A união entre guitarras, computadores e depressão
Diário da Manhã
Publicado em 6 de outubro de 2015 às 23:38 | Atualizado há 4 meses
Os anos 1990 ficaram eternizados pelo início da presença marcante dos computadores em várias atividades do cotidiano humano. A banda britânica Radiohead, que surgiu na mídia por volta de 1993 e chamou a atenção mundial por entoar em temas como alienação moderna e existencialismo urbano, trazendo novidades eletrônicas, além da influência da internet em suas composições. As guitarras tiveram que ceder: a música eletrônica estava escancarada diante dos músicos, pedindo para que suas inúmeras possibilidades fossem exploradas.
Incansavelmente associada à melancolia, a banda Radiohead carrega junto com seus membros uma áurea de revolta anti-bullyng, questionando comportamentos considerados comuns em oposição à sensibilidade humana daqueles que são taxados como estranhos diante da competitividade juvenil do período escolar. Thom Yorke nasceu com o olho esquerdo paralizado. Submeteu-se a mais de cinco cirurgias corretivas e mesmo assim ficou com seu característico “olho caído”, fato que resultou em vários apelidos em seus tempos de escola.
Thom começou a tocar guitarra aos 11 anos, quando viu-se inspirado pelo guitarrista Brian May, da banda Queen. A primeira formação do Radiohead surgiu em 1985 com o nome de ‘On a Friday’ (em português, Numa sexta-feira), pois os membros da banda estudavam em universidades diferentes e só tinham a sexta-feira livre para ensaiar. Depois de vários anos de experiências tocando em conjunto, mudaram o nome da banda para Radiohead, inspirados por uma canção da banda de new-wave Talking Heads, liderada por David Byrne.
Reconhecimento
O primeiro sucesso da banda foi o hit ‘Creep’, lançado juntamente ao primeiro disco, ‘Pablo Honey’ em 1993. A música foi considerada bastante pesada para o circuito pop, com versos como “eu sou um verme, sou uma aberração”, que refletiam a pressão da busca por sucesso financeiro, social, amoroso, estético, etc. A banda, à época, inspirava-se principalmente em artistas como o cantor Scott Walker e a banda R.E.M., e lançava temas introspectivos e pessimistas, bastante diferente dos hits do início da década, entoados pelos rockeiros sombrios, porém enérgicos, do estilo ‘grunge’ com nomes como Kurt Cobain, da banda Nirvana.
Depois do sucesso de ‘Creep’, lançaram o disco ‘The Bends’, em 1995, chamando a atenção para a canção ‘Fake Plastic Trees’, que enfatizou o poder e tecnica de Thom Yorke em seu falsete. A revolução eletronica chegou em 1997, com o disco OK Computer, considerado bastante complexo para a época, tanto pelas letras quanto pelos arranjos e composições melódicas. O álbum ainda hoje chega a ser considerado o melhor disco de todos os tempos, como no site Rate Your Music, onde supera clássicos como ‘Revolver’, dos Beatles ou ‘Dark Side of The Moon’, do Pink Floyd. Quando menos, é considerado o melhor dos anos 1990, em sites como Pitchfork. Destaque para as canções “Paranoid Android” e “Karma Police”.
A partir de OK Computer, o Radiohead passou a ser considerado uma dos melhores grupos musicais do mundo, influenciando grupos como Coldplay e Muse, que conseguiram bastante sucesso comercial. Em 2000 veio o disco Kid A, uma evolução sintética por misturar elementos de música clássica, rock e arranjos eletrônicos. As letras passaram a ser ainda mais intimistas e ao mesmo tempo políticas. Todos os membros da banda leram, durante as gravações do disco, o livro ‘Sem Logo’, da escritora Naomi Klein, que reflete o poder da publicidade na economia mundial no início dos anos 2000. Por muitos sites especializados em música, Kid A é considerado o melhor disco da década de 2000, o que confirma a hegemonia técnica da banda por 2 décadas seguidas.
Nos anos seguintes, o Radiohead lançou mais 4 discos. Em 2001, ‘Amenisiac’, uma espécie de “Lado B” do disco Kid A. Em 2003 saiu o álbum ‘Hail to The Thief’, em português, ‘Saudações ao ladrão’, coincidentemente lançado paralelamente à posse de George W. Bush no governo dos Estados Unidos em eleição suspeita. Em 2007, lançaram virtualmente ‘In Rainbows’, inovador por oferecer o esquema ‘pague o quanto achar que vale’. O último trabalho da banda, ‘The King of Limbs’, chegou em 2011, embalado pelo clipe de “Lotus Flower”, que trazia uma excêntrica coreografia do vocalista.