Luiz Gonzaga Belluzzo: ‘Sem crescer, não vai acontecer nada’
Diário da Manhã
Publicado em 6 de janeiro de 2016 às 04:10 | Atualizado há 9 anosBRASÍLIA – Para o professor da Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzzo, sem crescimento, nada acontece no Brasil. No máximo, a queda pode não ser tão rápida. Segundo ele, o país deve explorar FGTS e buscar alternativas, como financiamento do banco do Brics.
Há espaço fiscal para tomar medidas de incentivo à economia?
Dificilmente, com essa queda violenta do PIB, você vai conseguir fazer o ajuste fiscal. Há uma espécie de consenso de que é preciso acertar as contas primeiro. O pessoal aplica essa noção de economia doméstica, não pode. Foi o que aconteceu com a Dilma, ela ficou assustada com a pressão dos mercados financeiros, chamou o (Joaquim) Levy e eles fizeram o ajuste. Deu resultado? Não. Quando eu vi que o Brasil ia fazer um ajuste dessa maneira simplória e ajudado ainda pelo choque de juros, que está levando a dívida pública aos píncaros, sem ter algum elemento de crescimento… Sem crescer não vai acontecer nada. Não acontece nada. Você no máximo pode não cair rapidamente, como está agora. O Nelson Barbosa tem uma tarefa muito dura que é de conseguir isso sem deixar que o mercado comece a se comportar como (se houvesse) uma ameaça de rompimento.
É possível adotar medidas de estímulo ao crescimento sem impacto fiscal?
Não há condições de ter um impacto fiscal diretamente, mas você pode recorrer aos fundos concentrados, do FGTS, do FAT, dirigi-los para o investimento, para o gasto em infraestrutura. Chamar o banco dos Brics, nós somos sócios, temos capacidade alta de alavancagem. Você pode se valer dele para ajudar a recuperação do investimento em infraestrutura.
O governo tem sinalizado disposição em realizar grandes reformas: trabalhista e na Previdência Social. Há chances de se aprovarem essas reformas este ano?
Vai ser complicado, pois vai ser preciso debater com os que vão ser objeto das reformas. É razoável pensar na idade mínima (para aposentadoria), mas tem que se discutir corretamente o déficit da Previdência. Isso tem que ser feito conversando com quem vai ser atingido, assim como na reforma trabalhista. Eu sei que muitos sindicatos concordariam com a livre negociação, mas isso tem que ser debatido. Até porque no mundo todo o mercado de trabalho está mudando. Como as sociedades vão lidar com isso? Não é uma coisa simples. Tem que ser muito bem discutido.