Dia das Mães e o ninho vazio
Diário da Manhã
Publicado em 7 de maio de 2016 às 02:00 | Atualizado há 9 anos
“Coisa triste na vida é casa vazia. Ela pode estar cheia de móveis e bem decorada, mas se não há o som de panelas sobre o fogão no preparo do almoço para alguém que espera, a casa é lembrança e triste quimera. Se não há o tropel de crianças e nem o volume alto do aparelho de som no quarto do filho adolescente, então a casa se encheu da fumaça densa que se chama saudade. Se nela não visita o parente, se pela manhã as janelas não se abrem, se nem mesmo o barulho da cadeira de balanço do idoso se ouve ali, então a casa é um número na rua, passado somente, tristeza que cresce dentro da gente.” Este texto foi extraído do artigo “Casa vazia”, do reverendo Célio Teixeira Júnior, da Igreja Presbiteriana de Jaú. A partir do qual inicio este meu artigo.
Tenho observado um grande número de amigos de minha geração levando seus filhos para prestarem vestibular em outras cidades e estados. Outros casaram seus herdeiros. Assim a cada ano a cada geração de Mães ou pais enfrentam esta fase da vida, quando os filhos deixam o lar, por motivo de estudos, trabalhos, casamentos, entre outros. E aquele sentimento de vazio e até mesmo de inutilidade começa a aparecer na vida do casal, apesar do orgulho e da sensação de missão cumprida.
Na condição de arquiteto tenho procurado orientar meus clientes para este destino inevitável, conheço muitos casos de casais que super dimensionaram seus projetos pesando que os filhos não irão crescer, mas um dia inevitavelmente eles vão. A casa então vai ficar vazia e agora? Mudar os quartos. Arrumar tudo diferente para não ficar lembrando cada momento que passamos juntos em casa, cada gargalhada, cada história vivida, cada festa, cada comemoração, nossa vida. São paliativos.
Mas é uma situação corriqueira na vida familiar, quando os filhos tornam-se independentes e partem para outra moradia. A correria da criançada, a casa cheia, as roupas no varal, o cheirinho de comida feita na hora, a gritaria dos adolescentes exigindo seus direitos e se esquecendo de seus deveres… É, tudo isso marca uma vida para sempre. Na hora em que acontece, muitas vezes, incomoda. Depois, traz uma saudade danada, diante do vazio que se instaurou.
É a “síndrome do ninho vazio”, ai surge o desânimo e as noites passam a ser mais compridas, pois o sono não aparece. Sensações esquisitas e temores estranhos surgem do nada. Um medo que antes não existia passa a fazer parte do dia a dia, como presságios de coisas que nos angustiam possam acontecer repentinamente. Ai, ai… Casa vazia lembra assombração e filho distante angustia o coração. Você criou os filhos para o mundo, mas nunca imaginou que sofreria tanto.
Precisamos movimentar a roda viva das paixões em nosso peito. Afinal, daqui a pouco a casa pode estar cheia novamente. Noras, genros, netos, cachorro e papagaio…
Ainda que o vazio seja definitivo, como no caso da perda de um ente querido, não permita que a casa se encha apenas de lembranças. Cultive um jardim, adote um animalzinho de estimação, adote uma criança, auxilie carentes ou idosos abandonados.
(Garibaldi Rizzo, presidente do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas de Goiás)