Caiado e Demóstenes numa briga de moleques
Redação
Publicado em 2 de abril de 2015 às 02:20 | Atualizado há 10 anosRosenwal Ferreira,Especial para Diário da Manhã
Eu entendo o desabafo do ex-senador Demóstenes Torres, um político que elogiei em diversas ocasiões. Estou convicto que sua cabeça foi colocada na guilhotina para aclamar a opinião pública e encobrir a participação de gente graúda num atoleiro em que poucos sairiam ilesos. Ele foi a única vítima de uma sórdida confraria de interesses escusos, no esgoto de propinas, doações irregulares e acertos impublicáveis, envolvendo partidos de todos os matizes. Em Goiás, até as crianças que brincam no parque já escutaram histórias difundidas da igreja do bairro às casas de striptease.
O que eu não concordo, porque desmerece o conteúdo sério das acusações contra o senador Ronaldo Caiado, é a linguagem pueril, os adjetivos que lembram brigas do cais do porto num confronto típico de moleques de rua. Demostenes é um homem culto, um orador fecundo, capaz de alinhar pensamentos com virilidade intelectual.
Resolver desavenças viscerais profundas no “braço, na faca e no revolver”. Segundo consta, tomando emprestado palavras do próprio Caiado, desafiando para ver se “você é homem mesmo. Nos mesmos termos que você mandou oferecer ao frouxo Marconi Perilo”. Nivela os protagonistas por baixo.
Não me parece factível e passa um péssimo exemplo, que os protagonistas marquem um encontro para medir forças no mais absoluto estilo gangues de rua.
Eu não duvido que Ronaldo Caiado tenha usado os temos rudes mencionados por Demóstenes. O seu ponto fraco mais visível, num histórico que nunca fez bem a sua condição de médico, sempre foi a têmpera belicosa, a agressividade latente, atitude que não condiz que seus atuais cabelos brancos.
O circo, que se alimenta da zanga, das rixas com ares de novela, se delicia colocando frases amargas em destaque. Mau-caráter daqui, bandido de lá, vagabundo, fingido, bicheiro, bravateiro, os impropérios representam o néctar que fazem a festa da galeria em delírio. Que eles se matem, é o desejo de muitos.
Enxergo tudo isso com tristeza. Não acredito que essas posições, no formato que tomaram, possam ser úteis. O mestre Batista Custódio, clássico em seus artigos fulminantes, é um exemplo de que é possível denunciar, criticar e mostrar tutano, sem resvalar pelo ralo da mediocridade. O ódio e o ego machucado nunca foram bons conselheiros.
(Rosenwal Ferreira, jornalista)