Odonto Destaque
O Perigo das Bebidas Energéticas para a Saúde Bucal
DM Redação
Publicado em 21 de abril de 2025 às 15:48 | Atualizado há 4 dias
Por Daniella Mendonça
Nos últimos anos, o consumo de bebidas energéticas cresceu de forma alarmante, especialmente entre jovens e adultos que buscam um aumento imediato de energia e concentração. Esses produtos, amplamente comercializados e consumidos sem grandes preocupações, carregam um perigo silencioso para a saúde bucal. Como dentista, vejo diariamente os impactos desse consumo na qualidade dos dentes e gengivas de meus pacientes. E posso afirmar: os danos são reais e muitas vezes irreversíveis.
A promessa de energia instantânea das bebidas energéticas esconde um alto teor de açúcares, ácidos e cafeína, uma combinação prejudicial para a boca. Estudos mostram que essas bebidas possuem um pH extremamente ácido, muitas vezes inferior a 3, o que acelera a erosão do esmalte dentário. Para se ter uma ideia da gravidade, a escala de pH vai de 0 a 14, sendo que qualquer substância abaixo de 5,5 já começa a dissolver a camada protetora dos dentes. Com o tempo, essa erosão leva à sensibilidade, ao amarelamento e à fragilidade dos dentes.
Além disso, os açúcares presentes nessas bebidas servem de alimento para as bactérias cariogênicas, responsáveis pela formação de cáries. Quando ingerimos um energético, essas bactérias fermentam o açúcar, liberando ainda mais ácido, agravando o desgaste do esmalte. O resultado? Um ambiente perfeito para a rápida progressão da cárie e o surgimento de infecções bucais.
Mas o problema não para por aí. A cafeína, principal componente desses produtos, afeta diretamente a produção de saliva. A saliva é fundamental para a neutralização dos ácidos na boca e para a proteção contra bactérias. Quando seu fluxo diminui, a boca fica mais seca, aumentando o risco de doenças gengivais como gengivite e periodontite, que podem evoluir para a perda dentária. A chamada xerostomia, ou boca seca, é um efeito colateral comum do consumo excessivo de cafeína, e seu impacto na saúde bucal é devastador.
Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) revelou que indivíduos que consomem energéticos regularmente apresentam um desgaste dentário até cinco vezes maior do que aqueles que não consomem. Outro estudo publicado no Journal of the American Dental Association apontou que a erosão dentária causada por energéticos pode começar a ser visível após apenas cinco dias de consumo frequente.
A questão se agrava quando analisamos o público consumidor desses produtos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), jovens entre 15 e 24 anos representam a maior parcela dos consumidores de energéticos no mundo. E sabemos que, nessa faixa etária, a conscientização sobre a saúde bucal nem sempre é uma prioridade. Muitas vezes, os danos só são percebidos quando a situação já está avançada.
Diante desse cenário, é fundamental adotar medidas preventivas. Se o consumo de energéticos for inevitável, algumas estratégias podem minimizar seus danos:
1.Uso de canudo – Para reduzir o contato direto da bebida com os dentes.
2.Enxágue com água – Para ajudar a neutralizar o pH e eliminar resíduos ácidos.
3.Evitar escovação imediata – O esmalte amolecido pela acidez precisa de um tempo para se reestabelecer antes de ser escovado.
4.Acompanhamento odontológico – Consultas regulares ao dentista ajudam a detectar danos precoces e prevenir problemas maiores.
Como profissional da odontologia, minha preocupação não é apenas com a estética do sorriso, mas com a saúde a longo prazo dos meus pacientes. O consumo desenfreado de bebidas energéticas pode parecer inofensivo agora, mas seus efeitos cumulativos são devastadores. Precisamos falar mais sobre isso e educar a população para que faça escolhas conscientes.
Se queremos preservar a saúde bucal das próximas gerações, a conscientização deve começar agora. Afinal, um sorriso saudável não depende apenas da escovação, mas também das escolhas que fazemos todos os dias.