Belluzzo: ‘Falta uma política de crescimento’
Diário da Manhã
Publicado em 28 de novembro de 2015 às 04:05 | Atualizado há 9 anosBRASÍLIA – O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp, avalia que o bloqueio dos gastos contraria o bom senso.
— Chegamos a essa situação porque deram um cavalo de pau na economia em 2015. De 2003 a 2008, houve um ciclo global muito favorável que ajudou o país a fazer uma política de valorização do salário mínimo e trazer mais gente para o mercado de trabalho. Isso ajudou a reforçar a arrecadação e a melhorar o desempenho fiscal. Em 2008, a crise internacional trouxe um choque externo de confiança. Naquele momento, o governo agiu certo e recuperou rápido a economia por meio do estímulo ao consumo.
O governo errou ao mudar o rumo da política fiscal, diz:
— Em 2014, a economia brasileira capotou e criou-se um clima de que a situação do país era um desastre, de que a inflação era excessivamente alta e de que um ajuste fiscal duro era necessário. Houve então um choque de juros, um realinhamento de tarifas e um corte de gastos de mais de R$ 100 bilhões. Tudo isso reduziu a renda da população, a atividade econômica e a arrecadação. Se Keynes (John Maynard Keynes, economista britânico que defendia o uso de medidas fiscais e monetárias para mitigar efeitos de crises econômicas) estivesse vivo, morreria.
Para Belluzzo, a saída para a crise é o investimento público.
— A visão do ministro Joaquim Levy (da Fazenda) é de que se você fizer um ajuste, você desperta o espírito animal dos empresários, e eles fazem o que o governo não vai fazer mais. Mas nada está ocorrendo. Falta uma política de crescimento que estimule os investimentos em infraestrutura, não apenas privados, mas públicos. Sem investimento público, o país não vai sair do buraco.
Ele critica as decisões da presidente Dilma Rousseff:
— Outro problema é que o Brasil está num desarranjo institucional muito grande. A presidente está fragilizada politicamente e respondendo ao TCU de maneira inadequada. Ela toma uma decisão errada atrás da outra. Não sei como vai ficar a imagem do Brasil no exterior, mas, internamente, vai ser desastroso. Pode ter escola que vai ficar sem luz. Eu só acredito numa saída, num arranjo entre as forças para fazer uma política de crescimento que estimule os investimentos.