Espírito obsessor?
Diário da Manhã
Publicado em 6 de dezembro de 2016 às 01:26 | Atualizado há 8 anosUm dia desses, um conhecido nos disse que não acredita em obsessão porque Jesus nunca falou nisso. Obviamente, essa pessoa estava equivocada. Os quatro Evangelhos relatam vários desses casos – expulsão pelo Cristo de maus espíritos, que podem causar males terríveis a suas vítimas. Naquele tempo, os obsessores eram chamados de demônios. Todas as religiões acreditam nesses seres, embora algumas os considerem definitivamente voltados para o mal, o que seria ilógico e absurdo pois sendo criaturas de Deus, o Pai Celestial, na sua bondade infinita, jamais criaria filhos para o sofrimento eterno.
A principal advertência do Mestre sobre o perigo dos maus espíritos está contida no Pai Nosso, a única oração que ensinou e que costumeiramente rezamos sem refletir no seu conteúdo, sobretudo neste trecho: “e não nos deixeis cair em tentação”. Tentação é porta aberta para a obsessão. Outra vez, ele recomenda que nos reconciliemos depressa com nosso inimigo, “enquanto estamos a caminho com ele”. Se o adversário morre e é um espírito atrasado, pode se tornar nosso obsessor.
Jesus se refere a essas entidades perturbadoras, que cometem o mal por serem ainda muito atrasadas, ignorando o alto e doloroso preço que pagarão pelo sofrimento que provocam. Em seis ocasiões, ele liberta as vítimas de seus algozes invisíveis. É dele a advertência de que o obsessor expulso pode voltar ainda pior. Quem não acredita nisso é porque não crê em Cristo ou não conhece o que ele ensinou na passagem “O Milagre de Jonas”, no Evangelho de Mateus, capítulo 18, versículos 43 a 45:
“E quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso e não o encontra. Então diz: – Voltarei para minha casa de onde saí. E, voltando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali”.
O mau espírito nos infelicita porque contribuímos para isso. Para ele atuar sobre nós, adoecendo-nos, fazendo-nos sofrer ou prejudicando-nos de mil maneiras, é necessário que estejamos na mesma faixa vibratória. Ele e nós em sintonia, voltamos a ser influenciados. Ter inimigo assim junto de nós é doloroso, porque não o vemos e ele nos vê e ataca quando e como lhe convém. Mesmo depois de afastado num trabalho de desobsessão, que exige concentração, muita paciência e prece, ambiente cristão e médiuns evangelizados, o obsessor pode voltar, trazendo consigo outros maus espíritos, se a pessoa que se livrou dele não tratou de se aprimorar moralmente. Sem aprender a perdoar, sem se livrar do ódio, da mágoa, da inveja, da maledicência, do orgulho, do ciúme, da impaciência, das ambições desmedidas, estará mantendo arreganhada a porta para o retorno do inimigo.
Pela lei das afinidades, vibrando positivamente, chamamos espíritos de luz. Vibrando negativamente, cercamo-nos de espíritos que ainda habitam as trevas. Fenômeno semelhante ocorre com as rosas, cujo perfume atrai o beija-flor, a abelha e a borboleta. Já o mau cheiro do lixo é uma atração irresistível para moscas e baratas, ratos e tantos outros animais nocivos e nauseabundos.
Pela sua gravidade e dimensão, a obsessão merece-nos reflexões bem mais profundas. Obsessão é a ação persistente que um mau espírito exerce sobre uma pessoa, com caracteres muito variados, desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais. Quase sempre obsessão exprime a vingança de desencarnado sobre encarnado, decorrente de desentendimentos em vidas anteriores.
Sob qualquer modalidade que se apresente, é a obsessão uma enfermidade de longo curso, requerendo terapia especializada, com resultados que não se concretizam apressadamente. Transmissão mente a mente, é síndrome alarmante que denuncia doença grave, de erradicação difícil. Ela sempre depende da identidade entre o agente perturbador e o paciente perturbado.
A médium Yvonne Pereira, em O Drama da Bretanha, expressa que a obsessão, ou loucura por constrangimento, é, sem dúvida, uma das piores desgraças que podem atingir o ser humano. Constituindo provação, na maioria dos casos é expiação, resgate doloroso e até humilhante daqueles que, no passado ou mesmo na atual existência, ultrajaram as leis do Criador com atos criminosos contra o próximo. É o desespero envolvendo a criatura, alucinando-a e deprimindo-a, sujeitando-a às mais deploráveis conseqüências, até mesmo o suicídio. É um processo bilateral, no qual existe de um lado o cobrador, sequioso de vingança, sentindo-se ferido e injustiçado, e do outro o devedor, trazendo impresso no seu perispírito as matrizes da culpa, do remorso ou do ódio que não se extinguiu.
(Jávier Godinho, jornalista)