Opinião

Mario Vargas Llosa tornou-se vítima de seus próprios escritos

Redação

Publicado em 6 de julho de 2015 às 23:56 | Atualizado há 10 anos

“Eu morava em Londres, em 1989, quando surgiu a versão inglesa da revista ¡Hola!, Hello!, e vi com meus próprios olhos a vertiginosa rapidez com que aquela criatura jornalística espanhola conquistou a terra de Shakespeare. Não é exagerado dizer que a revista ¡Holla! e seus congêneres são os produtos jornalísticos mais genuínos da civilização do espetáculo.

Transformar informação em instrumento de diversão é abrir aos poucos as portas da legitimidade para aquilo que, antes, se confiava num jornalismo marginal e quase clandestino: escândalo, deslealdade, bisbilhotice, violação da privacidade, quando não – em casos piores – difamações, calúnias e notícias infundadas.

Porque não existe forma mais eficaz de entreter e divertir do que alimentar as paixões baixas do comum dos mortais. Entre estas ocupa lugar de destaque a revelação da intimidade do próximo, sobretudo se figura pública, conhecida e prestigiada. Este é um esporte que o jornalismo de nossos dias pratica sem escrúpulos, amparados no direito à liberdade de informação.”

A brilhante reflexão acima foi extraída de um dos últimos livros: A Civilização do Espetáculo – de um dos meus escritores favoritos. Trata-se do prêmio Nobel de 2010, Mario Vargas Llosa.

O autor do célebre Conversa na Catedral vive, hoje, um inferno astral ante a invasão da sua privacidade provocada por revistas como a ¡Holla! e a imprensa televisiva do mundo hispânico. Motivo: após ter comemorado 50 anos de casamento com sua prima Patrícia, o escritor decidiu pôr um fim nessa união por estar completamente enamorado pela socialite espanhola nascida nas Filipinas, Isabel Presyler.

Dona, digamos, de uma movimentada vida amorosa, Isabel foi a primeira esposa do cantor Júlio Iglesias. Dessa união, nasceram três filhos, sendo o mais famoso o cantor Enrique Iglesias. Já separada de Júlio Iglesias, Isabel voltou a casar-se com um nobre espanhol. E separou-se dele para contrair novo matrimônio com o ex-ministro da Fazenda do governo Felipe Gonzalez, Miguel Boyer.

Com a recente morte deste, floresceu o relacionamento entre a mãe de Enrique Iglesias e Mario Vargas Llosa. Um casal famoso e midiático, eis aí um “prato cheio” para a chamada imprensa rosa do mundo hispânico da qual tanto comenta Vargas Llosa em seus escritos.

Pasme: a imprensa rosa espanhola chega a promover debates e não dá sossego para a Vargas Llosa e sua família. Chega ao cúmulo do absurdo de dar plantão na porta do apartamento da família em Madri. Passada a paixão baixa do comum dos mortais pela vida alheia , o espetáculo passará, o que continuará grandiosa é a obra de Mario Vargas Llosa para o deleite desta e das futuras gerações.

 

(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento, autor, entre outras obras, do livro Cheiro de Biblioteca)

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