Cultura

A vigilante do amanhã: ghost in the shell

Diário da Manhã

Publicado em 1 de abril de 2017 às 02:51 | Atualizado há 4 meses

Melhor deixar bem claro desde já que nunca assisti ao anime homônimo de 1995 ou li os mangás que inspiraram o filme animado. Meu primeiro contato com este universo criado originalmente por Masamune Shirow é com esta adaptação em live-action estrelada por Scarlet Johansson. Em minhas pesquisas, vi que “Ghost in the Shell” foi a principal inspiração para a franquia Matrix, portanto, não é surpresa que o filme tenha suas semelhanças com o mundo cibernético onde conhecemos Neo, e há também outras características que lembram bastante o universo de “Blade Runner”.

Me restringindo a este filme, a trama se passa em um futuro pós-2029 onde é comum o aperfeiçoamento do corpo humano com a inserção de partes tecnológicas. Após várias tentativas frustradas, a empresa Haika Corporation consegue criar o robô perfeito que armazena um cérebro humano que possibilita que o mesmo tenha emoções, prazeres, pensamentos e inteligência própria. A perfeita criação se chama Major Mira Killian (Johansson), que é inserida no Section 9, um departamento da polícia local onde foi designada para se tornar uma arma de guerra. Lá, Killian combate o crime sob o comando do chefe Aramaki. Porém, durante uma investigação envolvendo uma série de assassinatos de funcionários da Haika Corporation, Killian começa a ter falhas em seu sistema e ter vislumbres do passado de quando era humana.

Debates sobre o que nos torna humanos e nos diferencia das máquinas é algo recorrente na ficção científica. A liberdade que imaginamos viver em contraste com a dominação do corpo e da mente, o sentimento em conflito com a razão e tantos outros temas onde a natureza humana torna-se o principal foco da discussão. Não quero entrar em detalhes acerca de tais filosofias, mas é bom salientar que “A Vigilante do Amanhã” não foge de tais assuntos. Temos a jornada da protagonista que foi criada para ser controlada, mas cujo lado humano a torna vulnerável aos sentimentos e uma potencial ameaça à empresa que lhe desenvolveu. Todos os elementos básicos para se ter uma história de luta contra o sistema, busca pela liberdade e auto-descoberta.

6

Segundo amigos que já viram o novo filme, “A Vigilante do Amanhã” é extremamente fiel ao visual dos animes e mantém a essência da história, ainda que a modifique para torná-la acessível e vendável ao grande público, afinal, estamos falando de uma super produção que visa angariar ótima bilheteria para possíveis continuações. Como um expectador que não conhece nada do material original, achei “A Vigilante do Amanhã” visualmente deslumbrante mas longe de ter uma característica singular que o faça ser um filme inesquecível. Há inúmeras fontes de inspiração, mas nenhum resultado que seja memorável. “Blade Runner” e “Matrix”, por exemplo, são obras que também beberam de outras fontes mas conseguiram criar a sua identidade própria, e isto, infelizmente, não vi acontecer aqui.

As cenas de ação também deixam muito a desejar, e se visualmente são lindas, emocionalmente são superficiais, rápidas, sem criatividade e fluidez. O impacto é zero. O que há de acerto em “A Vigilante do Amanhã” é o carisma do elenco, mas, principalmente, a reviravolta que se tem no terceiro ato, que mesmo sendo previsível, é tocante e os motivos são importantes para fazer da Major Mira Killian uma personagem identificável e interessante para o público. E Scarlet Johansson esbanja a beleza e o carisma naturais de sua pessoa, e ajuda como pode o filme a ser mais instigante do que aparenta.

“A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell” não é um bomba. Não é um filme que você sai do cinema com vergonha de ter visto. É sóbrio, equilibra bem os efeitos e a tecnologia daquele mundo, mas, como já foi dito, faltou impacto. Faltou ousadia em criar um filme sem medo de explorar a violência e o peso das ações de cada personagem. O que resulta numa ação fraca, genérica até, e um filme sem nenhuma cena para guardar na memória. Infelizmente.

6-1

6-2

(Matthew Vilela, comentarista de cinema do DM e no “Blog do Matthew”)

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