Zé Carioca: o estereótipo eternizado
Diário da Manhã
Publicado em 29 de outubro de 2015 às 23:07 | Atualizado há 4 mesesUma ideia, uma mensagem e uma representação imagética, não se cria do dia pra noite. Para a construção de um estereótipo duradouro e que alimente de fato os preconceitos das pessoas, é necessária uma sutil e gradativa montagem. Os desenhos animados, assim como os quadrinhos, ajudaram a criar durante o passar das décadas esses imaginários coletivos, a respeito de povos e populações de países inteiros.
O Zé Carioca, simpático personagem que encarna a representação dos brasileiros no universo Disney, não foge desse padrão. O papagaio verde, com o bico amarelo e roupas que remetem ao folclórico malandro do Rio de Janeiro. Está sempre se metendo em problemas que ele mesmo causa ou sofrendo retalhações pelo seu estilo de vida vagabundo e preguiçoso,ele acaba escapando das situações com o clássico “jeitinho” característico ou mesmo dando o golpe.
Não é a primeira vez que os desenhos animados, traçam visões preconceituosas de personagens fora da cultura norte americana hegemônica. É uma forma eficaz de perpetuar na mente das crianças, desde muito novas, a superioridade dos americanos perante os demais povos do mundo. Por exemplo os mexicanos, em sua maioria são retratados como sujos, preguiçosos, bêbados ou ladrões.
No Pica Pau(Woody Woodpecker), um clássico da animação infantil, o pássaro que ostenta um corpo azul com o topete vermelho, não por acaso as cores da bandeira dos EUA, sempre está sacaneando, humilhando e até mesmo enganando os personagens com traços de imigrantes. Nem os índios nativos, escapam da ira da ave travessa. Até mesmo os vizinhos europeus, sofrem com os esteriótipos construídos, como o eternamente zoado, Leôncio (Wally Walrus
Evolução
Em 1941, Walt Disney visitou alguns países América Latina. Ele estava basicamente, ostentando sua fortuna pelas praias e ruas do Rio de Janeiro, participando de luxuosas festas de Carnaval, regadas a pingas e mulatas (padrão exportação). O objetivo do governo americano era reforçar a política de boa vizinhança.No Rio de Janeiro, Disney conheceu o cartunista J. Carlos, que foi inspiração para a criação do personagem Zé Carioca. O papagaio brasileiro foi criado para o filme Alô, amigos, de 1942. Era um desenho que mostrava a América do Sul e o Zé introduziu o Pato Donald em terras brasileiras. Ao som de Aquarela do Brasil,Tico-tico no fubá, eles beberam cachaça e sambaram juntos, e o filme popularizou as duas músicas no exterior. Três anos depois, o papagaio apareceu novamente em Você já foi à Bahia
A primeira aparição do personagem em uma história de quadrinhos brasileira aconteceu em 1950. Ele apareceu na capa de “O Pato Donald” #1, que marcou a estreia da editoria Abril. Jorge Kato foi o primeiro brasileiro a desenhar o personagem, em 1953. O desenho foi usado em outra capa da revista “O Pato Donald”.
Na primeira HQ, publicada em 1942, Zé morava no barraco de uma favela qualquer. Depois, ele passou a residir numa casa, em um bairro não identificado. Passado algum tempo, voltou a morar num barraco, desta vez no morro. Só então foi para a famosa Vila Xurupita, de onde não saiu mais.
Na década de 60, não havia mais material do Zé Carioca para ser publicado. Isso fez com que a editora Abril adaptasse histórias do Mickey e do Pateta com o personagem brasileiro. Nelas, alguns personagens eram substituídos pelo Zé Carioca. Foi nesse mesmo esquema que surgiram Zico e Zeca, sobrinhos do Zé Carioca. Eles substituíram Huguinho, Zezinho e Luizinho. Os mais observadores podem reparar que sempre há um espaço sobrando, correspondente ao terceiro sobrinho. Outra curiosidade do enredo, é o time de futebol de Zé Carioca, que se chamava Vila Xurupita Futebol Clube. Sua sala de troféus não tinha nada, além de teias de aranha.
Nos anos 70, quando a revista passou por uma reformulação para adquirir uma identidade mais brasileira, seus exemplares chegaram a vender mais que os do Pato Donald. Em abril de 2000, o Zé Carioca ganhou uma graphic novel de 84 páginas, com o título “Zé Carioca – especial Brasil 500 anos”. Ele era o único personagem da Disney que ainda não tinha uma.
Personagens
O cenário de suas histórias é, na maioria das vezes, a dita Vila Xurupita, no Morro do Papagaio, local onde mora, não precisamente apontada, mas tida pelas demonstrações, como um bairro humilde suburbano do Rio, com vários referenciais para ser uma favela, embora próximo de bairro rico, onde mora sua namorada.
Alguns personagens eram característicos nas histórias do papagaio Zé Carioca. Seguem eles: