Opinião

Cooptado pela indignação (a respeito de acontecimentos na cultura)

Redação

Publicado em 26 de agosto de 2015 às 22:12 | Atualizado há 10 anos

Não é só o tempo que atualmente nos castiga em todo o Estado de Goiás, como parte central de um País tórrido. A secura nunca foi tanta. Mas é também o homem em seu meio que nos espanta com suas irradiações bizarras, distoantes e malígnas. Nunca vimos tanta miséria humana frente à riquezas que se acumulam sem pudor – e, por causa delas, tantas reputações ao chão.

Na gestão pública da cultura em Goiás, então, a casa que não se estabiliza, pasmem, é acodida por vigas tortas, apenas para conseguir manter o que tem funcionado de raspão – e isso já é dado como suficiente. Até quando vai durar? Parece que foi ontem que se prometia fazer em Goiás a melhor gestão cultural do Brasil (o que implica todas as outras).

Ao que parece, chegou a inevitável hora de zerar a partir da ótica da agilidade e do bem, deixando o avarez e a preguiça para lá, mas onde está o parâmetro? Em que base se apoiar para ter a visão isenta de interferências e o enquadramento certo no seu tempo e lugar?

Se é esperar muito, isso há de findar. A nossa esperança é firme e sempre se renova, pois temos gente de peso nesta empreitada (a do bem). O governador Marconi Perillo é um deles.

Marconi, do alto do posto que a cada dia mais lhe parece pertencer naturalmente, não deve nada a ninguém, é certo, mas deve muito à sua biografia, para que ela honre a projeção sem igual que já se faz de sua memória. E, com isso, honre também o alter ego da massa de seus sucessivos eleitores (afinal, somados em sua exuberante e invicta carreira de turnos e re-turnos, ele já pode contabilizar cerca de 20 milhões de votos).

O caminho percorrido por Marconi até aqui o coloca à frente de todos os homens públicos de Goiás, só comparável a Pedro Ludovico. Mas se este fundou verdadeiramente um ‘novo tempo’ no Estado, corroborado pela mudança da Capital, o ‘tempo novo’ prometido por Marconi Perillo desde seu muito bem-vindo primeiro governo sofre com recaídas de gente que está dentro dele, como bacilos apodrecendo o hálito.

É inegável que chegou a hora de passar a régua no Brasil, e o Goiás do Marconi tem dado exemplo saindo na frente. A cultura, como área do simbólico e do imaterial, bem poderia servir de guia, mas mostrar o quê? E para que lado? Basta olhar com a lupa do bom senso e vemos que nela atuam pessoas no estilo carrapatoso, de se grudar na veia, e que desde lá atrás vêm olhando as cartas e ganhando chamamentos, assovios e editais.

Às portas de o governo dar um novo salto, ampliando parcerias com a modernidade de gestão que as O.Ss podem dar, eis que é preciso mastigar este presente que vem do passado gordo ainda do tempo das Oscips em que donos laranjas, abacaxis e jabuticabas se resfregam realizando eventos que de dois em dois, aditados e multiplicados, podem já ter chegado a meia centena de milhões de reais. Do meu e do seu.

Uma das estratégias de escolhas das “sempre as mesmas” é colocar no edital que para fazer este ou aquele evento a entidade pleitiante tem que ter feito… este ou aquele evento. Você não leu errado. Isso quer dizer que não há possibilidade de surgimento de outros agentes, pois a roda está fechada. Quem fez, continua fazendo. Os outros, que continuem olhando. E depois ainda dizem que é um “chamamento público”.

Não sabemos exatamente desde quando isto começou a acontecer, mas nas contas do governo estadual gerido pelo baixo clero o tal “chamamento público” obviamente que não é tão ‘público’ assim, pois se dirige, às claras, àqueles que são mais públicos que os outros.

A medida em vigor (constatada em todos os recentes editais na cultura) é um proponente poder ser duas ou três vezes mais ‘público’ do que o outro, evidenciando por pontos ganhos um comportamento do “ponha-se no seu lugar, pois eu sou mais ‘público’ que você”.

Como resultado, há casos que antes mesmo de se sagrarem no edital os vencedores já iniciam o trabalho no que sabe-se será deles (O Fica foi assim, com ao menos um importante consultor pré-aclamado pela própria secretaria que publicou o edital – ver O Popular 03/06. O mesmo para a chamada da Orquestra Filmarmônica, cujo vencedor já se encontrava em plena atividade antes mesmo de se inscrever).

Outros carrapichos que insistem em grudar no ‘tempo novo’ é o ganho planejado à moda petista, isto é, na certeza da impunidade. De outra forma, como explicar (falando ainda na cultura) o comportamento de pessoas gerentes em importantes funções que se imiscuem no privado levando para o ralo a coisa pública?

Um freio a esta situação de casebre ruindo parece que foi dado com o recente tiro de canhão que a atual supersecretaria da educação, cultura e esporte deu para matar formigas avançando sobre as migalhas da mesa. Mas não. Acertou em que não devia. E, para limpar a bucha, chamou tanajuras.

E o que dizer se ela própria, a supersecretaria, incorre na contradição do que faz e como faz e declara aos quatro ventos que é pessoalmente contra a prática da descentralização proposta desde sempre pelo ‘tempo novo’ (ainda quarando) e fruto da visão alargada do atual governador? Pelo menos ela não tem as mãos sujas. Contra ela, só a história.

Entre tantos exemplos de que aqui falo tão pouco (a cultura é um veio farto a se garimpar), como pode o ‘tempo novo’ se sedimentar e, como fez Pedro, finalmente virar uma página branca para nova escrita de Goiás, com tantas contradições? Ao governador, boi de cabeceira, a tarefa de encontrá-las e podá-las antes que o canteiro fertilizado por suas boas intenções fique tomado por ervas daninhas ocultando a florada e os brotos.

 

(Px Silveira, presidente do Instituto ArteCidadania)

Tags

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias