Saúde

Desigualdade e mortes maternas por hipertensão no Brasil

Redação DM

Publicado em 21 de abril de 2025 às 16:05 | Atualizado há 4 horas

A mortalidade materna por hipertensão no Brasil continua a ser uma preocupação alarmante, evidenciando um grave problema de desigualdade no acesso à saúde. Um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revelou que, entre 2012 e 2023, as taxas de óbito entre mulheres indígenas e negras eram significativamente mais altas em comparação com mulheres brancas, um reflexo das disparidades sociais que permeiam o sistema de saúde brasileiro.

Contexto alarmante

Durante os 11 anos analisados, quase 21 mil mulheres perderam a vida devido a complicações durante a gravidez, parto ou puerpério. Dentre essas, aproximadamente 3.721 mortes foram causadas por hipertensão, um número que representa 18% do total. Embora a taxa geral de mortes no Brasil seja inferior ao limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), os índices ainda estão muito acima dos de países desenvolvidos, que apresentam taxas de 2 a 5 mortes para cada 100 mil nascimentos.

Fatores de risco

Os pesquisadores alertam que não existe uma predisposição biológica para que mulheres de grupos raciais minoritários apresentem maior mortalidade devido a distúrbios hipertensivos. Em vez disso, fatores como pobreza, falta de educação e barreiras no acesso aos cuidados de saúde são determinantes críticos. Além disso, o viés racial no sistema de saúde pode resultar em cuidados desiguais e em interações negativas com profissionais da saúde, criando um ciclo de desconfiança que impacta diretamente os resultados maternos.

O professor José Paulo Guida, um dos autores do estudo, enfatiza que o início precoce do pré-natal é essencial para a prevenção de complicações. Infelizmente, muitas mulheres, especialmente aquelas que residem em áreas remotas, começam o acompanhamento na 16ª semana de gestação, um atraso que pode ser fatal.

A importância da prevenção

Medicações acessíveis como o carbonato de cálcio e o ácido acetilsalicílico (AAS) têm mostrado eficácia em reduzir complicações, especialmente quando administradas antes da 16ª semana de gestação. Recentemente, o Ministério da Saúde do Brasil recomendou a prescrição de cálcio para todas as gestantes, mas o acesso a esses medicamentos ainda é um desafio em muitas regiões.

Além disso, o estudo apontou que mulheres acima dos 40 anos enfrentam riscos aumentados, com a taxa de mortalidade nesse grupo alcançando 31 mortes para cada 100 mil nascimentos. Isso se deve, em parte, à presença de condições pré-existentes, como hipertensão e diabetes, que agravam as complicações durante a gravidez.

É crucial que os profissionais de saúde sejam treinados para identificar sinais de alerta, como dores de cabeça persistentes e inchaços, que podem indicar complicações. A implementação de protocolos de atendimento adequados pode salvar vidas e melhorar a saúde materna em um país onde a desigualdade ainda prevalece.


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