Cotidiano

Tarsila do Amaral no estilo

Diário da Manhã

Publicado em 26 de julho de 2019 às 15:48 | Atualizado há 6 anos

Gabriel Green Fusari

De São Paulo

“Caipirinha vestida de Poiret. A preguiça paulista reside nos teus olhos, que não viram Paris, nem Piccadilly, nem as exclamações dos homens.” Assim começa o poema “Atelier”, de Oswald de Andrade, que narra características pessoais de Tarsila do Amaral, que era muito familiarizada com moda. Embora pintora, Amaral tinha um apreço grande com os estilistas da época tal qual Paul Poiret, que é mencionado no poema. 

Sua conexão com Tarsila é forte historicamente, pois ambos foram responsáveis pela mudança de comportamento cultural do século XX. Outro estilista que ela  gostava, a fim de comprar algum adereço de moda, era Jean Patou, francês de alta costura que estava emergindo, com foco do mercado jornalístico francês de estilo. 

Do estilista, a pintora modernista também usava túnicas bordadas de estilo eslavo aos quais eram inspirados nos russos exilados  em Paris, após revolução socialista de 1917. Com as roupas vestidas, ela era descrita sendo uma pessoa extravagante e revolucionária. 

Se para ela o vestir-se bem era um elixir da vida, para Oswald era inspiração criativa. Foram diversos outros poemas que ele fez em homenagem à amada e seu gosto por moda. A criadora era a personagem energética das obras do casal “Tarsiwaldo”.  

Com essa inspiração surgem referências a Tarsila, como o Abaporu, que foi símbolo do movimento antropofágico, no qual se explicava sendo a cultura brasileira era formada, assimilando, deglutindo e ruminando a cultura do exterior e se transformando a cultura de caráter nacional, tendo-as consigo de forma autêntica. 

“Madame Tarsila, deslumbrada pintora das terras exóticas, de onde nos traz uma visão cheia de engenho e frescor. Há muita literatura nesses pequenos quadros que se encaixam tão bem com os poemas de Blaise Cendrars, seu amigo, que servem como prefácio do catálogo de Amaral”, dizia a publicação que ficou encantada com a bossa da artista. 

Relevância

Seu cuidado pessoal na forma de se vestir e de estar bela era tão relevante para ela que foi  referida em alguns quadros, tendo exemplo o “Manto Vermelho” (1923), em um autorretrato em que ela usa um vestido em camurça de Jean Patou usado em uma festa em homenagem a Santos Dumont, no qual, após chegar atrasada às 9h15 da noite, sua entrada chamou a atenção dos convidados e sua roupa foi assunto da festa. Em “Auto-retrato I” (1924) ela usava brincos que supostamente eram do Poiret e em Chapéu “Azul” (1922), um de seus primeiros autorretratos foi feito após uma visita à casa de Émile Renard, em um astral totalmente primaveril e suave. 

Ela sempre foi muito vaidosa, e mesmo depois, mais velha, ela continuava vaidosa. Sempre que eu ia visitá-la ela estava muito arrumada,” comenta Tarsilinha do Amaral, a neta que é responsável pela imagem da artista depois que faleceu em entrevista exclusiva ao Diário da Manhã. Sua ligação com o trabalho de sua tia-avó começou quando seu pai foi advogado da tia e há 20 anos, quando começou a escrever uma biografia sobre a história de sua tia-avó, ela ajudava seu pai no trabalho até ele se aposentar e ela assumir toda a responsabilidade.

“Eu quero que ela seja conhecida mundialmente. Acho que sua obra tem potencial para ser mais conhecida e divulgada no mundo todo. E também a sua vida pessoal, que foi interessante, acredito que também tem potencial na finalidade de ser admirada no mundo todo. Quero que ela seja conhecida como Picasso, Matisse, Léger e outros amigos dela,” diz Tarsilinha, quando indagada sobre de que modo faria de sua tia um ícone pop  da arte brasileira no mundo.

Embora as telas de Tarsila do Amaral estejam espalhadas pelo mundo, atualmente acontece uma exposição no Masp (Museu de Artes de São Paulo), que tem feito bastante sucesso e recebido inúmeras críticas positivas. “Neste período da exposição no Masp, tivemos uma crítica extremamente favorável à obra e à exposição. Mas tivemos também algumas críticas, o que considero normal em uma democracia”, conclui Tarsilinha.  

A exposição acontece todos os dias no Museu de Artes de São Paulo, localizado na Av. Paulista, até domingo (28), com ingressos custando R$ 40 inteira, R$ 20 meia-entrada. 

Gabriel Green, estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT)

Serviço

Exposição “Tarsila Popular”

Data: até o próximo domingo (28)

Horário: 4ª, 5ª e dom., 10h às 19h; 6ª, 10h às 21h; sáb., 10h a 0h

Onde: Museu de Arte Assis Chateaubriand

Endereço: Avenida Paulista, em São Paulo

Ingressos R$ 40 inteira e R$ 20 a meia

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