Fidelidade ao ensino de Adão e Eva
Diário da Manhã
Publicado em 2 de fevereiro de 2017 às 00:58 | Atualizado há 8 anos
Diz a Bíblia que Deus fez o Éden, onde não haveria morte e nenhuma enfermidade. Todos os animais, inclusive o homem, de plantas se alimentariam. No fim do dia, o Senhor visitava Adão e Eva e punham-se a conversar. Em um desses encontros, disse-lhes o Criador: “Sirvam-se da pureza dessa água, da doçura desses frutos, do acolhimento das sombras dessas árvores, do perfume dessa flora, adormeçam sob o brilho dessas estrelas, deixem que a relva acaricie seus pés e que a brisa faça massagem nos seus corpos. Enfim, sejam livres como o vento deste paraíso, mas não poderão comer da árvore do conhecimento do bem e do mal”.
Dito isso, Deus se despediu do casal e foi embora. Maneira de dizer porque Deus nunca vai embora. Então o diabo, de serpente travestido, vindo não se sabe de onde, do Éden não porque maldade ali não havia e o diabo é todo maldade, apareceu-lhes e os conduziu à desobediência. Veio-lhes o remorso agregado ao medo e vergonha de Deus. Adão quis fugir para se ocultar do Senhor, o que é humanamente impossível. E o Criador os expulsou daquele lindíssimo jardim. A partir de então, teriam que encharcar de suor o rosto para sobreviver. Veio a fadiga e com ela a morte,a ganância, as guerras e nasceram nações envoltas na mentira, no ódio, na idolatria ao dinheiro e ao poder.
Antes, porém, de serem expulsos, Adão responsabilizou Eva pelo seu tombo e Eva atribuiu culpa à serpente. Séculos e séculos se encadearam e permanecemos fiéis à prática de endereçar a outros ombros os nossos erros. A sociedade se constitui de representados e representantes. Aqueles somos nós, os puros, tão puros quanto os mananciais do Éden; estes são os impuros, tão impuros quanto o Éden depois do pecado adâmico. A culpa é dos pais, é do médico, é do pastor, é do prefeito, não nossa. Somos multados no trânsito por excesso de velocidade, mas nos posicionamos como vítimas de uma fábrica de multas.
Como disse Jesus, vemos cisco no olho do próximo e não vemos um cisco maior no nosso olho. É fácil arrumar fantasias como essa da fábrica de multas para justificar nossos tropeções. Claro, óbvio, muitas e muitas vezes a culpa é mesmo do poder público, é do médico, é do advogado, é da chuva, é do ladrão, é do meio, mas nossa vocação é culpar inocentes pelos nossos enganos.
(Filadelfo Borges de Lima, 72 anos, natural de Jataí, reside em Rio Verde, auditor fiscal aposentado de Goiás, filiado no Sindifisco/GO e na Affego, maçom grau 33, autor de vários livros, sócio fundador da “Academia Rio-Verdense de Letras, Artes e Ofícios”)