, se em­pe­nha­ram por con­tra­tá-lo. No pe­ri­ó­di­co dos ir­mãos Câ­ma­ra o mo­ço pau­lis­ta iria de­mons­trar o seu va­lor dan­do-lhe fei­ção mo­der­na e di­nâ­mi­ca.

Ma­ni­fes­tei a Eli­e­zer meu pro­pó­si­to de in­gres­sar no jor­na­lis­mo. Con­tei-lhe que a par­tir de 1948 es­cre­ve­ra du­ran­te qua­se dois anos as ma­té­rias es­por­ti­vas do se­ma­ná­rio O Li­be­ral de Mor­ri­nhos, jor­nal fun­da­do e di­ri­gi­do por Pe­dro Ce­les­ti­no da Sil­va Fi­lho e Jo­sé An­tô­nio da Cos­ta.

Eli­e­zer, à gui­sa de tes­te, con­fiou-me a pro­du­ção de tex­tos es­por­ti­vos. No mes­mo dia en­tre­guei-lhe meu tra­ba­lho. Fui apro­va­do na ho­ra. Ao la­do da mi­nha re­a­li­za­ção pro­fis­si­o­nal ini­ci­a­va-se ali uma ami­za­de que con­for­me re­la­tei, com­ple­tou qua­se dois ter­ços de um sé­cu­lo.

No dia 10 de agos­to de 2014 eu re­gis­tra­va aqui no DM:

“Eli­e­zer Pen­na não é pa­ra mim ape­nas o mes­tre que ti­ve de jor­na­lis­mo. Es­ta­be­le­ci com ele uma ami­za­de es­pe­ci­al, que já com­ple­tou 61 anos.  Foi o que re­me­mo­rei no al­mo­ço em que, no úl­ti­mo sá­ba­do, dia 7, ele re­u­niu gran­de nú­me­ro de ami­gos, em co­me­mo­ra­ção do seu ani­ver­sá­rio, ocor­ri­do an­te­on­tem, dia 8.  De­pois do con­ví­vio no jor­na­lis­mo, a ami­za­de se man­te­ve ín­te­gra e lo­go te­ve a opor­tu­ni­da­de de afir­ma­ção na con­vi­vên­cia par­la­men­tar.  Ele, de­pois de ter si­do se­cre­tá­rio de Im­pren­sa no go­ver­no de Jo­sé Fe­li­ci­a­no Fer­rei­ra, tam­bém se ele­geu pa­ra a As­sem­bleia Le­gis­la­ti­va em 1962. E ali, no par­la­men­to, com sua po­li­dez tão ca­rac­te­rís­ti­ca, se im­pôs ao res­pei­to e à es­ti­ma de to­dos, cor­re­li­gi­o­ná­rios e ad­ver­sá­rios.  Pa­ra mim, es­pe­ci­al­men­te, sua pre­sen­ça sig­ni­fi­cou per­ma­nen­te so­li­da­ri­e­da­de na­que­les di­as de ame­a­ças que os po­lí­ti­cos não par­ti­dá­rios do gol­pe de 64 so­fri­am qua­se que di­a­ria­men­te de lhes se­rem apli­ca­das a cas­sa­ção do man­da­to e a sus­pen­são dos di­rei­tos po­lí­ti­cos pa­ra as qua­is o Ato Ins­ti­tu­ci­o­nal nº 1 ins­tru­men­ta­li­za­va os no­vos – e a meu ver ile­gí­ti­mos –  de­ten­to­res d o po­der.  Eli­e­zer era sem­pre uma pa­la­vra ami­ga, so­li­dá­ria, alen­ta­do­ra.”

Em 1967, es­tan­do eu em Mor­ri­nhos, mi­nha ci­da­de na­tal, on­de me fi­xa­ra pro­fis­si­o­nal­men­te após a cas­sa­ção do meu man­da­to de de­pu­ta­do es­ta­du­al e a sus­pen­são dos meus di­rei­tos po­lí­ti­cos. Eli­e­zer foi até lá a fim de me en­tre­vis­tar e re­la­tar pa­ra os lei­to­res do O Cin­co de Mar­ço mi­nha si­tu­a­ção pes­so­al con­se­quen­te da­que­las per­se­gui­ções do re­gi­me mi­li­tar. Fez uma re­por­ta­gem ex­tre­ma­men­te so­li­dá­ria a es­te seu ami­go. O tex­to ocu­pou du­as pá­gi­nas in­tei­ras de O Cin­co de Mar­ço. Em 1996 Eli­e­zer foi so­li­dá­rio à mi­nha elei­ção pa­ra a Aca­de­mia Go­i­a­na de Le­tras. Nos­so con­ví­vio ali du­rou, pois, qua­se 22 anos.

Es­se pa­ra­dig­ma de bon­da­de hu­ma­na fa­le­ceu há seis di­as, aos 92 anos. Dis­cur­sei ao fi­nal do ve­ló­rio, re­pre­sen­tan­do a As­so­cia­ção Go­i­a­na de Im­pren­sa, da qual é pre­si­den­te Val­ter­li Gue­des, um dos mai­o­res ami­gos de Eli­e­zer.

Te­nho a cer­te­za de que pa­ra a vi­ú­va, do­na Ara­ci; pa­ra os fi­lhos Eli­e­zer Jr., Di­vi­na, Va­lé­ria e Eli­a­ra; e pa­ra to­dos os ami­gos, adap­tan­do-se uma fra­se de Ma­rio da Sil­va Bri­to con­ti­da em seu De­sa­fo­ris­mos, “ca­da dia que pas­sa mais vi­ve em nós o Eli­e­zer que ama­mos”.

 

(Eu­ri­co Bar­bo­sa, es­cri­tor, mem­bro da AGL e da As­so­cia­ção Na­ci­o­nal de Es­cri­to­res, ad­vo­ga­do, jor­na­lis­ta e es­cre­ve nes­te jor­nal à sex­tas-fei­ras. E-mail: eu­ri­co_bar­bo­sa@hot­mail.com)

 


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