História da beleza e da feiura – Parte II
Redação
Publicado em 4 de agosto de 2015 às 21:48 | Atualizado há 10 anosNo intuito de uma leitura sistemática, cautelosa, prossigo a leitura panorâmica de História da Beleza e da Feiura, organização Umberto Eco. Depois de rica introdução, seguem bonitos quadros comparativos mostrando impactantes imagens, dentre outras, de Vênus nua, Adônis nu, Vênus vestida, Adônis vestido, rosto e cabeleira de Vênus, rosto e cabeleira de Adônis, Maria, Jesus, o Rei, a Rainha e estudo das proporções estéticas. São dezessete ricos e impressionantes capítulos. No primeiro, a Beleza é realçada pelo ideal estético da Grécia Antiga, mostrando o coro das Musas, a Beleza dos artistas e dos filósofos. No segundo, Apolíneo Dionisíaco, com os deuses de Delfos e dos gregos a Nietzsche. No terceiro, a Beleza como proporção e harmonia, já considerando bela uma coisa bem proporcionada, aparecendo o número, a música e outros tantos aspectos necessários ao estudo da Beleza.
No quarto, a lua e a cor na Idade Média, rico período de informações em torno do estudo da Beleza, a serem vistas em vários ângulos daquele tempo aparentemente obscuro da chamada “idade das trevas”, onde Deus chegou a ser personificado como luz e só o estudo do simbolismo das cores vale o livro. Em a Beleza dos monstros, quinto capítulo, há representação do feio polêmico, mas que tem sua Beleza e outros tantos dimensões, às vezes lendários, de que ele se deriva, como a dor, de todo modo, por estranho que pareça, deixando o seu lado bonito.
Da pastorinha à mulher angelical, começo a vislumbrar o amor sacro e o amor profano, a presença de filósofos, teólogos e místicos, da Idade Média, todos os homens da igreja, no mais pleno moralismo, forçados, a bem dizer, a conhecer o texto bíblico, a sua Beleza, como a alegórica, presente no livro Cântico dos Cânticos, onde a beleza feminina não estava de todo adormecida.
A Beleza mágica entre os séculos XV e XVI, entre invenção e imitação da natureza, sempre sensível, na imagem de Venus ou não. Damas e heróis, capítulo caracterizado pela Beleza de um corpo, teórico ou prático, em textos significativos, onde se destacam as incríveis imagens das mulheres, sem poder omitir os heróis em que os homens, renascentistas, parece querer ser o centro do mundo, imaginando alcançar “orgulhosa potência”, revelando-se vários deles.
Da graça à Beleza inquieta, instigante capítulo, mostrando uma Beleza subjetiva múltipla, típica da chamada “Grande Teoria”, segundo a qual a “Beleza consiste na proporção das partes”, emergindo conceitos de Beleza como “formosura”, a “graça”, o melancólico, a justa Beleza feminina, o Maneirismo, que também me convencem a fazer outra leitura, decerto mais proveitosa. A razão e a Beleza, no século XVIII, com dialética, rigor, liberação, palácios, jardins, classicismo, neoclassicismo, heróis, corpos, novas ideias, novos temas, mulheres e paixões.
O Sublime, com uma nova concepção do belo, na natureza, em Kant e o “gótico” na literatura. A Beleza romântica, cheia de características, sem tempo bem definido, inclusive “vaga de não sei quê”, de certo modo, ainda presente. A religião da Beleza, com o “dandismo”, ainda exigindo nova leitura. O que seria? O novo objeto, com sólida Beleza vitoriana, mostrando que a ideia de Beleza não é relativa, pouco importando as épocas históricas. A Beleza das Máquinas, da fase intensamente industrial. Das formas abstratas ao profundo da matéria à Beleza da mídia da provocação ou Beleza do consumo, com suas características recentes que, certamente, estressando ou não, é a dos nossos dias, depois de passar pelas modernidades do século passado.
Enfim, na tentativa de saber o que é a Beleza, Guilherme de Conches, na contracapa do livro citado, pontifica: “A Beleza do mundo é tudo aquilo que aparece em seus elementos singulares como as estrelas no céu, os pássaros no ar, os peixes na água, os homens sobre a terra.”
(Martiniano J. Silva, advogado, escritor, membro do Movimento Negro Unificado (MNU), da Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes, AGI, mestre em história pela UFG, professor universitário, articulista do DM ([email protected])