BTG pretende vender até R$ 12 bi em participações em empresas
Diário da Manhã
Publicado em 5 de dezembro de 2015 às 05:06 | Atualizado há 9 anosSÃO PAULO, RIO E BRASÍLIA — O BTG Pactual tem hoje uma meta gerencial de vender entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões em ativos. De acordo com uma fonte a par das negociações, o valor não é fixo e funciona como referência, mas pode variar de acordo com o volume de saques e captações nas próximas semanas.
— Esse é o objetivo dos gestores atuais, que querem reduzir o tamanho do banco e voltar a focar em ativos financeiros — disse a fonte, que pediu para não ser identificada.
Diferente de outros bancos de investimento, que costumam financiar operação de fusões e aquisições ou ter cotas em fundos de private equity (compra de fatias de empresas), o BTG Pactual na liderança de André Esteves gostava de investir diretamente nas companhias. Agora são esses negócios que o banco tem pressa em vender. Enquanto não se desfaz destes negócios, a instituição recorreu ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para conseguir uma linha de R$ 6 bilhões e fugir dos custos de captação mais elevados, uma das consequências da prisão de Esteves no último dia 25.
A operação foi informada ao mercado ontem, mesmo dia em que o banco prestou uma série de esclarecimentos à Bolsa sobre os rumos da instituição. A negociação para o acordo durou menos de 48 horas e foi liderada pelo presidente do Conselho de Administração do BTG, Persio Arida, e os dois copresidentes, Marcelo Kalim e Roberto Sallouti.
Governo acompanha caso
Para ter acesso aos recursos, o BTG emitirá Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) garantidos por operações de crédito do próprio banco. Os sete sócios são avalistas da operação. Mesmo com o reforço em caixa, as ações do BTG recuaram ontem 3,86%, para R$ 19,42. Desde a prisão de Esteves, o valor de mercado caiu 37,13%, o equivalente a R$ 10,76 bilhões.
Segundo o diretor jurídico do FGC, Caetano Vasconcellos Neto, a linha anunciada ontem é uma operação comum e costuma ser usada quando um banco tem problemas de liquidez ou enfrenta aumento de custos:
— Se os investidores entendem que um banco está sob pressão, vão fazer exigências maiores, vão cobrar mais. Além de ser uma operação prática, é de menor custo nesse cenário.
Para o sócio da consultoria Apsan, Fabio Rubino, o objetivo é não deixar que a instituição fique exposta ao risco de quebra. Além disso, trata-se de um sinal de prevenção contra um risco sistêmico do setor financeiro, que neste momento está descartado:
— Os R$ 6 bilhões do FGC dão tranquilidade ao mercado em relação a um risco sistêmico, e tenta evitar saques mais agressivos dos clientes.
Segundo fontes, o Banco do Brasil analisa a compra de R$ 2,5 bilhões em créditos do BTG Pactual. Até agora, já foram fechadas operações que somam cerca de R$ 600 milhões. A compra é considerada uma boa oportunidade de negócios. Procurado, o BB não quis comentar. “O Banco do Brasil sempre avalia a possibilidade de aquisição de carteiras com boas condições de liquidez. Mas, no momento não vai comentar avaliações específicas do banco BTG”.
Ontem, o BTG confirmou ter vendido debêntures (títulos de dívida) ao Bradesco que somam R$ 822 milhões. Informou ainda que pretende captar R$ 1 bilhão por meio da emissão de Depósitos a Prazo com Garantia Especial.
A equipe econômica acompanha de perto o desempenho do BTG:
— O banco tem condições de tocar os próximos meses tranquilamente — disse um técnico do governo.
A preocupação do governo não é apenas em relação às turbulências no setor financeiro, mas também ao impacto que a prisão de um dos homens mais ricos do país poderia ter no crédito privado.
No processo de reestruturação, nada está descartado. Estão na lista de venda o banco suíço BSI, a empresa de recuperação de créditos Recovery e as participações na rede de estacionamentos Estapar (de 77,4%) e na varejista Leader (de 70%). Segundo fontes, o banco cogita se desfazer de ativos na América Latina. Hoje, ele tem presença maior no Chile e na Colômbia.
Recovery vale R$ 400 milhões
Das vendas em andamento, a mais emblemática é a do BSI, que foi incorporado à instituição brasileira em setembro e era visto como um grande passo na internacionalização do banco. O valor pago à época foi de US$ 1,29 bilhão. Com o BSI, o BTG Pactual esperava que 50% das receitas passassem a vir do exterior. Internamente, a avaliação do banco é que o BSI é um “ativo fantástico”, mas que dada a atual situação, “é preciso repensar o banco”. Segundo uma fonte, já há interessados.
Assim como na venda da participação da Rede D’Or, que foi feita por R$ 2,38 bilhões para o fundo soberano de Cingapura (GIC), o banco pode novamente fechar negócio com estrangeiros. No caso da Recovery, a gestora americana Cerberus, já está avaliando os números da empresa.
Calcula-se que a Recovery valeria entre R$ 200 milhões e R$ 400 milhões, enquanto os fundos com créditos vendidos do BTG teriam um valor estimado entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão.
— Além de dois grandes fundos, há outros olhando os ativos do BTG — disse uma fonte.