Cia. Teatral Martim Cererê homenageia dramaturgo Marcos Fayad
Marcus Vinícius Beck
Publicado em 28 de maio de 2023 às 22:53 | Atualizado há 2 anos
O dramaturgo Marcos Fayad, falecido em 2019 após lutar contra câncer, será homenageado pela Cia. Teatral Martim Cererê no musical “Puro Brasileiro” durante o 18º TeNpo–Mostra de Teatro Nacional de Porangatu, realizado entre os dias 1° e 4 de junho, no município do norte goiano. Uma das peças mais aguardadas do festival, o espetáculo utiliza-se do bom humor tipicamente caipira e possui 16 canções do repertório sertanejo, dentre as quais sucessos populares compostos de 1920 até 1970, época de ouro do cancioneiro raiz.
Destacam-se em cena dois músicos que fazem parte do elenco, Ney Couteiro e Everton Lored. A trilha sonora contribui para desenvolver a narrativa, além dos diálogos de atrizes e atores no palco, como Adriana Veloso, Dionísio Bombinha, Débora di Sá, Liz Eliodoraz, Mozar Ornelas e Tião Sodré. Pela primeira vez, a companhia fundada por Fayad, um artista que dedicou sua vida à arte, encenará espetáculo sem a presença do icônico dramaturgo.
Criador da Cia. Teatral Martim Cererê nos anos 80, Fayad ganhou máximo respeito na cena das artes cênicas em Goiás. Atores o tinham em alta conta e músicos queriam ter obras nas peças do dramaturgo, acreditava no Teatro da Crueldade criado por Antonin Artaud e tinha grande admiração pela obra do filósofo Friedrich Nietzsche, não disfarçava o amor à terra e gostava de falar sobre o sertão. De fato, Marcos Fayad esbanjava sensibilidade.
Era intenso, por vezes polêmico, mas sempre disposto a dar o melhor para fazer arte. Não raro, conseguia extrair o máximo dos atores que dirigia, que o admiravam por mergulhar de ponta em tudo aquilo a que se propunha a fazer. Fixou moradia em Goiânia após retornar do Rio de Janeiro, na década de 1980, cidade na qual havia se graduado em psicologia. Quem o convidou para voltar foi Kleber Adorno, então Secretário Estadual de Cultura.
Na carreira, precisou resistir à falta de recursos. Fez “Martim Cererê” (obra importante para sua carreira), realizou o musical “Puro Brasileiro” (em cartaz por duas décadas) e montou “Cara de Bronze” (baseado na literatura de Guimarães Rosa). Antes de morrer, em abril de 2019, levou aos palcos “Cerimônia”, peça escrita pelo russo Daniil Kharms, cujo vanguardismo foi só aceito na Rússia depois da perestroika, nos anos 1980.
Fayad amava sua gente e, de alguma forma, sempre arranjava um jeito de falar sobre sertão. Sensível e intenso, retratou as belezas do Cerrado, como poucos até hoje fizeram. “Cerrado Celular”, por exemplo, é considerada ousada por ter apresentado o texto embaixo de uma tenda instalada no estacionamento do Shopping Flamboyant, recriado fazenda com cavalos, caracterizado vacas e mostrado peões. Nascido em Catalão e aplaudido no Brasil, falava da modernidade no meio rural. Até o fim, viveu de arte. Homenagem necessária no TeNpo.
Clássicos da literatura marcam programação do TeNpo
Samuel Beckett é, ao lado de Eugène Ionesco, Arthur Adamov, Harold Pinter e Fernando Arrabal, um verdadeiro mestre do chamado Teatro do Absurdo. Cunhada pelo crítico húngaro Martin Esslin (1918-2002) no início dos anos 1960, a expressão identifica peças teatrais que, escritas após a Segunda Guerra Mundial, num cenário de desolação ocasionado pelo conflito bélico, denunciam o clima de solidão e de incomunicabilidade do indivíduo moderno por meio de recursos literários que rompem com as características do realismo.
O público do TeNpo terá chance de assistir a uma adaptação de Beckett feita pelo GrupoArar´arte, de Rio Verde: “À Espera de Godot”. A obra é considerada um clássico do teatro do grupo. Em Goiânia, foi montada pelo grupo Máskara, um dos mais importantes na dramaturgia beckettiana no Brasil. A expectativa reside nos diálogos reflexivos e existencialistas – a primeira encenação ocorreu em 1953, embora a obra tenha saído em 1949.
Em texto encaminhado à imprensa, o GrupoArar´arte diz que, enquanto os mendigos Vladimir e Estragon esperam por Godot, surgem diálogos repletos de reflexões existenciais e questionamentos que permanecem atuais. A primeira vez que “À Espera de Godot” foi encenada no Brasil remonta aos anos 1960, num elenco composto por nomes de peso do teatro brasileiro, como Cacilda Becker, Walmor Chagas, Antunes Filho e Zé Celso.
Em um Brasil calado pela ditadura, o sucesso da espera pelo misterioso Godot, que nunca aparece, era garantia. De fato, Beckett transformou os paradigmas do teatro. Dentre os motivos de “Esperando Godot” ter caído no gosto do público, estão a experiência da solidão, da falta de sentido, da crise do sujeito, da linguagem e dos fundamentos da sociedade, à época sob a ditadura civil-militar, em 1969, o que por si só já era um absurdo à razão.
Outro espetáculo baseado em clássico da literatura é “À Sombra de Dom Quixote”, encenado pelo Coletivo Miasombra, de Goiânia. Adaptação do histórico romance assinado pelo escritor espanhol Miguel de Cervantes, a peça narra o encontro de personagens poéticos com Dom Quixote num cenário ilusório, como se fosse uma fabulação contemporânea análoga à realidade fantástica dos “cavaleiros de tristes figuras”.
Veja quais são os espetáculos regionais do TeNpo
À espera de Godot ─ Grupo Arar’arte (Rio Verde)
À sombra de dom quixote ─ Coletivo Miasombra (Goiânia)
BaluArte Circo Show ─ Circo Limpando o Olho (Uruaçu)
Chapeuzinho Vermelho ─ Grupo Teatral Kuase Normais (Porangatu)
Circo, Magia e Estripulias ─ Circo Lahetô (Goiânia)
Circo Malabariante ─ CiaMalabariante (Goiânia)
Começariatudo outra vez ─ Giro8 Companhia de Dança (Goiânia)
Nofundodopoço ─ Grupo de Teatro Arte & Fatos (Goiânia)
Plural ─ Cia de Teatro Nu Escuro (Goiânia)
Por cima do mar eu vim ─ Núcleo Coletivo 22 (Goiânia)
Purobrasileiro ─ Cia Teatral Martim Cererê (Goiânia)
O mundo de Clarice ─ Coletivo Tônus (Goiânia)